quarta-feira, 31 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (14)]


Depois de, no “post” anterior [(re)ver], ter abordado a nova da sua partida para o Porto, volto à velha notícia da vinda de Camilo para Viana, publicada, no jornal A Aurora do Lima, a 8 de abril de 1857. [(Re)ver]
O mais importante desta velha que deve ser renovada, encontra-se no primeiro parágrafo que, de novo, reproduzo:

Chegou hontem de tarde a esta cidade, vindo do Porto, o nosso particular amigo e collega, o Snr. Camillo Castello Branco, que conta, por motivos de saude residir temporariamente nas amenas e risonhas margens do Lima. Este cavalheiro distinguirá com a sua collaboração as columnas d’este jornal.
[Cf. Barbosa, [1919]: 78-79. Respeitada grafia da versão consultada.
Também em Anselmo, 1989: 16 e 1993: 119.]

Já nesta notícia, tal como na da partida de Camilo para o Porto, o Aurora não fora, prepositadamente, claro na informação. Prepositadamente, porque, num caso como noutro, a sua redação sabia das principais razões ou motivos que levaram o Escritor a agir como agiu.
Com efeito, como disse no “post” publicado em 21/04 [(re)ver], a vinda (apresentada mais como visita) não se devia, apenas ou principalmente, a motivos de saúde. Certo é que o filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco padecia de moléstias físicas e psíquicas. Rara é a carta para José Barbosa e Silva (JBS) em que não se diga estar ou sentir doente. O cavalheiro devia ser hipocondríaco.
Mas vamos ao que ora mais interessa.
Como se verá/lerá, pelas cartas para JBS, Camilo não só não contava apenas residir temporariamente em Viana, como, não era, de facto, somente a partir do dia 8 de abril de 1857, que ele colaboraria no jornal. As razões por que, a meu ver, Camilo trocara o Porto por Viana e, dous meses incompletos depois, Viana pelo Porto, eram de natureza profissional e económica (monetária). E sempre por causa das estreitas relações que mantinha com os irmãos Barbosa e Silva e, através deles, com A Aurora do Lima e seus amigos.
É de lembrar que Camilo, até princípio de 1857, era mais conhecido, sobretudo no Porto, como polémico jornalista e folhetinista literário, com colaboração diversa e dispersa por vários periódicos, de alguns dos quais foi fundador e de outros principal redator. É verdade que, aos 32 anos, feitos a 16 de março desse ano, o Escritor contava já, na sua bibliografia ativa, um significativo número de títulos, publicados, em folheto e/ou livro: poemas, com destaque para os volumes Inspirações (1851), Um Livro - dedicado ao seu dileto amigo JBS [(re)ver)] e Folhas Caídas Apanhadas na Lama (ambos em 1854); peças de teatro, narrativas curtas (contos e novelas); e os romances Anátema (1851), Mistérios de Lisboa, em 3 volumes, e A Filha do Arcediago (ambos em 1854), Livro Negro de Padre Dinis (1855), A Neta do Arcediago, Onde Esta a Felicidade e Um Homem de Brios (todos 1856). E que continuava, além disso, a publicar, em folhetim, narrativas, que depois reuniria na coletânea Duas Horas de Leitura (1857) e romances que, nesse mesmo ano, saíram ainda em livro – Lágrimas Abençoadas e Cenas da Foz.

É de referir que, por ser jornalista (atividade que nunca abandonou), Camilo manifestou sempre a JBS, por um lado, o seu apoio à criação de um jornal em Viana e, por outro, a disponibilidade para nessa folha colaborar. Como se pode ver no recorte epistolar seguinte, datado de 22 de abril de 1852:

Eu cuidei q[ue] o Ecco do Lima não era cousa tua. Se, contra os teus receios, o fizeres sahir do prelo, terei m[ui]ta honra em ser uma vez p[o]r outra la admitido.
{BARBOSA, [1919]: 105. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 57
que, por vez, data a carta de 25/IV]}

O título Eco do Lima não chegou a ver a aurora do dia em Viana. Mas o dia d’A Aurora do Lima haveria de chegar: aconteceu, como se sabe, três anos depois, a 15 de dezembro de 1855. Jornal este de que JBS, recorde-se, foi um dos seus principais cofundadores, coproprietários e redatores.

Apresentarei, nos “posts” seguintes, as relações que, com base nas cartas enviadas ao amigo de Viana, o seu amigo Porto manteve com o mais antigo jornal português ainda em publicação.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

ANSELMO, A., 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 19, de 03/03, p. 1O autor fez publicar, neste jornal, numa série consecutiva de 7 rodapés, num total de 28 pp., o texto referido abaixo, em Anselmo, 1993. A notícia da chegada de Camilo a Viana encontra-se reproduzida na p. 16 do quarto rodapé.
-----------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, L. X., [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.

segunda-feira, 29 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (13)]


Partida. — Regressou esta manhã para o Porto o nosso estimavel amigo e collega, o snr. Camillo Castello Branco, que por espaço de dous mezes honrou esta terra com a sua convivencia comprazedora, affavel e realçada pelos muitos recursos de um subido talento.
O snr. Castello Branco, ausentando-se sem a devida premeditação, encarregou-nos de apresentar, em seu nome, as expressões do seu reconhecimento e respeito, a todas as pessoas que o destinguiram com obsequiosas provas de consideração, deferência e estima, offerecendo-lhes cordialmente os seus serviços no Porto.
Este cavalheiro, retirando-se de Vianna, deixa saudades condignas do seu merecimento. Soube grangear dos seus admiradores o titulo de amigos, e deixa larga roda de affeiçoados que guardarão sempre d'elle sentidas lembranças.
[Cf. Barbosa, [1919]: 80. Respeitada grafia da versão consultada.
O 2.º parágrafo encontra-se em CABRAL, 1984 (I): 160.]


A velha como nova que acabou de ler foi publicada n’A Aurora do Lima, no dia 29 de maio de 1857. Há 160 anos, portanto. Nela se informa que Camilo regressara ao Porto, na manhã desse mesmo dia, sem a devida premeditação. Ou seja, terá sido uma partida súbita e, por isso, inesperada. Daí - pressupor-se-á – o(s) autor(es) da local não se apresentar(em) qualquer razão ou motivo para o facto.
Mas a redação do jornal, pelo menos, já sabia. Em duas cartas que escreveu, nos dias 25 e 27 de maio, respetivamente, aos dois irmãos Barbosa e Silva, José e Luís, as quais transcrevi nos últimos dois “posts” [(re)ver RODRIGUES, 2017j e 2017k], Camilo não só informava os dois amigos, como também justificava o seu adeus a Viana.  Não deveria ser, portanto, para os cofundadores, coproprietários e corredatores do Aurora, pelo menos, uma partida tão sem premeditação.
Assim conviria, contudo, às aparências e conveniências, tanto de uns como de outro. Os elogios e as simpatias mútuas não passarão, por isso, de corteses formalidades. Até porque se deteta, na leitura da nova, um certo desagrado pela partida do estimável amigo e colega. Recorde-se que Luís Barbosa e Silva só responde à carta de Camilo de 27/05, no dia 03/06, data em que o irmão José terá recebido uma carta do amigo do Porto, datada de 02/06. Apresentarei esta carta quando tratar das razões que, em meu entender, levaram o Escritor a regressar ao Porto.
Curiosamente, o Aurora, ao contrário do que noticiou sobre a chegada [(re)ver RODRIGUES, 2017], agora, sobre a partida, não refere as qualidades do abalizado e primoroso escritor, embora lhe realce os muitos recursos de um subido talento e merecimento, que, todavia, não especifica. Além disso, nada diz sobre a sua colaboração nas colunas do jornal, durante os [quase] dois meses em que o sr. Camilo Castelo Branco em Viana viveu.
E quanto aos motivos que, segundo a nova de 08/04, levaram este cavalheiro a tencionar residir temporariamente nas amenas e risonhas margens do Lima, que é dito? Nada. Terá o particular amigo e colega do Aurora recuperado mesmo a saúde?!...
É tempo de regressar, com a devida premeditação, às questões que formulei no “post” de 21/04/2017. [RODRIGUES, 2017a]

Assim, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
RODRIGUES, David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
-----------------, 2017a: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
-----------------, 2017b: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
-----------------, 2017c: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
-----------------, 2017d: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (05): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857velha-como-nova-05.html
-----------------, 2017e: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (06): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-06.html
-----------------, 2017g: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (08): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-08.html
-----------------, 2017h: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (09): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-09-o.html
-----------------, 2017i: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (10): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-10.html
-----------------, 2017j: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (11): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-11-e.html
-----------------, 2017k: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (12): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-12.html

sábado, 27 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (12)]


Também há 160 anos – perfazem-se hoje, precisamente – estando ainda em Viana, para onde tinha vindo a 7 de abril de 1857 [(Re)ver RODRIGUES, 2017], Camilo escreve a Luís Barbosa e Silva (LBS), irmão de José Barbosa e Silva (JBS), a carta que a seguir reproduzo.


MEU CARO LUIZ B[ARBOSA].

Recebe o meu saudoso adeus.
Parto n’esta semana p[ar]a o Porto.
Ali me tens ancioso das tuas ordens.
Não pude vencer a saudade, picada pelas incommodid[ad]es em q[ue] vivo aqui. Isto ainda não está para mim, meu caro Luiz. O coração, ou o habito podem muito.
Ad[eu]s.
Teu do c[oração]
   27 de Maio
       57.
Camillo C. Br[an]co.
{BARBOSA, [1919]: 47. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (II): 130]}

Carta evidentemente breve e mesmo lacónica. De despedida e cortesia. Camilo já saberia que JBS, a quem enviara, dois dias antes, a carta que transcrevi no “post”anterior [(Re)ver RODRIGUES, 2017j], na qual comunicava e justificava o seu regresso ao Porto e o abandono da redação d’A Aurora do Lima, devia ter informado a família, nomeadamente os irmãos Luís (1825-1892) e Mateus (1821-1882), o mais velho dos cinco manos (quatro homens e uma senhora), da sua decisão.
Curiosamente, LBS só responde a esta carta de Camilo, no dia 3 de junho, conforme anotação que o destinatário lavrou no autógrafo. [Cf. CABRAL, 1984 (II): 130]

LBS e Camilo também foram grandes amigos. Conheceram-se no Porto, conviveram e trocaram correspondência. Na crónica «Do Porto a Braga», incluída na coletânea de narrativas Duas Horas de Leitura, o Escritor oferece-nos o «vulto moral» deste Barbosa e Silva, trecho já reproduzido em RODRIGUES, 2014.
Alexandre Cabral transcreve, na Correspondência (II), 24 cartas que o Escritor remeteu a LBS. E no seu famoso Dicionário, informa existirem, na Casa-Museu de Camilo (Ceide-Famalicão), 13 cartas deste limiano vianês para o Escritor. Felizmente que estas não foram destruídas. [Cf. CABRAL, 1984 (II): 130-158 e 20032: 68]
De referir que o Escritor só escreveu uma carta a Mateus. Datada de «Seide 4 de Agosto 78», Camilo aborda a visita, súbita, que fez aos amigos de Viana, no dia 2, com regresso, repentino, a Ceide, pela manhã, sem deixar aviso nem recado. Esta foi a 3.ª visita das quatro que, segundo o compilador das Cem Cartas, foram «positivamente efetuadas» pelo Escritor a Viana. A 4.ª ocorreu em agosto de 1882. Camilo, desta vez, não veio sozinho: acompanhavam-no Ana Plácido e o filho Jorge. A estas visitas hei de dedicar, oportunamente, os “posts” necessários. [Cf. BARBOSA, [1919]: 69]

Recorde-se que Camilo visitou Viana pela 1.ª vez, na Páscoa de 1853 [(Re)ver RODRIGUES, 2013 e 2013a]. E a 2.ª, em abril-maio de 1857. É a esta visita que a carta de hoje diz respeito. Visita que tenho vindo a analisar, nos últimos “posts” [(re)ver RODRIGUES, 2017- 2017j], e acerca da qual, a meu ver, muito há ainda a contar e a esclarecer. Na esperança de tornar mais “nova” a “velha” notícia, publicada no Aurora do Lima, no dia 8 de abril de 1857.

Espero assim contribuir, modestamente, bem sei, para um conhecimento melhor e um reconhecimento merecido da forte cadeia de relações indestrutíveis que predem o Escritor a esta cidade limiana e/ou vice-versa.

Então, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva e com Sebastião de Sousa– II. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
------------, 20032: Dicionário de Camilo Castelo Branco (ed. Revista e aumentada). Lisboa: Caminho.
RODRIGUES, David F., 2013: «Camilo & Viana 002»: http://e-ternoretorno.blogspot.pt/2013/11/camilo-viana-002.html
-----------------, 2013a: «Camilo & Viana 003»: http://e-ternoretorno.blogspot.pt/2013/11/camilo-viana-003.html
-----------------, 2014: «Camilo & os irmãos Barbosa e Silva [12], em Duas Horas de Leitura»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2014/11/015.html
-----------------, 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
-----------------, 2017a: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
-----------------, 2017b: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
-----------------, 2017c: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
-----------------, 2017d: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (05): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857velha-como-nova-05.html
-----------------, 2017e: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (06): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-06.html
-----------------, 2017g: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (08): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-08.html
-----------------, 2017h: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (09): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-09-o.html
-----------------, 2017i: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (10): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-10.html
-----------------, 2017j: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (11): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-11-e.html

quinta-feira, 25 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (11)]


E há 160 anos – fá-los hoje, precisamente – Camilo, estando, ainda, a viver em Viana, cidade onde tinha chegado na tarde do dia 7 de abril de 1857 [(Re)ver RODRIGUES, 2017] escreve a José Barbosa e Silva (JBS) a carta que a seguir transcrevo.
Carta estranha! – pensará o paciente leitor, depois de a (re)ler.
Sem dúvida! Mas importante, como se há de ver, para um melhor conhecimento das relações do Escritor com o jornal A Aurora do Lima (e quem diz Aurora, diz os seus proprietários e direção). E, além disso - aspeto não menos importante - para saber-se que fortes razões terão levado o homem a vir para esta cidade e a dela fugir tão abruptamente.

Comentarei, em próximo(s) apontamento(s), esta carta. Agora é altura de a (re)ler:


MEU CARO BARBOSA.

Podes taxar esta carta de puerilidade, podendo eu annunciar-t'a de viva voz. Prefiro este expediente.
Não posso aqui viver. Falta-me tudo, por que o tudo para mim é a paz do espirito, sem a qual me é doloroso, se não impossível o trabalho.
Vim procurar saúde, e estou peor. Esperava, ao menos, as delicias da natureza, e isto aqui é terrível, não ha refugio nenhum para um homem sem relações.
Vou para o Porto brevemente: vou trabalhar p[ar]a ressarcir o que me tem custado estas evolucoens tão nocivas ao espírito como á magra algibeira.
Continuarei a collaborar na Aurora o tempo que quizeres, e acceitarei o jornal quando elle produza o necessario para eu poder aqui ter as commodidades que deixei no Porto. Virá então essa espécie de fam[ili]a que não posso hoje amputar da m[inh]a alma affeita e agradecida. Fallo da Eufrazia e de m[inh]a filha.
Os objectos, comprados p[o]r tua via, e allugados, não sei o que custam. Seja o q[ue] fôr, não estou em circumstancias de os pagar, por que apenas tenho (honra ás lettras!) o necessario p[ar]a transportar-me.
A pertinácia com que o infortúnio me persegue é horrivelm[en]te incrivel.
Ad[eu]s.

(Vianna, 25 de Maio de 1857.)[*]

Teu Camillo C. Br[an]co.
{BARBOSA, [1919]: 46-47. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 159-160]}

[*] Xavier Barbosa garante esta datação. O sobrinho direito – recorde-se – de José Barbosa e Silva teve em seu poder os autógrafos, pelo menos, das cem cartas que publicou, embora por vezes truncadas.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
RODRIGUES, David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»:http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html

quarta-feira, 24 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (10)]


A freira que, em 1855, quis gozar, na companhia de Camilo, o mês de setembro, nas vizinhanças de Viana; a freira que, um ano depois, tentou impedir que este ainda seu amante viesse para esta cidade e aqui ocupasse o cargo, remunerado, de redator do jornal A Aurora do Lima; a freira que, via seu amigo querido, estabeleceu amizade com os dois filhos mais novos da família Barbosa e Silva, tornando-se interessada leitora de Viver para Sofrer, romance do mais jovem, o José; a freira que, durante anos, foi dedicada e generosa precetora de Bernardina Amélia, filha natural da relação adulterina entre Camilo e Patrícia Emília; a freira que, terminada a paixão amorosa e o convívio direto com o ex-amante, continuou sua amiga, apesar de ele se ir afastando cada vez mais dela; a freira de quem, no “post” anterior, fiz uma breve biografia, baseado, apenas, nas informações colhidas nas cartas que o Escritor enviou ao seu grande amigo vianês José Barbosa e Silva (JBS); a freira que...
Isabel Cândida Vaz Mourão é o seu nome completo.


Isabel Cândida era irmã professa do Convento de S. Bento da Avé Maria. O mosteiro situava-se, antes de ser demolido (finais do séc. XIX), onde se encontra a atual estação ferroviária central do Porto (S. Bento), construída nos princípios do séc. XX.
Das várias consultas bibliográficas efetuadas sobre esta monja beneditina, não consegui apurar datas de nascimento e morte, de ingresso e profissão na ordem, nem a naturalidade, nem, mesmo, os nomes dos pais. O processo sobre a sua vida religiosa desapareceu. Alguém se encarregou (ou foi encarregado) de o destruir. E com ele, ter-se-ão perdido dados sobre a sua vida. Uma coisa é evidente: foi o seu amor a Camilo e à Bernardina Amélia que salvou do anonimato esta religiosa.

Isabel Cândida não foi, como já o paciente leitor deduziu, uma soror exemplar. Respeitaria pouco as regras monásticas. Terá sido repreendida, assim, por mau comportamento. Mas dizem os biógrafos de Camilo, quando acerca dela escrevem, que era uma freira rica, em moeda e bens, culta, que gostava de fazer versos e de conversar com poetas e folhetinistas. Mas não só. Manuel Tavares Teles, ao descrever o «estatuto social» do abastado e maduro brasileiro portuense Manuel Pinheiro Alves (1807-1868), anota, em rodapé (com base no Periódico dos Pobres do Porto, de 29/09/1851) a «coincidência curiosa» de os «dois primeiros directores» da Fundição Bicalho terem sido Bento Luís Ferreira Carmo, que foi amante da freira Isabel Cândida Vaz Mourão, e Manuel Pinheiro Alves, que foi marido de Ana Plácido.» [TELES, 2008: 181. Respeitada grafia da edição consultada.]

Não encontrei fotografias de Isabel Cândida. Houve, porém, um autor que, tendo-a conhecido pessoalmente, dela nos deixou um singular retrato. Alberto Pimentel (1849-1925), «amigo devotado de Camilo (com quem privou intimamente)» e de quem foi o «primeiro biógrafo» [CABRAL, 20032: 605], revela ter-se encontrado, desde os 15 anos (1865), com a freira. Conta ele que, em consequência do casamento de Bernardina Amélia (1865), a jovem noiva abandonou o convento e a religiosa passou a ser professora de uma sua prima, Aureliana Coelho Bragante. E Alberto Pimentel acrescenta:

«Muitas vezes acompanhei minha mãe e irmãs em visita áquela nossa parenta, que nos recebia na grade com a freira e nos regalava com rebuçados e bonbons. Outras vezes eramos convidados a ir lá almoçar e então tambem ia comnosco meu pai, que salvara minha prima em doenças graves e tinha mais clientes de partido naquela comunidade. [//] Minha prima estimava ver-se rodeada de parentes, ria de vontade com os ditos de meu pai […], e a freira D. Isabel Cândida conversava com animação e espirito, contando casos do convento e casos da cidade, como se conhecesse estes tão bem como aqueles.»

E logo de seguida, dá os retoques finais no retrato da mãezinha (tratamento que as educandas davam às monjas educadoras) da prima:

«Mas a freira era velha e feia, trigueira, angulosa e alta, tinha a voz forte, um nariz respeitável, e sombras de buço.»

O devotado biógrafo do Escritor estranha, por isso, que «aquela mulher, tão balda de encantos feminis, pudesse haver inspirado atenções afectuosas […] a um homem superior […] como Camilo Castelo Branco. [PIMENTEL, 1921: 26-28. Respeitada grafia da edição consultada.)
Contudo, foi o que aconteceu. Reciprocamente, embora esteja convencido de que, na balança deste amor, o prato da freira pesasse mais que o de Camilo.

Os biógrafos situam o início das relações entre Isabel Cândida e Camilo, em outubro de 1850. Viram-se no abadessado ou outeiro dos dias 21 a 24 daquele mês. Festejava-se, no mosteiro, a reeleição da abadessa Ana Delfina de Andrade. [CABRAL, 1918: 96 e PIMENTEL, 1899: 145]. António Cabral, citando local publicada, a 26, n’O Jornal do Povo, diz que, naqueles dias de festa, com doces e vinhos servidos pelas criadas do convento, foram «notadas as bellas poesias que recitaram os srs. Correa Leal, Camillo Castello-Branco, [António Joaquim Xavier] Pacheco, [José Maria] Vieira e [António Frutuoso] Ayres de Gouvêa [Osório]». [CABRAL, 1918: 96. Não consegui precisar o poeta Correa Leal.] As freiras não se misturavam com os poetas. Assistiam das grades ao sarau, lançando motes que eles desenvolviam, improvisando.

Na coletânea de poemas Inspirações, publicada em 1851, Camilo inclui um poema dedicado «À Illm.ª e Exm.ª Snr.ª / D. ANNA DELFINA D’ANDRADE. / ABADESSA RE-ELEITA / - Improviso - / No Mosteiro de S. Bento da Ave Maria da Cidade / do Porto, em Outubro de 1850» [BRANCO, 1851: 78. Respeitada grafia da edição consultada.]


Isabel Cândida foi mais que uma segunda mãe, para a filha natural de Patrícia Emília e Camilo, então jovens amantes (pouco mais teriam que vinte anos de idade). A religiosa, terminada a relação amorosa com o Escritor, continuou, todavia, a educar e a acompanhar, de perto, tanto dentro como fora do convento, Bernardina Amélia. Até 29 de dezembro de 1865, dia em que a jovem, com apenas 17 anos, casou com o abastado capitalista, regressado do Brasil, António Francisco de Carvalho. A freira tratou de tudo. Através de carta [cf. PIMENTEL, 1890: 103], em que relevava as qualidades e o estatuto social do noivo, Isabel Cândida, em nome da Bernardina, pede à mãe natural da filha de Camilo que autorize o matrimónio. Camilo opôs-se. Em vão.
O Escritor não se encontrava ainda recuperado, física, psicológica, social e economicamente do processo de adultério e divórcio, desencadeado, em 1860, pelo marido de Ana Plácido. O escandaloso caso em que o pai da noiva se tinha envolvido terá pesado na decisão da freira, em escrever à Patrícia Emília, que entretanto passara a viver com um novo companheiro, Francisco José Claro, em Vila Real.

É sabido que Camilo não aprovou, de início e durante anos, que a filha casasse com o abastado brasileiro, devido à diferença de idades, como confessa em carta que, datável de 20 de julho de 1874, dirigiu ao Visconde de Ouguela (Carlos Ramiro Coutinho, 1830-1897):

«Amanhã vou ao Porto para acompanhar a minha filha e a minha neta à Póvoa. Não sei se sabes que tenho uma filha e uma neta. O meu genro é um argentário maior de 50 anos e de 200 contos. Impugnei este casamento, há 9 naos, receando que a diferença entre 16 e 40 anos abrisse um abismo entre os cônjuges. Felizmente que a minha filha saiu uma criatura angelical, e o marido é um excêntrico que a tem levado a viajar. Nunca falei com ele, desde que o vi em 1849, sair para o Brasil. Era filho de um desembargador. Levou 20 contos do seu património, e voltou rico. Viu a pequena na grade de um convento, e pediu-a a uma freira que ele presumia ser mãe da noiva. Como eu me opusesse ao casamento, solicitaram a licença da verdadeira mãe que existe em Vila Real, e casaram-se. Passados anos, fui, muito instado, ver a minha filha a uma quinta que habitava nos arrabaldes do Porto. Recebi-a na minha sege, e não lhe entrei em casa. Agora, creio que falarei com o marido, atendendo a que ele quis que a sua filha se chamasse Camila. É uma trigueirinha engraçada. Diz o Jorge que sendo eu avô dela, vem ele Jorge a ser o pai. Isto parece racional.»
[MATOS, 2012: 164-165. Excerto. Respeitada grafia da edição consultada.]

Creio não ser necessário comentar. Apenas recordar que Jorge é o filho, doente metal, de Camilo e Ana Plácido.
Até ao próximo!

NB – As fotografias são arranjo de outras colhidas em Google / Imagens / Convento de S. Bento da Avé Maria e Bernardina Amélia Castelo Branco.

Referências e outra bibliografia consultada:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
BRANCO, Camillo Castello, 1851: Inspiraçoens. Porto: Typographia de J. J. Gonçalves Basto.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
------------, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva e com Sebastião de Sousa– II. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
------------, 20032: Dicionário de Camilo Castelo Branco (ed. Revista e aumentada). Lisboa: Caminho.
CABRAL, António, 1918: Camillo Desconhecido. Lisboa: Livraria Ferreira, Lda.
FIGUEIRAS, Paulo de Passos, 2010: «Camilo e Ana Plácido – Alguns factos inéditos da sua vida». Cadernos Vianenses, Tomo 44. Viana do Castelo: Câmra Municipal de Viana do Castelo; pp. 229-255.
MATOS, A. Campos, 2012: Camilo Íntimo – Cartas inéditas de Camilo Castelo Branco ao visconde de Ouguela. (Pref. de […] e posf. de João Bigotte Chorão). Lisboa. Clube do Autor.
pIMENTEL, alberto, 1890: O Romance do Romancista – Vida do Camillo Castello Branco. Lisboa: Francisco Pastor.
------------, 1899: Os Amores de Camillo (Dramas intimos colhidos na biografia de um grande escriptor). Lisboa: Libanio & Cunha
------------, 1921: O Torturado de Seide (Camilo Castelo Branco). Lisboa: Livraria de Manoel dos Santos.
RIBEIRO, Aquilino, 1961: O Romance de Camilo (3 vols.). Bertrand: Amadora.
TELES, Manuel Tavares, 2008: Camilo e Ana Plácido - Episódios ignorados da célebre paixão romântica. Porto: Caixotim.

CORRIGENDA (02-06-2017) - A "criança" Bernardina Amélia, reproduzida na fotografia acima, teria 5 e não ao anos. Peço desculpa.

segunda-feira, 22 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (09)]


O paciente leitor deste blogue já construiu, estou certo, um retrato de «D. Isabel Cândida (a freira)». Fê-lo, segundo desejei, a partir da leitura das cartas que, longa ou ocasionalmente, à religiosa se referindo, Camilo enviou a José Barbosa e Silva (JBS). Mas se, além disso, a sua natural sede sobre a vida desta conventual e suas relações com o Escritor foi saciar também a outras fontes, permita-me que o felicite por isso.

Ressalta da leitura das 14 referências epistolares transcritas (sobretudo das três cartas integrais, sem, contudo, menosprezar os 11 fragmentos), que Isabel Cândida era uma freira, economicamente abastada. Pertencia a uma determinada ordem religiosa, cujo convento se situava na cidade do Porto. Passaria, porém, dias mais ou menos prolongados fora do convento, em propriedade(s) que possuiria na cidade e/ou arredores. Segundo os estatutos da ordem monástica a que pertencia, não podia demorar-se em estalagens. Mas ela era rica, gostava de passear e conviver. Estanciava, por isso, em casas que arrendaria noutras localidades, acompanhada dos seus criados, onde confraternizaria com os amigos que a visitavam.

 Um desses amigos foi, como lemos, Camilo. Os contactos entre ambos estabelecidos aprofundou a amizade entre ambos: enamoraram-se e tonaram-se amantes. Fruto das conversas que foram tendo sobre as vidas passadas de cada um e eventuais projetos de vida futura, Camilo há de ter revelado à apaixonada freira que era pai natural de uma menina. Esta revelação terá despertado os sentimentos de maternidade na amante e, ao mesmo tempo, fortalecido o amor que dedicava ao Escritor. Isabel Cândida ter-se-á oferecido, então, para educar a filha do amante –  Bernardina Amélia – acolhendo-a no convento e nas suas propriedades seculares.

A paixão entre a freira e o Escritor terá atingido um dos seus pontos altos em 1855, ano em que ambos estiveram para vir gozar o mês de setembro em Viana do Castelo, com passeios pelo Minho e animadas conversas literárias, juntamente com JBS, na hospedaria vianesa Cara de Pau, onde Camilo ficaria instalado. Ela, com seus criados, iria para uma quinta simplesmente mobilada, nos vizinhanças da cidade. As custas da quinta e da hospedagem - tudo - seriam pagas pela abastada monja. Receando, porém, que a epidemia de cólera, que então atravessava a Europa, invadisse também a virgem do Lima, o plano de aqui gozar um aprazível mês de setembro foi pela água abaixo. Mas, por intermédio e com o beneplácito do Escritor, Isabel Cândida estabeleceu laços de amizade com dois irmãos Barbosa e Silva, o Luís e o José. Sobretudo com este último, que lhe havia oferecido o romance, de que era autor, Viver para Sofrer (1855). A freira deveria sentir, como outras mulheres suas contemporâneas, uma atração especial por poetas e folhetinistas.

Entretanto, sem nada revelar à amante, Camilo negociava, com JBS, uma vinda para Viana, a fim de ocupar o cargo, remunerado, de redator do jornal A Aurora do Lima. A freira, porém, ia profetizando que o amante iria abandonar o Porto. Até que, um dia, certa das secretas intenções do amante, acusa-o virulentamente de ingratidão, passando, de seguida, à mansidão das lágrimas suplicantes. A dramática cena deu-se, no convento, em 11 de setembro de 1856, na presença da Bernardina Amélia, também ela banhada em lágrimas. O Escritor comoveu-se. Regressa à Foz, onde ainda se encontrava a banhos, com os restos do seu coração atravessados numa roda de navalhas. Cedeu. Propõe-se, então, dirigir a A Aurora a partir do Porto, contentando-se em receber, como paga, o que receberia qualquer redator que para Viana viesse.

A partir daquele dia, a paixão amorosa entre os amantes entra em acelerado declínio. A 7 de abril de 1857, Camilo chega, enfim, a Viana, para se dedicar, a tempo inteiro, à redação d’A Aurora, ainda que a notícia publicada no jornal, no dia seguinte, não seja clara a tal respeito. Propositadamente, como se lerá.
Não obstante, a freira Isabel Cândida e o novelista Camilo continuaram amigos, embora afetivamente cada vez mais distantes. Bernardina Amélia continuou, efetivamente, a ser educada e protegida, a frequentar o convento e a(s) casa(s) secular(es) da amiga religiosa.

Esta é a biografia de «D. Isabel Cândida (a freira)» que, com base, apenas, na leitura e interpretação das referências epistolares enviadas a JBS, aqui deixo à consideração do paciente leitor. No próximo “post”, acrescentarei outros dados biográficos sobre esta religiosa, mulher com quem Camilo manteve uma das mais longas relações de amizade e amor. Ou vice-versa.

Entretanto, continue a ler Camilo. Por exemplo: Vingança, romance publicado em 1858. Aquele onde o escritor mais se expõe biograficamente. Transfigurado, evidentemente. Até aquela data.
Até ao próximo.

Referências:
RODRIGUES, David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
-----------------, 2017a: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
-----------------, 2017b: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
-----------------, 2017c: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
-----------------, 2017d: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (05): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857velha-como-nova-05.html
-----------------, 2017e: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (06): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-06.html
-----------------, 2017g: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (08): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-08.html