sexta-feira, 19 de maio de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (08)]


Convido o paciente leitor destes apontamentos a acompanhar-me em mais uma visita a «D. Isabel Cândida (a freira)»: (re)ler as referências que, na correspondência para José Barbosa e Silva (JBS), Camilo faz a esta sua amiga.
Antes, porém, talvez seja conveniente recordar as 14 cartas, 12 delas remetidas até finais de 1856, ou seja, poucos meses antes de Camilo visitar, pela segunda vez, a cidade Viana do Castelo, em 7 de abril de 1857. [(Re)ver RODRIGUES, 2017]
Sintetizo, no quadro seguinte, essas referências epistolares.

REFERÊNCIAS A ISABEL CÂNDIDA
EM CARTAS DE CAMILO PARA JOSÉ BARBOSA E SILVA
Ref.ª
Data
No blogue
Bibliografia
1.ª
17/08/1855
Integral: (Re)ver
Barbosa, [1919]: 74-75; Cabral, 1984 (I): 87
2.ª
21/08/1855
Integral: (Re)ver
Barbosa, [1919]: 75-77; Cabral, 1984 (I): 89
 3.ª  
18/12/1855
Trechos: (Re)ver
Barbosa, [1919]: 4-5; Cabral, 1984 (I): 96
4.ª
02/07/1856
                                    Cabral, 1984 (I): 102
5.ª
24/07/1856
Trechos: (Re)ver
Barbosa, [1919]: 12; Cabral, 1984 (I): 107
6.ª
*03/08/1856 [?]
Barbosa, [1919]: 124; Cabral, 1984 (I): 108-109
7.ª
*07/09/1856 [?]
Barbosa, [1919]: 15; Cabral, 1984 (I): 116
8.ª
02/07/1856
                                   Cabral, 1984 (I): 102
9.ª
11/09/1856
Integral: (Re)ver
Barbosa, [1919]: 16-17; Cabral, 1984 (I): 117-119
10ª
23/09/1856
Trechos: Neste “post”
                                   Cabral, 1984 (I): 120
11
20/10/1856
Barbosa, [1919]: 23; Cabral, 1984 (I): 127
12
15/12/1856
                                   Cabral, 1984 (I): 133
13
04/05/1858
Barbosa, [1919]: 133-134; Cabral, 1984 (II): 37
14
*Ag./St./1858 [?]
                                   Cabral, 1984 (II): 48
* O sinal [?] serve para indicar hipótese de datação. Os investigadores dos autógrafos não conseguiram precisar as datas das respetivas cartas. Camilo raramente datava a sua correspondência.

Repare-se que, em 1855, ano de 11 cartas ao amigo de Viana, Camilo fala de/ou em Isabel Cândida, por 3 vezes. Em 1856, ano de 23, se refere 9. Todavia, em 1857, ano de 32 cartas - segundo Alexandre Cabral [cf. CABRAL, 1984 (I): 134-177] ou 35, segundo Manuel Tavares Teles [cf. TELES, 2008: 197-217] - em nenhuma a conventual se encontra referida. Isabel Cândida só volta a aparecer, brevissimamente, em duas cartas de 1858, ano em que Camilo dirigiu ao amigo de Viana cerca de uma trintena.
A diferença entre o número de cartas datáveis de 1857 deve-se ao facto de Cabral situar duas em 1858 (cartas n.º 100 e n.º 101) e uma de 1863 (n.º 176), enquanto Teles situa as três no ano de 1857. Porquê? Tudo tem a ver com a paternidade de Manuel Augusto Pinheiro Alves (1858-1877), filho adulterino de Ana Plácido (1831-1895). Adulterino porque, apesar de Manuel Pinheiro Alves (1807-1863), marido de Ana, ter perfilhado a criança, Cabral é de opinião que Manuel Plácido, nome por que depois ficou mais conhecido, é filho de Camilo, enquanto Teles defende que o pai é António Ferreira Quiques (18??-1909). Camilo e Quiques foram amigos muito próximos. Chegaram a pensar em fazer uma visita a Viana, nos princípios de 1858, segundo refere o Escritor em carta a JBS. [Cf. CABRAL, 1984 (I): 182]. Trata-se da tal carta n.º 100, que não se encontra em BARBOSA, [1919]. Além disso, o Escritor dedica a este (ainda) seu grande amigo Vingança (1858), romance de que exclui, na 2.ª edição (1863), a dedicatória. [Cf. CABRAL, 20032, respetivas entradas destes nomes e título.] Tudo isto, porém, são outros episódios, mais ou menos enredosos, do apaixonante romance que foi a enredada vida apaixonada do Escritor.

Regresso, portanto, a pesar de pouco mais ser, às referências a Isabel Cândida, nas cartas de Camilo para o benjamim Barbosa e Silva.
As fortes relações de amizade entre o Escritor e a freira chegaram a pôr em causa a longamente preparada e negociada vinda de Camilo para Viana, em 1857. [(Re)ver carta datada de 11/09/1856, em RODRIGUES, 2017e, bem como, neste “post”, abaixo, iii)] Todavia, tal não sucedeu, como se sabe. Camilo chegou e viveu, em 1857, cerca de dois meses em Viana, como oportunamente se recordará, descreverá e comentará.
As referências a Isabel Cândida, que venho transcrevendo [(Re)ver RODRIGUES, 2017a - 2017e] têm, como objetivo - recordo - ajudar o paciente leitor a formar e/ou a completar (se é que ainda não o fez) o retrato desta freira abastada e devotada amiga do Escritor, através das relações muito amigas que entre ambos existiram e que nas 14 cartas se foram refletindo.

Apresentarei, por isso e para isso, de seguida, mais cinco referências. Três delas inscritas em cartas de 1856 e duas em cartas de 1858.
Eis as três primeiras:

i) D. Isabel, que estava para recolher ao Convento, resolveu ir para Lessa. Minha filha está boa. Eu recolho ao Porto em princípio de Outubro. Estou farto disto, e dou-me mal com o nitro do mar. [Carta datada de 23/09/1856]
{Cabral, 1984 (I): 120. Não consta em Barbosa [1919]}

ii) A D. Izabel pediu-me, instou q[ue] te fizesse mil saudosas recomendações, e ao teu Luiz. [Carta datada de 20/10/1856]                                        
[Barbosa, [1919]: 23. Também em Cabral, 1984 (I): 127]

iii) Agradeço-te muito os cuidados que te merece minha filha. Esteve doente em minha Casa; hoje está no colégio. D. Isabel vive apoquentada com a minha rara frequência no convento. Isto vai expirando lentamente: é necessário. Sem ela, eu hoje viveria em Viana, e parece-me que feliz, quanto posso sê-lo. [Carta datável de 15/12/1856]
 {Cabral, 1984 (I): 133. Não consta em Barbosa, [1919]}

O que de mais importante ressalta nestes fragmentos é, por um lado, o evidente afastamento de Camilo de Isabel Cândida e, por outro, a ligação da religiosa à Bernardina Amélia, filha adulterina de Camilo. [(Re)ver Rodrigues, 2017d] Além disso, o Escritor mostra, mais uma vez, a vontade de sair do Porto e de montar residência em Viana, terra por que sempre manifestou simpatia e vontade de, um dia, nela viver, como se há de ler em “posts” futuros.

Para terminar este “post”, eis os dois últimos trechos epistolares onde Camilo fala, de fugida, de Isabel Cândida, em cartas de 1858. Recorde-se ou saiba-se que, neste ano, as relações amorosas entre Camilo e Ana Plácido se intensificavam. Clandestinamente. Ainda.

iv) A Henrique Azuil entrou hontem no convento. O Almeida Campos diz q[ue] vai depois de manhan p[ar]a Inglaterra. Recommenda-se-te o Evaristo, e D. Izabel felicita-te cordealm[en]te pela tua eleição. [Carta datável de 04/05/1858]
[Barbosa, [1919]: 133-134. Também em Cabral, 1984 (II): 37]

v) Não sei como a Henriqueta obterá a assinatura do marido, que está fora, e creio que zangado com ela, por que ambos são doudos. Não vou ao convento; mas mandei o requerimento à Isabel C. [Carta datável de agosto/setembro de 1858]
[Cabral, 1984 (II): 48. Não consta em Barbosa, [1919]]

Não cabe, aqui e agora, identificar quem foram Henriqueta Azuil, Almeida Campos e Evaristo, tudo gente conhecida e das relações também dos irmãos José e Luís Barbosa e Silva. A seu tempo, quando oportuno, falaremos destas figuras. Interessará, apenas, de momento, relevar que, apesar Camilo se afastar cada vez mais da freira, a amizade entre ambos permanecia. Bernardina Amélia, a filha do Escritor, era o forte elo que os mantinha unidos e em contacto.
Em iv, Isabel Cândida, por intermédio de Camilo, felicita JBS pela sua eleição (primeira) para deputado por Viana. Candidato, nesse ano de 1858, na lista governamental, obteve uns significativos 2901 votos, contra Tomás Norton e António Pereira da Cunha que, candidatos pela lista da coligação, obtiveram, respetivamente, 1463 e 1437 votos. [Cf. CABRAL, 1984 (II): 35]

No próximo “post”, apresentarei os dados biográficos mais (re)conhecidos desta nossa irmão religiosa. Para que cumprido fique o que prometi, quando começou a constar das cartas que Camilo ia remetendo para o amigo José Barbosa e Silva. [(Re)ver RODRIGUES, 2017a]

Até ao próximo. Continue a (re)ler Camilo.

Referências:
BARBOSA, L. Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora. [À entrada do livro, ao centro de página ímpar (não numerada), encontra-se a seguinte informação: «A propriedade d'este livro pertence ao CULTO CAMILIANO, por generosa dadiva do autor.»]
BRANCO, C. C., 18582: «Do Porto a Braga», em Duas Horas de Leitura. Porto: Cruz Coutinho.
-----------------, 18702: A Mulher Fatal. Lisboa: Campos Júnior.
CABRAL, Alexandre, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva - I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
-----------------, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva II e com Sebastião de Sousa. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
-----------------, 20032: Dicionário de Camilo Castelo Branco (ed. revista e aumentada). Lisboa: Caminho.
RODRIGUES, David F., 2017: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (01)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857velha-como-nova-01.html
-----------------, 2017a: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (02)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-02.html
-----------------, 2017b: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (03)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-03.html
-----------------, 2017c: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (04)»: http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/04/camilo-viana-1857-velha-como-nova-04.html
-----------------, 2017d: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (05): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857velha-como-nova-05.html
-----------------, 2017e: «CAMILO &M VIANA / [1857: “velha” como “nova” (06): http://vianacamilo.blogspot.pt/2017/05/camilo-viana-1857-velha-como-nova-06.html
TELES, Manuel Tavares, 2008: Camilo e Ana Plácido – Episódios ignorados da célebre paixão romântica. Porto: Caixotim.

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