CAMILO
&M VIANA
[1857:
“velha” como “nova” (05)]
Até
7 de abril de 1857, dia em que chegou à cidade Viana do Castelo [(Re)ver RODRIGUES, 2017], por razões e finalidades que
hei de rever e analisar, o Escritor refere-se a «D. Isabel Cândida (a freira)»,
em 12 cartas enviadas ao seu amigo vianês José Barbosa e Silva (JBS).
Apresentei
já, em “posts” anteriores, três dessas referências, duas delas em cartas que
transcrevi na sua versão completas. [(Re)ver RODRIGUES, 2017a; 2017b e 2017c] Restam, portanto, nove.
Prosseguindo
na recolha de dados biográficos, na correspondência camiliana referida, que
possam ajudar a desenhar o retrato ou imagem desta abastada e dedicada amiga de
Camilo, fixar-me-ei, hoje, em mais três excertos epistolares, que transcrevo nas alíneas seguintes:
i) M[inh]a filha está no Collegio. D. Izabel
está boa. Dir-lhe-hei que te lembraste d’ella. [Carta datada de 24/07/1856].
Barbosa,
[1919]: 12. Também em Cabral, 1984 (I): 107]
ii) D. Izabel está doente, mas não
seriam[en]te[.] M[inh]a filha começa a fazer versos! Irra! que annuncio! [Carta datável de 03/08/1856]
[Barbosa,
[1919]: 124. Também em Cabral, 1984 (I): 108-109.]
iii) A minha filha está boa; e D. Izabel soffre…
parece q[ue] profetisa. Ha de ser-lhe m[ui]to penosa a m[inh]a sahida; mas é
força transigir. Eu aqui asfixio. [Carta
datável de 07/09/1856]
[Barbosa,
[1919]: 15. Também em Cabral, 1984 (I): 116]
Nestes trechos, correspondendo,
certamente, a perguntas e cumprimentos de JBS, Camilo informa, por um lado, sobre
o estado de saúde de Isabel Cândida e, por outro, sobre a educação da filha.
Trata-se,
a uma primeira leitura, das habituais cortesias trocadas entre amigos na correspondência.
Fruto da profunda amizade existente entre os dois homens, as relações de JBS com Isabel
Cândida também se terão desenvolvido. A oferta do livro Viver para Sofrer – Estudos do Coração a esta conventual e o
elevado apreço e reconhecimento que ela manifestou, via Camilo, pelo romance do
estreante romancista vianês, s(er)ão prova disso mesmo. {(Re)ver RODRIGUES, 2017c]
Ressalta destes excertos que a saúde
de Isabel Cândida passou, no tempo aproximado de uma semana, de «boa» para
«doente», embora «não seriamente» (i e ii). Mas, ao fim de um mês, Camilo revela a
JBS que «D. Isabel sofre». Sofrer, porém, este que lhe parece mais de natureza
afetiva que física. Segundo interpreta, a sua amiga freira profetizava a sua saída e afastamento do Porto, facto que lhe causaria
muita pena. A religiosa ver-se-ia,
assim, privada das visitas do amigo Escritor (iii).
Mas, para não morrer asfixiado no Porto, embora naquela data
se encontrasse a banhos na Foz, para
onde partiria Camilo? Para onde, porquê e para quê?
Resposta a estas e outras questões encontrá-la-á,
o paciente leitor, na próxima carta que o Escritor dirigiu a JBS e que, no
próximo “post”, será transcrita na sua versão integral. A não perder, por isso
e tanto.
Falta, porém, saber quem é a filha de Camilo, referida nos três
excertos. Filha que está num colégio
(i), que começou a fazer versos (ii)
e que se encontra de boa de saúde (iii).
Repare-se, antes de mais, que, nos
excertos epistolares acima transcritos, as referências a Isabel Cândida seguem
ou precedem referências à filha e
sempre no mesmo parágrafo. Quer isto dizer que Camilo, ao falar da amiga e
abastada freira, se lembrava também da filha
e vice-versa.
A
este respeito, só mais um exemplo. A referência seguinte precede, no mesmo
parágrafo, o excerto da carta de 02/07/1856, que transcrevi no “post” anterior
[(Re)ver RODRIGUES, 2017c] e que agora reproduzo em
parte:
(iv)
O
Evaristo tem aqui vindo: Hoje vai jantar com ele a Amélia, por que são os anos
da filha mais velha. Eu farei saber à D.
Isabel Cândida a tua recomendação e a do Luis. […]. [Carta
datada de 02/07/1856]
[Cabral, 1984 (I): 102. Barbosa,
[1919], não reproduz esta carta.]
Pois é: a filha de Camilo, referida nestes excertos epistolares, é Amélia. Melhor: Bernardina Amélia. Na
data em que foi jantar com o Evaristo [Basto] (iv), um dos maiores e fiéis
amigos do Escritor, esta filha de
Camilo tinha 8 anos de idade. É a sua segunda filha, filha natural, pois fruto
da relação adulterina que ele teve com Patrícia Emília do Carmo de Barros
(1826-1885).
Adulterina?
Sim:
adulterina. Camilo, quando se envolveu intensa e conturbadamente com Patrícia
Emília (chegaram a fugir e a estar presos), era casado com Joaquina Pereira de
França, desde o dia 18/08/1841, de quem ficou viúvo 6 anos depois, em
25/11/1847. Entretanto, 2 anos depois do casamento, em 25/08/1843, nascia a
primeira e única filha legítima de Camilo, a quem deram o nome de Rosa. Viveu
esta menina pouco mais de 4 anos, pois faleceu em 10/03/1848, isto é, pouco
mais de 3 meses após a morte da mãe e pouco mais de 3 meses antes do nascimento
da sua meia-irmã Bernardina.
De
facto, Bernardina Amélia nasceu a 25/06/1848. Assim, o ato feliz da sua conceção deve ter ocorrido 9 meses antes, num incerto
dia de outubro de 1847. Era ainda viva a jovem esposa do jovem marido. Quando
se receberam na igreja de Salvador/Ribeira
de Pena, Joaquina tinha apenas 15 anos e Camilo apenas 16. Umas crianças,
comentar-se-ia. Então e sobretudo hoje.
Maria Pereira de França e Sebastião Martins dos Santos
(Sogros de Camilo) [Em PIMENTEL, 1916: 44]
Camilo
nunca quis assumir o seu casamento com Joaquina Pereira de França, embora se
possam encontrar, em alguns dos seus escritos, veladas referências. Chegou
mesmo, em declarações oficiais, a omitir o seu estado de casado e de viúvo.
Conta
Alberto Pimentel (1849-1925), primeiro biógrafo do Escritor, de quem foi
dedicado e delicado amigo, a este respeito:
«Quando,
tendo-me pedido informações sôbre o trabalho da sua biografia, eu lhe confessei
lealmente no Hotel Borges, em Lisboa,
que possuia uma certidão do seu primeiro casamento, Camilo retorquiu-me, excitado:
— Esse
casamento foi uma infâmia.»
[PIMENTEL,
1916: 10]
Bem
diferentes foram, contudo, as relações de Camilo com a filha Bernardina Amélia
e a mãe Patrícia Emília, como se sabe e/ou há de saber.
Regressando
aos três primeiros trechos epistolares acima transcritos, resta(rá) identificar
o colégio onde Camilo tinha a filha Bernardina Amélia. Será que tal situação
tem alguma coisa a ver com «D. Isabel Cândida (a freira)»?
Talvez
a resposta, mais uma, se encontre no próximo “post”.
Até lá, continuem a ler
Camilo.
Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem
Cartas de Camillo. Lisboa:
Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora. [À entrada do livro, ao centro de
página ímpar (não numerada), encontra-se a seguinte informação: «A propriedade
d'este livro pertence ao CULTO CAMILIANO, por generosa dadiva do autor.»]
CABRAL, Alexandre, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com
os Irmãos Barbosa e Silva - I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
PIMENTEL, Alberto, 1916: A Primeira Mulher de Camilo. Lisboa:
Guimarães & C.º - Editores.
RODRIGUES,
David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
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2017a): «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
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2017b): «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
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2017c): «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
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