CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (08)]
Convido
o paciente leitor destes apontamentos a acompanhar-me em mais uma visita a «D.
Isabel Cândida (a freira)»: (re)ler as referências que, na correspondência para
José Barbosa e Silva (JBS), Camilo faz a esta sua amiga.
Antes,
porém, talvez seja conveniente recordar as 14 cartas, 12 delas remetidas até
finais de 1856, ou seja, poucos meses antes de Camilo visitar, pela segunda
vez, a cidade Viana do Castelo, em 7 de abril de 1857. [(Re)ver RODRIGUES,
2017]
Sintetizo,
no quadro seguinte, essas referências epistolares.
REFERÊNCIAS A ISABEL CÂNDIDA
EM CARTAS DE
CAMILO PARA JOSÉ BARBOSA E SILVA
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Ref.ª
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Data
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No blogue
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Bibliografia
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1.ª
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17/08/1855
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Barbosa,
[1919]: 74-75; Cabral, 1984 (I): 87
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2.ª
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21/08/1855
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Barbosa,
[1919]: 75-77; Cabral, 1984 (I): 89
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3.ª
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18/12/1855
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Barbosa,
[1919]: 4-5; Cabral, 1984 (I): 96
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4.ª
|
02/07/1856
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Cabral,
1984 (I): 102
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5.ª
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24/07/1856
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Barbosa,
[1919]: 12; Cabral, 1984 (I): 107
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6.ª
|
*03/08/1856
[?]
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Barbosa,
[1919]: 124; Cabral, 1984 (I): 108-109
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7.ª
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*07/09/1856
[?]
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Barbosa,
[1919]: 15; Cabral, 1984 (I): 116
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8.ª
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02/07/1856
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Cabral,
1984 (I): 102
|
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9.ª
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11/09/1856
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Barbosa,
[1919]: 16-17; Cabral, 1984 (I): 117-119
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10ª
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23/09/1856
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Trechos:
Neste “post”
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Cabral,
1984 (I): 120
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11
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20/10/1856
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Barbosa,
[1919]: 23; Cabral, 1984 (I): 127
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12
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15/12/1856
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Cabral,
1984 (I): 133
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13
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04/05/1858
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Barbosa,
[1919]: 133-134; Cabral, 1984 (II): 37
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14
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*Ag./St./1858 [?]
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Cabral,
1984 (II): 48
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*
O sinal [?] serve para indicar hipótese de datação. Os investigadores dos
autógrafos não conseguiram precisar as datas das respetivas cartas. Camilo
raramente datava a sua correspondência.
Repare-se
que, em 1855, ano de 11 cartas ao amigo de Viana, Camilo fala
de/ou em Isabel Cândida, por 3 vezes. Em 1856, ano de 23, se
refere 9. Todavia, em 1857, ano de 32 cartas - segundo Alexandre Cabral [cf. CABRAL, 1984 (I): 134-177] ou 35,
segundo Manuel Tavares Teles [cf.
TELES, 2008: 197-217] - em nenhuma a conventual se encontra referida.
Isabel Cândida só volta a aparecer, brevissimamente, em duas cartas de 1858,
ano em que Camilo dirigiu ao amigo de Viana cerca de uma trintena.
A
diferença entre o número de cartas datáveis de 1857 deve-se ao facto de Cabral situar
duas em 1858 (cartas n.º 100 e n.º 101) e uma de 1863 (n.º 176), enquanto Teles situa as três no ano de 1857. Porquê? Tudo tem a ver com a paternidade
de Manuel Augusto Pinheiro Alves (1858-1877), filho adulterino de Ana Plácido
(1831-1895). Adulterino porque, apesar de Manuel Pinheiro Alves (1807-1863),
marido de Ana, ter perfilhado a criança, Cabral é de opinião que Manuel
Plácido, nome por que depois ficou mais conhecido, é filho de Camilo, enquanto
Teles defende que o pai é António Ferreira Quiques (18??-1909). Camilo e
Quiques foram amigos muito próximos. Chegaram a pensar em fazer uma visita a Viana, nos
princípios de 1858, segundo refere o Escritor em carta a JBS. [Cf. CABRAL, 1984 (I): 182]. Trata-se da tal carta n.º 100, que não
se encontra em BARBOSA, [1919]. Além disso, o Escritor dedica a este (ainda) seu
grande amigo Vingança (1858), romance
de que exclui, na 2.ª edição (1863), a dedicatória. [Cf. CABRAL, 20032, respetivas entradas destes nomes e título.] Tudo isto, porém, são outros
episódios, mais ou menos enredosos, do apaixonante
romance que foi a enredada vida
apaixonada do Escritor.
Regresso, portanto, a pesar de pouco mais ser, às referências a Isabel Cândida, nas cartas de Camilo para o
benjamim Barbosa e Silva.
As
fortes relações de amizade entre o Escritor e a freira chegaram a pôr em causa
a longamente preparada e negociada vinda de Camilo para Viana, em 1857. [(Re)ver
carta datada de 11/09/1856, em RODRIGUES, 2017e, bem como, neste “post”,
abaixo, iii)] Todavia, tal não sucedeu, como se sabe. Camilo chegou e
viveu, em 1857, cerca de dois meses em Viana, como oportunamente se recordará,
descreverá e comentará.
As
referências a Isabel Cândida, que venho transcrevendo [(Re)ver RODRIGUES, 2017a
- 2017e] têm, como objetivo - recordo - ajudar o paciente leitor a formar e/ou a completar
(se é que ainda não o fez) o retrato desta
freira abastada e devotada amiga do Escritor, através das relações muito amigas
que entre ambos existiram e que nas 14 cartas se foram refletindo.
Apresentarei,
por isso e para isso, de seguida, mais cinco referências. Três delas inscritas em
cartas de 1856 e duas em cartas de 1858.
Eis
as três primeiras:
i) D.
Isabel, que estava para recolher ao Convento, resolveu ir para Lessa. Minha
filha está boa. Eu recolho ao Porto em princípio de Outubro. Estou farto disto,
e dou-me mal com o nitro do mar.
[Carta datada de 23/09/1856]
{Cabral, 1984 (I): 120. Não consta em Barbosa [1919]}
ii) A
D. Izabel pediu-me, instou q[ue] te fizesse mil saudosas recomendações, e ao
teu Luiz. [Carta
datada de 20/10/1856]
[Barbosa, [1919]: 23. Também em Cabral, 1984 (I):
127]
iii) Agradeço-te
muito os cuidados que te merece minha filha. Esteve doente em minha Casa; hoje
está no colégio. D. Isabel vive apoquentada com a minha rara frequência no
convento. Isto vai expirando lentamente: é necessário. Sem ela, eu hoje viveria
em Viana, e parece-me que feliz, quanto posso sê-lo. [Carta
datável de 15/12/1856]
{Cabral, 1984
(I): 133. Não consta em Barbosa, [1919]}
O
que de mais importante ressalta nestes fragmentos é, por um lado, o evidente
afastamento de Camilo de Isabel Cândida e, por outro, a ligação da religiosa à
Bernardina Amélia, filha adulterina de Camilo. [(Re)ver Rodrigues, 2017d] Além
disso, o Escritor mostra, mais uma vez, a vontade de sair do Porto e de montar
residência em Viana, terra por que sempre manifestou simpatia e vontade de, um dia, nela viver, como se há de ler em “posts” futuros.
Para
terminar este “post”, eis os dois últimos trechos epistolares onde Camilo fala,
de fugida, de Isabel Cândida, em cartas de 1858. Recorde-se ou saiba-se que, neste ano, as
relações amorosas entre Camilo e Ana Plácido se intensificavam. Clandestinamente.
Ainda.
iv) A Henrique Azuil entrou hontem no convento. O
Almeida Campos diz q[ue] vai depois de manhan p[ar]a Inglaterra. Recommenda-se-te
o Evaristo, e D. Izabel felicita-te cordealm[en]te pela tua eleição. [Carta datável de 04/05/1858]
[Barbosa, [1919]: 133-134. Também em Cabral, 1984
(II): 37]
v) Não
sei como a Henriqueta obterá a assinatura do marido, que está fora, e creio que
zangado com ela, por que ambos são doudos. Não vou ao convento; mas mandei o
requerimento à Isabel C. [Carta
datável de agosto/setembro de 1858]
[Cabral, 1984 (II): 48. Não consta em Barbosa,
[1919]]
Não
cabe, aqui e agora, identificar quem foram Henriqueta Azuil, Almeida Campos e
Evaristo, tudo gente conhecida e das relações também dos irmãos José e Luís
Barbosa e Silva. A seu tempo, quando oportuno, falaremos destas figuras. Interessará,
apenas, de momento, relevar que, apesar Camilo se afastar cada vez mais da
freira, a amizade entre ambos permanecia. Bernardina Amélia, a filha do
Escritor, era o forte elo que os mantinha unidos e em contacto.
Em
iv, Isabel Cândida, por intermédio de Camilo, felicita JBS pela sua eleição (primeira) para deputado por Viana. Candidato,
nesse ano de 1858, na lista governamental, obteve uns significativos 2901 votos,
contra Tomás Norton e António Pereira da Cunha que, candidatos pela lista da
coligação, obtiveram, respetivamente, 1463 e 1437 votos. [Cf. CABRAL, 1984 (II): 35]
No
próximo “post”, apresentarei os dados biográficos mais (re)conhecidos desta nossa irmão religiosa. Para que cumprido
fique o que prometi, quando começou a constar das cartas que Camilo ia remetendo para o
amigo José Barbosa e Silva. [(Re)ver RODRIGUES, 2017a]
Até
ao próximo. Continue a (re)ler Camilo.
Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
[À entrada do livro, ao centro de página ímpar (não numerada), encontra-se a
seguinte informação: «A propriedade d'este livro pertence ao CULTO CAMILIANO,
por generosa dadiva do autor.»]
BRANCO, C. C., 18582:
«Do Porto a Braga», em Duas Horas de Leitura. Porto: Cruz Coutinho.
-----------------, 18702:
A Mulher Fatal. Lisboa: Campos
Júnior.
CABRAL, Alexandre, 1984: Correspondência
de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva - I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa:
Horizonte.
-----------------, 1984: Correspondência
de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva II e com Sebastião de
Sousa. (Escolha, prefácio e
comentários de). Lisboa: Horizonte.
-----------------, 20032: Dicionário
de Camilo Castelo Branco (ed. revista e aumentada). Lisboa: Caminho.
RODRIGUES, David F.,
2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
-----------------,
2017a: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
-----------------,
2017b: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
-----------------,
2017c: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
-----------------,
2017d: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (05): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857velha-como-nova-05.html
-----------------,
2017e: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (06): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-06.html
TELES,
Manuel Tavares, 2008: Camilo e Ana
Plácido – Episódios ignorados da célebre paixão romântica. Porto: Caixotim.
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