CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (11)]
E há 160 anos – fá-los hoje, precisamente – Camilo, estando,
ainda, a viver em Viana, cidade onde tinha chegado na tarde do dia 7 de abril
de 1857 [(Re)ver RODRIGUES,
2017] escreve a José Barbosa e Silva (JBS) a carta que a seguir transcrevo.
Carta estranha! – pensará o paciente leitor, depois de a (re)ler.
Sem dúvida! Mas importante, como se há de ver, para um melhor
conhecimento das relações do Escritor com o jornal A Aurora
do Lima (e quem diz Aurora, diz os seus proprietários e direção). E, além disso - aspeto não menos importante - para saber-se que fortes razões terão levado o homem a vir para esta
cidade e a dela fugir tão abruptamente.
Comentarei, em próximo(s) apontamento(s), esta carta. Agora é
altura de a (re)ler:
MEU CARO BARBOSA.
Podes taxar esta carta de puerilidade, podendo
eu annunciar-t'a de viva voz. Prefiro este expediente.
Não posso aqui viver. Falta-me tudo, por que o
tudo para mim é a paz do espirito, sem a qual me é doloroso, se não impossível
o trabalho.
Vim procurar saúde, e estou peor. Esperava, ao
menos, as delicias da natureza, e isto aqui é terrível, não ha refugio nenhum
para um homem sem relações.
Vou para o Porto brevemente: vou trabalhar p[ar]a
ressarcir o que me tem custado estas evolucoens tão nocivas ao espírito como á
magra algibeira.
Continuarei a collaborar na Aurora
o tempo que quizeres, e acceitarei o jornal quando elle produza o necessario para
eu poder aqui ter as commodidades que deixei no Porto. Virá então essa espécie
de fam[ili]a que não posso hoje amputar da m[inh]a alma affeita e agradecida.
Fallo da Eufrazia e de m[inh]a filha.
Os objectos, comprados p[o]r tua via, e allugados, não sei o que custam.
Seja o q[ue] fôr, não estou em circumstancias de os pagar, por que apenas tenho
(honra ás lettras!) o necessario p[ar]a transportar-me.
A pertinácia com que o infortúnio me persegue é horrivelm[en]te incrivel.
Ad[eu]s.
(Vianna, 25 de Maio de 1857.)[*]
Teu Camillo C. Br[an]co.
{BARBOSA, [1919]: 46-47. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 159-160]}
[*] Xavier Barbosa garante esta datação. O sobrinho
direito – recorde-se – de José Barbosa e Silva teve em seu poder os autógrafos,
pelo menos, das cem cartas que
publicou, embora por vezes truncadas.
Até
ao próximo!
E
continue a (re)ler Camilo!
Referências:
BARBOSA,
L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo.
Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL,
Alexandre Cabral, 1984: Correspondência
de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha,
prefácio e comentários de)- Lisboa: Horizonte.
RODRIGUES,
David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»:http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
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