quinta-feira, 25 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (11)]


E há 160 anos – fá-los hoje, precisamente – Camilo, estando, ainda, a viver em Viana, cidade onde tinha chegado na tarde do dia 7 de abril de 1857 [(Re)ver RODRIGUES, 2017] escreve a José Barbosa e Silva (JBS) a carta que a seguir transcrevo.
Carta estranha! – pensará o paciente leitor, depois de a (re)ler.
Sem dúvida! Mas importante, como se há de ver, para um melhor conhecimento das relações do Escritor com o jornal A Aurora do Lima (e quem diz Aurora, diz os seus proprietários e direção). E, além disso - aspeto não menos importante - para saber-se que fortes razões terão levado o homem a vir para esta cidade e a dela fugir tão abruptamente.

Comentarei, em próximo(s) apontamento(s), esta carta. Agora é altura de a (re)ler:


MEU CARO BARBOSA.

Podes taxar esta carta de puerilidade, podendo eu annunciar-t'a de viva voz. Prefiro este expediente.
Não posso aqui viver. Falta-me tudo, por que o tudo para mim é a paz do espirito, sem a qual me é doloroso, se não impossível o trabalho.
Vim procurar saúde, e estou peor. Esperava, ao menos, as delicias da natureza, e isto aqui é terrível, não ha refugio nenhum para um homem sem relações.
Vou para o Porto brevemente: vou trabalhar p[ar]a ressarcir o que me tem custado estas evolucoens tão nocivas ao espírito como á magra algibeira.
Continuarei a collaborar na Aurora o tempo que quizeres, e acceitarei o jornal quando elle produza o necessario para eu poder aqui ter as commodidades que deixei no Porto. Virá então essa espécie de fam[ili]a que não posso hoje amputar da m[inh]a alma affeita e agradecida. Fallo da Eufrazia e de m[inh]a filha.
Os objectos, comprados p[o]r tua via, e allugados, não sei o que custam. Seja o q[ue] fôr, não estou em circumstancias de os pagar, por que apenas tenho (honra ás lettras!) o necessario p[ar]a transportar-me.
A pertinácia com que o infortúnio me persegue é horrivelm[en]te incrivel.
Ad[eu]s.

(Vianna, 25 de Maio de 1857.)[*]

Teu Camillo C. Br[an]co.
{BARBOSA, [1919]: 46-47. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 159-160]}

[*] Xavier Barbosa garante esta datação. O sobrinho direito – recorde-se – de José Barbosa e Silva teve em seu poder os autógrafos, pelo menos, das cem cartas que publicou, embora por vezes truncadas.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
RODRIGUES, David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»:http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html

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