terça-feira, 25 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (35)]


Camilo deve ter estado alguns dias sem escrever a José Barbosa e Silva (JBS). Este, por sua vez, deve-lhe ter feito reparo. Tudo parece ter ficado depressa resolvido, entre os dois grandes amigos. O Escritor envia a JBS, no dia 6 de novembro de 1856, carta onde colhi e de que transcrevo a referência

18.ª)
Remetto o art[ig]o bombástico p[ar]a sabbado – Irá p[ar]a o dia 15 o funebre. Irei remettendo folhetins p[ar]a todos os n[umer]os[.] Não posso, porem, escrever sem ver o q[ue] escrevi já publicado. Não me lembra o q[ue] disse. Com o S[ebasti]am fallamos e concordamos a resp[ei]to do frontispicio. Podes contar com a m[inh]a assiduidade, posto que estou cançado de escrever, vendo de m[ai]s a m[ai]s adeante de mim uma velhice pêca de meios e de imaginação. Prevejo um triste futuro, se não morrer a tempo de bater á porta do coração e achal-o convertido inteiramente a cabeça. Com cabeça som[en]te não se escreve.
{BARBOSA. [1919]: 24. Também em CABRAL, 1984 (I): 128.
Respeitada grafia da edição consultada.
Na transcrição, desenvolvi formas abreviadas.}

Que artigo bombástico e que artigo fúnebre?
Foram ambos publicados, sem assinatura, pelo Aurora do Lima, nos dias/n.os, respetivamente, 08/134 e 15/137, em novembro de 1856. O bombástico é um apelo à participação dos votantes nas eleições legislativas, que se realizavam no dia seguinte, domingo, 9 de novembro de 1856. Pelo meio, é visado o governador civil do distrito, principal alvo dos ataques políticos do Aurora do Lima, porta-voz de JBS, que lutava por o ver substituído. [Sobre este visconde, (re)ver “post”]
Apenas um parágrafo:

Onde vinha o sr. visconde de S. Payo dos Arcos angariar suffragios para os nomes indicados pelo governo? A um districto que o deseja longe dos seus negocios. A um povo que considera S. Ex.ª um estorvo inabalavel ao seu progresso. A um districto, finalmente, que a authoridade superior conseguiu revoltar contra todas as suas maleficas medidas.
[Cf. COSTA, 1928 (IV): 384. Respeitada grafia da edição consultada.]

O artigo fúnebre celebrava, convocando às lágrimas, o terceiro aniversário do falecimento de D. Maria II (1819-1853), «primeira rainha constitucional», «de saudosíssima memória». [Cf. COSTA, 1928 (IV): 385]
Recorde-se que foi D. Maria II quem, há oito anos, em 20 de janeiro de 1848, elevara a então Vila de Viana da Foz do Lima à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Viana do Castelo.

 O Sebastiam é Sebastião [Maria de Andrade e] Sousa, redator e colaborador do Aurora. [(Re)ver “post”]. E o frontispício é o que Camilo tinha enviado para a edição, em livro, de Cenas da Foz, pela empresa do mesmo jornal. [(Re)ver “post”]
A primeira destas Cenas saiu em folhetim – recorde-se – no n.º 132 do ainda incipiente periódico vianês, a 4 de novembro de 1856. Dois dias antes, portanto, da data da carta de que acima transcrevi excerto (18.ª referência).

Camilo promete ser mais assíduo na sua colaboração, embora se diga desanimado da escrita. JBS é capaz de ter chamado a atenção do Escritor para o irregular envio de textos, a que se teria comprometido.

Até 7 de abril de 1857, dia em que chegou a Viana para, aqui residindo, redigir o A Aurora do Lima, Camilo escreveu, ainda, mais de uma vintena de cartas. Sobre elas, por isso, hei de fazer outros tantos ”posts”. Pelo menos!

Assim, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo! Por exemplo: Coisas Espantosas (1862). Recordo ao paciente leitor deste blogue que os primeiros capítulos deste romance foram publicados, em folhetins, no Aurora do Lima, em 1859, com o título de A Natureza das Coisas.

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
COSTA, Júlio Dias da, 1928: Dispersos de Camilo, Vol. IV – Artigos (1846-1889). Coimbra: Imprensa da Universidade

quinta-feira, 20 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (34)]


Terá José Barbosa e Silva (JBS), em nome d’A Aurora do Lima, aceitado a proposta de Camilo sobre a venda da propriedade da edição de Cenas da Foz, tal como se leu no trecho epistolar transcrito no “post” anterior?
Na impossibilidade de jamais se poder consultar a correspondência que JBS enviou ao Camilo, por criminosamente destruída, resta tentar inferir o acordo negociado entre ambos, através das cartas que o Escritor remeteu ao amigo vianês.
Recordo que tenho vindo a tratar, nesta série de “posts”, sobretudo da cadeia de relações que Camilo estabeleceu e manteve com os proprietários do Aurora do Lima (jornal e editora). A sequência seguinte é, por isso, excerto da carta que, sobre esta relação, Camilo remeteu a JBS.

17.ª)
Fico sciente do que me explicas na tua ultima carta.
Ainda hoje não recebes folhetim e a continuação das colónias p[o]r que não tenho onde escreva, ha trez dias. Anda-se em mudança da Foz para a Rua do Sol n.º 8. Vai aqui um inferno de inçambladores e borradores de parede, que me fez fugir p[ar]a Matosinhos, e volto de la hoje encontrando tudo no m[es]mo estado. Tudo que é meu é assim! […] Nota que no romance Scenas da Foz – ha de imprimir-se a dedicatória. O titulo há de ser o q[ue] foi impresso n’um dos folhetins, visto q[ue] ja se sabe q[ue]m é João Junior. Se te parecer que é melhor por-lhe o meu nome, diz-m’o que se reforma o frontescipio[*] com m[ai]s seriedade. E n’esse caso preciso dar um cavaco como editor das asneiras de J. Junior. […]
Amanhan receberás originaes.
[*] Alexandre Cabral transcreve: «frontispício».
{BARBOSA. [1919]: 23. Também em CABRAL, 1984 (I): 126-127.
Respeitada grafia da edição consultada.
Na transcrição, desenvolvi formas abreviadas.}

Camilo diz ter ficado ciente das explicações que JBS lhe deu. O amigo de Viana ter-lhe-á remetido uma (contra)proposta, provavelmente próxima da recebida, sobre os direitos autorais do Escritor, quanto à publicação de Cenas da Foz, em livro, pelo Aurora, e quanto à mensalidade a receber pela colaboração neste jornal. JBS, prevendo a aceitação do amigo, deverá ter-lhe solicitado o envio dos primeiros folhetins deste «romance». O último folhetim/capítulo da «Peregrinação sobre a Face do Globo», no Aurora, transcrito d’O Clamor Público, saíra no dia 14 de outubro.
O Escritor, todavia, responde ainda não poder manter, naquele momento, a sua colaboração: não envia folhetim nem continua as colónias. Estas eram artigos que, embora não assinados, o Aurora lhe vinha publicando, com o título de «Colónias Agrícolas». Saíram apenas, apesar da promessa, dois artigos no jornal vianês: em 14, e 16 de outubro de 56.
A explicação, em ambos os casos, para o não envio de textos, é clara: Camilo sente-se no inferno, com a mudança de casa e as obras de restauro nela em curso. Imagine-se!
A propósito dos «Colónias», devo referir que Alexandre Cabral, só no comentário à carta de que acima transcrevo excerto, menciona a autoria destes artigos, identificada por Júlio Dias da Costa. [Cf. Cabral, 1984 (I): 127. Também “post” de 03/07/2017]

Voltando ao Cenas da Foz, o folhetim (tipo carta, dirigida ao «Tolerantissimo redactor» por João Júnior) a que se refere Camilo, sobre a dedicatória, o frontispício e o título já impressos, saíra no n.º 119 do Aurora, de 2 de outubro de 56. [Cf. FOLHETINS (1.ª Série), 1911: 29-34]
Por fim, os originais prometidos não terão chegado no dia seguinte. A colaboração que Camilo publicou no Aurora, depois do envio desta carta, saiu no n.º 129, de 25 de outubro. É mais um folhetim tipo carta. Nele/a, João Júnior (pseudónimo mais frequentemente usado pelo Escritor no Aurora)  justifica o seu silêncio e o não envio dos primeiros capítulos das Cenas: «perdi os meus manuscritos nas cavernas, dum carroção que me transportara da Foz ao Porto.» [FOLHETINS (1.ª Série), 1911: 45]

A publicação de Cenas da Foz («Livro Primeiro / A Sorte em Preto» e «Livro Segundo / Dinheiro»), em folhetins e em livro, pelo Aurora do Lima, a par de outras colaborações e de novas propostas de pagamento mensal, continuam nas cartas seguintes de Camilo para JBS. Terá, por isso, de apostar, quanto eu, em mais “posts”.

Assim, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
FOLHETINS de Camilo Castelo Branco publicados n’A Aurora do Lima - 1856 a 1859 (1.ª Série), 1911. Viana do Castelo: Tipografia Comercial / Arquivo d’A Aurora do Lima.

terça-feira, 18 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (33)]


Em carta, datada de 16 de outubro de 1856 (segundo Xavier Barbosa leu e Alexandre Cabral viu no carimbo dos correios, estampado no autógrafo), Camilo negoceia, com José Barbosa e Silva (JBS), cofundador e coproprietário da empresa A Aurora do Lima, a venda da propriedade da edição em livro de Cenas da Foz.
Eis, desta carta, o excerto que, sobre esta proposta, diz respeito às relações do Escritor com o jornal vianês e seus conexos. É a referência

16.ª)
Parece-me que não entendeste bem a minha lembrança da tiragem do romance á parte. Eu não queria tiral-o p[ar]a ficar a meu cargo a venda. E’ coisa em q[ue] me não metto, e hoje não publico uma linha sem editor. O que eu queria era vender a empreza da Aurora a propried[ad]e – assim como cá vendo a dos romances que sahem em folhetim primeiro. O livro terá 250 a 300 paginas – e convinha-me receber 12 moedas pela propriedade, visto que na retribuição mensal q[ue] me dessem ficava encontrado o que vae de 12 a 25 moedas, o menos preço por q[ue] pode vender um author que tem o pessimo costume de comer como qualquer imbecil. Penso que a empreza não perderá, p[o]r q[ue] bem sabes q[ue] tem a composição gratuita – p[ar]a ganhar basta-lhe vender 200 exemplares – e eu tenho sempre vendido, ou os editores, de 400 p[ar]a cima. Convindo isto, meu Barbosa, era esta a m[inh]a intenção; não convindo, publica os folhetins somente. Responde, por que eu hei-de no caso de tirar-se em livro, fazer um traçado mais amplo.
{BARBOSA. [1919]: 22. Também em CABRAL, 1984 (I): 125-126.
Respeitada grafia da edição consultada. Na transcrição, desenvolvi formas abreviadas.}

A tiragem à parte, referida por Camilo, no início deste trecho epistolar, diz respeito ao romance Cenas da Foz. Trata-se, como referi no “post” anterior, de duas narrativas - «A Sorte em Preto» e «Dinheiro» - reunidas em livro, depois de publicadas, em folhetins, no Aurora do Lima. Recordo que o Cenas começou a ser publicado no n.º 132 (4 de novembro de 1856) deste jornal. O último folhetim saiu, acrescento ora, no seu n.º 221 (10 de junho de 57).
Não se encontrarão, a meu ler, neste excerto, outras questões que peçam comentários. Direi, contudo, que Camilo receberia, pela venda da propriedade da edição, em livro, 12 moedas, isto é, 12 000 réis (segundo creio). Como, pela colaboração mensal, receberia 13 moedas, isto é, 13 000 réis, o montante total a receber pelo seu trabalho literário seria de 25 moedas, 25 000 réis.
Recordo, a propósito, que, em carta datável de 11 de janeiro de 1856, Camilo se propunha vender 4 correspondências (colaborações) ao Aurora, por 14 400 réis. [(Re)ver “post”] É provável que o contrato, depois celebrado entre os proprietários do jornal, por intermédio de JBS, e o Escritor, se tenha ficado pelos 13 000 réis.
[NB - Sobre a grafia e o valor de réis (plural da moeda monárquica real), ver AQUI.]

Será que o negócio da edição do Cenas, em livro, foi fechado como a Escritor propôs?
A seu tempo se lerá.

Então, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.

domingo, 16 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (32)]


De carta, também de 10 de outubro de 1856 (como a anterior), dia que, no respetivo autógrafo, Alexandre Cabral viu «bem legível no carimbo dos correios do Porto», mas que Xavier Barbosa data de 12, transcrevo a referência

15.ª)
A resp[ei]to de Luiz de Lemos, p[ar]a te fallar franca verdade, dir-te-hei que não está habil seq[ue]r p[ar]a traduzir do francez. Foi meu collega nominal. Tudo estava aos meus ombros, e elle m[es]mo reconhece q[ue] não póde desenvolver uma idea. Entretanto se o queres educar, é outro caso.[*]
Mas eu não sei p[ar]a que tu queres mais redactores! O auxílio de ca, e o teu trabalho em horas de m[ui]ta disposição p[ar]a elle, não basta? Salvo, se te queres retirar de Vianna; mas n’esse caso tamb[é]m não podes substabelecer os teus serviços em L. de Lemos. Se queres augmentar o jornal, eu farei todo o esforço por augmentar o trabalho com q[ue] te auxilio; não ponhas, porem, o jornal n’um pé de orçamento que te entre m[ui]to dentro na bolsa, p[o]r que não concebo como na provincia se possa manter[**] uma folha com 600 assinaturas.
Logo que termine os folhetins da Peregrinação[***] na Aurora, começo as grutescas Scenas da Foz, as quaes, se o jornal estivesse habilitado para tiral-as em livro, seria cousa de dar dinheiro á Empresa, e a mim alguma insignificancia pela propried[ad]e. É cedo talvez p[ar]a proposta destas; mas no principio é que está tentar a fortuna[****]. […] Manhã receberás artigo.
 […]
                                                       [Volta
Olha que fui eu o que pedi ao A[rnaldo] G[ama] que vociferasse contra o pulha, e portanto diz de lá “muito obrigado”. Farei que o zurzam no C[lamor] Público -] [*****]
{BARBOSA. [1919]: 20-21. Também em CABRAL, 1984 (I): 123-124.
Respeitada grafia das edições consultadas. Na transcrição do excerto
de Barbosa (e só neste), desenvolvi formas abreviadas.}

[*] «Realmente, Luís de Lemos foi “colega nominal” de Camilo em O Porto e a Carta» - comenta Cabral [1984 (I): 124] – remetendo, logo de seguida, para o seu «Comentário à Carta n.º 40», onde se lê:
«Quanto a Luís de Lemos, supomos tratar-se da pessoa que foi redactor, com Camilo, d’O Porto e a Carta, em 1854. A expressão [citada da carta] “temos brevemente no Porto um leão atropelando as ovelhas” significava que o tal Luís de Lemos era um terrível femeeiro. Na época, o termo “leão” tinha esse significado: depradador [sic] da caça frágil, mas não só em Portugal.» [CABRAL, 1984 (I): 93]
O que, na carta n.º 40, era uma suposição, Alexandre Cabral dá-o agora como realmente certo. Descuidos que acontecem. Só destes impertinentes pingos se livra quem a estas chuvas não anda!
A propósito de José Barbosa e Silva (JBS) procurar um novo (ou mais um) redator para o seu jornal, comenta Alexandre Cabral:
«Ressalta do texto que Camilo não se quer desligar por completo do compromisso de vir a assumir o encargo da redacção d’A Aurora do Lima. E faz contra-vapor às propostas que eventualmente lhe fechem essa perspectiva.» [Id.: 125]
Convirá recordar, por outro lado, que, na célebre carta de 11 de setembro, o Escritor, para remediar a inesperada recusa da sua vinda, então, para Viana e para o Aurora, se propunha ser redator do jornal do amigo, a partir do Porto, mandaria 3 ou mais artigos, contentando-se com o pagamento que se daria a qualquer redator que para cá viesse. [(Re)ver “post”] Este «qualquer redactor» deve ser lido como um redator qualquer. Estatuto que, evidentemente, Camilo recusava.

 [**] Alexandre Cabral transcreve «montar», considerando «lapso de maior vulto» esta «cópia de L. Xavier Barbosa». [CABRAL, 1984 (I): 124]

 [***] Em rodapé (n.º 21), Barbosa informa:
«A narrativa do passeio a Braga com tão bom humor descripto nas Duas horas de leitura, cuja 1.ª edição, hoje rarissima, é de 1857, sahiu primeiro em folhetins sob o titulo de Peregrinação sobre a face do globo, começando essa publicação no jornal “A Verdade”, e vindo a concluir-se no “Clamor Público”. D’esses jornaes portuenses a transcreveu a “Aurora do Lima” nos seus n.os 81, 82, 84, 85, 87, 121, 122, 123 e 124 respectivam[en]te de 5, 8, 12, 15, 19 e 22 de Julho e 7, 9, 11 e 14 de Outubro de 1856.» [BARBOSA, [1919]: 21]
Sobre colaboração de Camilo com o jornal portuense O Clamor Público, (re)ver “post”.

[****] «As Cenas da Foz começaram a publicar-se no n.º 132 (de 4/XI/1856) d’A Aurora do Lima, com o pseudónimo de João Júnior». [CABRAL, 1984 (I): 125].
À publicação destas Cenas, pelo jornal (em folhetins) e pela empresa A Aurora do Lima (em livro), dedicarei, oportunamente, “posts” e/ou artigos.

[*****] Este último parágrafo não se encontra nas Cem Cartas, porque, «solto numa lauda. No entanto, no manuscrito está bem visível a chamada: “volta”. L. Xavier Barbosa “não reparou” na advertência.» [CABRAL, 1984 (I): 124]
O mesmo ilustre camilianista termina o seu comentário a esta carta, com as seguintes notas:
«No final, Camilo fala de Arnaldo Gama. Este escritor secundava n’O Porto e a Carta os ataques sem quartel vibrados pelos redactores d’A Aurora do Lima contra o famigerado Visconde de S. Paio.
Ao transcrever esse artigo, que aparecera n’O Porto e a Carta (n.º 229, de 4/X/1856), a Aurora antecede-o de uma nota, onde mais uma vez a zargunchada ao Governador Civil está em relevo:
“ O Sr. Visconde de S. Paio, se pudesse entrar a sangue frio na rigorosa análise dos seus actos, ou tivesse a seu lado um amigo verdadeiro do seu nome e da sua honra, havia por força de horrorizar-se do negro aspecto que apresenta a sua situação social e política. Etc. (in A Aurora do Lima, n.º 121, de 7/X/1856).» [CABRAL, 1984 (I): 124 e 125]
Sobre quem foi este Visconde de S. Paio, cujo nome era Gaspar de Azevedo de Araújo e Gama, (re)ver “post”.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.

segunda-feira, 3 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (31)]


Relacionada, agora, sobretudo com a sua colaboração publicada e/ou a publicar pelo Aurora do Lima, a correspondência de Camilo para José Barbosa e Silva (JBS), continua.
Em carta datada de 10/10/56, ainda a banhos na Foz, escreve o que a seguir se transcreve. É a referência

14.ª)
[…] Estou ancioso p[o]r deixar a Foz; mas não tenho podido entrar na casa q[ue] aluguei no Porto sem q[ue] se façam obras. Até ao dia 15 retiro.[*]
Mando-te hoje um art[ig]o em estilo comezinho, p[o]r q[ue] desejo fazer, n’esta conjunctura, linguagem popular. Com q[uan]to eu conheça a esterilid[ad]e da semente, acho q[ue] é preciso habituar o torrão a produzir.[**]
{BARBOSA. [1919]: 19-20 Respeitada grafia da edição consultada.
Transcrita em CABRAL, 1984 (I): 122-123.}

[*] Após ter desistido de vir para Viana e, nesta cidade passando a residir, ser o redator principal do Aurora [(Re)ver], Camilo vê-se na necessidade de alugar casa no Porto. Para si e para a filha Bernardina Amélia, que nesta data tinha já oito de idade. Ainda se encontra na Foz, para onde foi em princípios de julho.
É de crer, porém, que a hospedeira D. Eufrásia, por um lado, e a freira D. Isabel Cândida, por outro, continuassem a ajudá-lo no acompanhamento e educação da criança. Nesta carta, volta a dizer que a menina está em Leça a banhos. Certamente na companhia da abastada religiosa, que também aqui se encontrava a banhos [(Re)ver]. Curiosamente, desta vez, Camilo envia a JBS recados da D. Eufrásia, mas nenhuma referência faz à/da conventual.

[**] Nem Xavier Barbosa nem Alexandre Cabral identificam o artigo em estilo comezinho e se foi publicado ou não n’A Aurora do Lima. Trata-se, muito possivelmente, do artigo «Colónias Agrícolas», publicado neste jornal, nos dias 14 e 16/10/1856. É artigo não assinado e, talvez, por isso, Artur Anselmo não o tenha identificado. [Cf. ANSELMO, 1989 e 1993] Júlio Dias da Costa, porém, compilou-o no vol. IV dos Dispersos de Camilo, baseado, na carta que o Escritor escreveu, no dia 20 do mesmo mês e ano, a JBS. [Cf. COSTA, 1928 (IV): 372-380] Carta essa a que dedicarei, em breve, um “post”. Evidentemente.

Então, até ao próximo! Que, todavia, será dedicado a uma carta datada de 10/10/56, a mesma da carta cujo excerto, neste, acima transcrevi.
Mas, não esqueça, continue a (re)ler Camilo!

Referências:
ANSELMO, Artur, 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 9, de 22/02, p. 2. 
---------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
COSTA, Júlio Dias da, 1928: Dispersos de Camilo, Vol. IV – Artigos (1846-1889). Coimbra: Imprensa da Universidade.

domingo, 2 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (30)]


Depois do incidente da recusa em vir para Viana, a fim de dirigir e redigir, editorialmente, o jornal A Aurora do Lima, Camilo prossegue a troca de correspondência com José Barbosa e Silva (JBS), embora mais breve. Por enquanto. O excerto seguinte é da carta datada de 03 de outubro de 1856, a que foram suprimi, apenas, os habituais segmentos de saudação/cumprimento inicial abertura e de despedida.

13.ª)
Remeterei só artigos enquanto tiveres a Peregrinação para transcrever, se quiseres conclui-la, como entendo que farás.[*]
Vejo que vais publicando os teus bem escritos artigos sobre a política militante. É indispensável que enchas esse vácuo.[**] O que dizes do meu auxílio? Talvez seja inferior ao que esperavas; mas o jornal é pequeno e não dá largas para muito mais [.][***]
{CABRAL, 1984 (I): 122. Respeitada grafia da edição consultada.
Não transcrita em BARBOSA. [1919]}.

[*] Camilo informa que, enquanto durar a transcrição dos folhetins «Peregrinação sobre a Face do Globo» (caso continue a ser essa a vontade de JBS), apenas enviará artigos para o Aurora. Quer dizer, colaboração com outro género de textos (correspondência e poemas) ficaria para depois. Sobre a história, enquanto narrativa e edição, desta «Peregrinação», (re)ver “post” de 09/06/2017.
Cabe referir que Alexandre Cabral não é preciso quando comenta que a Peregrinação sobre a face do globo foi publicada, no Aurora, «em transcrição d’O Clamor Público». [CABRAL, 1984 (I): 122. Repete a mesma imprecisão em CABRAL, 1989: 243 e 20032: 300] Os folhetins da «Peregrinação» começaram, na verdade, a ser publicados n’A Verdade e, deste jornal portuense, transcritos, depois, pelo jornal de Viana, onde o primeiro saiu no dia 05/07/56 (n.º 81). Camilo deixa, pouco depois, de colaborar no Verdade, como se disse no “post” acima “lincado”. A «Peregrinação» ruma, em setembro, para O Clamor Público, onde são publicados os últimos folhetins e, deste periódico, os mesmos são transcritos no Aurora. O último folhetim (o 10.º capítulo) saiu, no jornal de JBS, a 14/10/56 (n.º 124). [Cf. ANSELMO, 1989: 2 e 1993: 115]

[**] Camilo elogia os «artigos sobre a política militante» de JBS. Recorde-se que JBS, coproprietário e corredator do Aurora, era militante do Partido Histórico (1852-1876), mais tarde chamado Progressista, quando, em 7 de Setembro de 1876, se fundiu com o Partido Reformista. [Para uma brevíssima descrição política deste(s) partido(s), cf. AQUI.]

[***] O auxílio que o Escritor deu e sobre o qual pede opinião diz respeito – presumo – à sua colaboração no Aurora. A pergunta, contudo, não deixar ser um pouco estranha. Na carta anterior, confessava ele ao amigo vianês: «Animou-me o teu aplauso, e continuarei a ser muito regular, não faltando com 2 correspondências, dois artigos, e alguma poesia própria de folhetim.» Será que também estas duas cartas estão cronologicamente trocadas, na edição de Alexandre Cabral? Curiosamente, este conceituado e apreciado camilianista comenta que, tendo visto os respetivos autógrafos, JBS respondeu a estas duas cartas apenas no dia 6 de outubro, quando a primeira é datada de 23/09 e a segunda de 03/10.
Mas também se sabe que o Escritor trocava e/ou esquecia, não raras vezes, nomes, datas, informações… E a correspondência com os amigos não era, em geral, a sua principal preocupação, embora escrevesse muitas cartas, por um lado, a muitos amigos e, por outro, publicasse textos epistolares em jornais. Correspondência, lhes chamava(m). Encontraremos, a seu tempo, no Aurora, vários textos deste género, assinados por João Júnior, principal pseudónimo com que o Escritor assina as suas colaborações neste jornal.

As cartas de Camilo, em torno do Aurora e conexos, para o seu amigo de Viana, vão prosseguir. Até - recorde-se - que se perceba por que razão Camilo chegou a esta cidade, no dia 7 de abril de 1857, para ser o redator principal deste jornal e…

Até ao próximo, então!
E continue a (re)ler Camilo! Por exemplo, as ironicamente divertidas e socialmente críticas Cenas da Foz, assinadas por João Júnior. Que não é um romance único – relembro – mas um volume constituído por duas novelas («livros», lhes chama) autónomas (só o espaço das narrativas é o mesmo): «A Sorte em Preto» e «Dinheiro». Depois de publicados, primeiro, em folhetins, no Aurora (entre 04/11/56 e 10/06/57), saíram, depois, em livro, pela «Empresa» deste jornal, em 1857. A estas Cenas voltarei, em breve. Por isso e…

Referências:
ANSELMO, Artur, 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 9, de 22/02, p. 2. 
---------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
---------------, 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.
---------------, 20032: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.