quarta-feira, 31 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (14)]


Depois de, no “post” anterior [(re)ver], ter abordado a nova da sua partida para o Porto, volto à velha notícia da vinda de Camilo para Viana, publicada, no jornal A Aurora do Lima, a 8 de abril de 1857. [(Re)ver]
O mais importante desta velha que deve ser renovada, encontra-se no primeiro parágrafo que, de novo, reproduzo:

Chegou hontem de tarde a esta cidade, vindo do Porto, o nosso particular amigo e collega, o Snr. Camillo Castello Branco, que conta, por motivos de saude residir temporariamente nas amenas e risonhas margens do Lima. Este cavalheiro distinguirá com a sua collaboração as columnas d’este jornal.
[Cf. Barbosa, [1919]: 78-79. Respeitada grafia da versão consultada.
Também em Anselmo, 1989: 16 e 1993: 119.]

Já nesta notícia, tal como na da partida de Camilo para o Porto, o Aurora não fora, prepositadamente, claro na informação. Prepositadamente, porque, num caso como noutro, a sua redação sabia das principais razões ou motivos que levaram o Escritor a agir como agiu.
Com efeito, como disse no “post” publicado em 21/04 [(re)ver], a vinda (apresentada mais como visita) não se devia, apenas ou principalmente, a motivos de saúde. Certo é que o filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco padecia de moléstias físicas e psíquicas. Rara é a carta para José Barbosa e Silva (JBS) em que não se diga estar ou sentir doente. O cavalheiro devia ser hipocondríaco.
Mas vamos ao que ora mais interessa.
Como se verá/lerá, pelas cartas para JBS, Camilo não só não contava apenas residir temporariamente em Viana, como, não era, de facto, somente a partir do dia 8 de abril de 1857, que ele colaboraria no jornal. As razões por que, a meu ver, Camilo trocara o Porto por Viana e, dous meses incompletos depois, Viana pelo Porto, eram de natureza profissional e económica (monetária). E sempre por causa das estreitas relações que mantinha com os irmãos Barbosa e Silva e, através deles, com A Aurora do Lima e seus amigos.
É de lembrar que Camilo, até princípio de 1857, era mais conhecido, sobretudo no Porto, como polémico jornalista e folhetinista literário, com colaboração diversa e dispersa por vários periódicos, de alguns dos quais foi fundador e de outros principal redator. É verdade que, aos 32 anos, feitos a 16 de março desse ano, o Escritor contava já, na sua bibliografia ativa, um significativo número de títulos, publicados, em folheto e/ou livro: poemas, com destaque para os volumes Inspirações (1851), Um Livro - dedicado ao seu dileto amigo JBS [(re)ver)] e Folhas Caídas Apanhadas na Lama (ambos em 1854); peças de teatro, narrativas curtas (contos e novelas); e os romances Anátema (1851), Mistérios de Lisboa, em 3 volumes, e A Filha do Arcediago (ambos em 1854), Livro Negro de Padre Dinis (1855), A Neta do Arcediago, Onde Esta a Felicidade e Um Homem de Brios (todos 1856). E que continuava, além disso, a publicar, em folhetim, narrativas, que depois reuniria na coletânea Duas Horas de Leitura (1857) e romances que, nesse mesmo ano, saíram ainda em livro – Lágrimas Abençoadas e Cenas da Foz.

É de referir que, por ser jornalista (atividade que nunca abandonou), Camilo manifestou sempre a JBS, por um lado, o seu apoio à criação de um jornal em Viana e, por outro, a disponibilidade para nessa folha colaborar. Como se pode ver no recorte epistolar seguinte, datado de 22 de abril de 1852:

Eu cuidei q[ue] o Ecco do Lima não era cousa tua. Se, contra os teus receios, o fizeres sahir do prelo, terei m[ui]ta honra em ser uma vez p[o]r outra la admitido.
{BARBOSA, [1919]: 105. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 57
que, por vez, data a carta de 25/IV]}

O título Eco do Lima não chegou a ver a aurora do dia em Viana. Mas o dia d’A Aurora do Lima haveria de chegar: aconteceu, como se sabe, três anos depois, a 15 de dezembro de 1855. Jornal este de que JBS, recorde-se, foi um dos seus principais cofundadores, coproprietários e redatores.

Apresentarei, nos “posts” seguintes, as relações que, com base nas cartas enviadas ao amigo de Viana, o seu amigo Porto manteve com o mais antigo jornal português ainda em publicação.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

ANSELMO, A., 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 19, de 03/03, p. 1O autor fez publicar, neste jornal, numa série consecutiva de 7 rodapés, num total de 28 pp., o texto referido abaixo, em Anselmo, 1993. A notícia da chegada de Camilo a Viana encontra-se reproduzida na p. 16 do quarto rodapé.
-----------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, L. X., [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.

Sem comentários:

Enviar um comentário