terça-feira, 25 de março de 2014

007. Viana em Camilo / [«Tramoias d'Esta Vida» (1863)a*]


Tramoias desta Vida é um conto que Camilo publicou, em 1863, no jornal lisboeta Revolução de Setembro e que, nesse mesmo ano, integrou na coletânea Noites de Lamego, título que o próprio, no prefácio, considera «abstruso». [Cabral, 1989: 448-449 e 562-563] Assim:

[Branco, 19083: 5**]

Tramoias é um «conto moral». Ver-se-á, depois, porquê. Assim o classifica o escritor-autor-narrador (nem sempre é fácil distinguir estas instâncias narratológicas na obra camiliana), que informa, ainda, em nota, ter sido pessoa fidedigna que lhe contou a história, «acontecida, ha quinze anos, na villa de Esposende e em outras partes».
Esta nota constitui uma clara estratégia discursivo-narrativa dupla. Por um lado, de veracidade ou, pelo menos, de verosimilhança; por outro, de sedução, fazendo do leitor seu narratário mais ou menos explícito e dialogicamente cúmplice. Estratégia que se mantém ao longo da narrativa e que é, como se sabe, uma das características do estilo camiliano.


A ação da narrativa começa, de facto, em Esposende. Mas passa também por outras terras: «Pinhatel» (localidade que, a ter existido, se situaria no distrito de Braga, mas que ainda não localizei), Castro Laboreiro, e cidades do Porto e Lisboa, para referir os principais lugares onde se deram os acontecimentos narrados mais relevantes. E ainda Vila do Conde: dois dos três conventos preferidos por um dos personagens, onde, num deles, acabou por se recolher e falecer, situavam-se neste concelho. O terceiro situava-se em Viana, onde, naquele tempo (à volta de 1855), se mantinham abertos seis conventos, entre masculinos e femininos. Mas Camilo não revela o nome nem a localização desta casa religiosa.

Ao longo do Tramoias, o Escritor nomeia Viana, explicitamente, por três vezes. A primeira encontra-se no seguinte transcrito:

Agora vamos em cata d’elle ao Alto Minho. Vai o leitor pasmar-se d’aquellas bem-aventuradas margens do Lima. Entra comigo em Vianna, na louçã namorada do oceano, n’aquella esquiva formosa que vacilla entre deixar-se amar das ondas, que lhe beijam os pés, ou dos arvoredos que lhe enramam a fronte. Agora, vamos n’este barquinho rio acima até Ponte do Lima. Não se me fique arrobado n’este ondear de esmeralda que a viração balança, que receio me deixe ir sosinho em procura do Brazileiro. Aquillo são bosques, que escondem moitas arrelvadas, e meandros de fontes, e amores de aves, e amores de damas castellãs, que por ali se escondem mais conhecidas das estrellas que nossas, e mais conhecidas ainda dos fáunos illustrados do sítio que das estrellas.
Aqui estamos na velha Ponte. Iremos por terra a Valença, que é um ir sempre ao debaixo de abobodas de verdura.

Este personagem, em cata e na peugada (dirá depois) de quem o escritor/narrador quer ir, acompanhado pelo leitor/narratário – «vamos» e «Vai o leitor pasmar-se» – é João Moreira, um brasileiro (português de torna-viagem) que se dirige para Valença, com passagem pela velha Ponte [do Lima]. Respeitosamente «velha», no sentido de vetusta, quererá dizer Camilo, referindo-se tanto à via como à vila. Ou não soubesse este cultíssimo autor que tanto uma (romana e medieval) como outra (fundada em 1125) são de muita antiguidade.
Viana nas Tramoias de Camilo recebe uma descrição geográfica, poeticamente lírica e bucólica, bem como o seu rio e paisagens envolventes, e, de passagem, uma breve alusão à verdura do Alto Minho. São pormenores de pouco interesse para a história, mas que, por isso mesmo, mostram e confirmam as relações simpáticas de Camilo para com Viana e a presença de Viana em Camilo. É um louvor do escritor-poeta às belas condições geográficas e naturais desta terra, em particular, e do Alto Minho, em geral. Nele, o escritor/narrador aponta e dá a ver, como se um guia turístico fosse, ao leitor/narratário, as belezas paisagísticas da cidade e de parte da região. Mas é também, implicitamente, a expressão do apreço e consideração que Camilo tinha pelos seus inseparáveis amigos vianeses, com os irmãos Barbosa e Silva à cabeça, aos quais se sentia profundamente unido por laços muito fortes, quase fraternos, como se sabe(rá).

Mas, além de brasileiro – perguntar-me-á o leitor que ainda não leu ou já esqueceu a história – (i) quem é este João Moreira e (ii) que vai ele fazer a Valença?
Convirá, todavia, antes de (cor)responder, referir que este brasileiro, português de Esposende, não se enquadra no brasileiro-tipo (e típico) camiliano. João Moreira não é, a nível humano e social, como os outros emigrantes do século XIX que o Escritor frequentemente ridiculariza, em novelos mais ou menos enredados das suas novelas.
Regressa também endinheirado, como tantos outros, do Brasil, para onde emigrara menino, tal como o Jacinto de Deus e Aquino, d’A Bruxa de Monte Córdova, que aqui em Viana embarcou. [Cf. Rodrigues, 2013 e/ou 2014] João teria uns dez anitos, quando deixou, em Esposende, os pais e com eles a única irmã – Serafina – um nadita mais velha que ele, possivelmente.
Como outros brasileiros, também ele procura libertar da pobreza os familiares que em Portugal deixou pobres e pobres continuam. Todavia, não o faz de forma interesseira, nem ostensiva e ostentosa. Não regressa carregado de anéis e correntes, não fuma grossos charutos nem usa bengala encastoada. Não é gordo de corpo nem traz espírito engordurado. Não negoceia afetos nem casamentos. Não compra títulos nem comendas. Não corrompe padres nem consciências. Não afronta nem confronta.

 É, porém, um sexagenário, viúvo e solitário.

Quando estava rico e velho, morreu-lhe a mulher, e, no breve termo de um anno, seus tres filhos. Lembrou-se então de Esposende e da irmã. Estava só, amargurado, contemplador melancolico, de sua inutil riqueza. / Veiu, então, para Portugal em busca de familia, e envergonhado de, só á hora do desamparo, procurar sua irmã.

À terra natal chegou, passados cinquenta anos, e como forasteiro, anónimo e irreconhecível pela da parentela e patrícios quis passar. Do Brasil, correspondência ainda manteve com os pais, enquanto vivos foram. Depois, «casou, trabalhou, enriqueceu para os filhos, e esqueceu-se da patria e da irmã».
Frente à casa paterna, verifica que já não era a irmã quem nela morava. A nova proprietária informou-o de que a taverneira tia Serafina da Tenda enviuvara e, há dois anos, falecera. Com o enorme desgosto que lhe dera a filha – Balbina Rosa. Coitada, «chorou até morrer, e poucas semanas chorou» – comentava-lhe a nova inquilina da antiga casa paterna.
João Maria fica, assim, sabendo que, dos parentes mais próximos, só lhe restava a filha única da irmã e, por isso, sua sobrinha. Só que Balbina, depois de requestada pelo morgado de Pinhatel – Gastão de Mendonça – fugiu de casa e entrou no solar do fidalgo, «homem de quarenta anos, vicioso, dissipador e escalavrado pela libertinagem». Ela, pelo contrário, «tinha dezesseis anos, costumes irreprehensiveis, muita saude e muita alegria.»
Não tardou, porém, que o nobre Gastão, aumentativo em nome e defeitos, «de linhagem tão antiga, que se apagava nas trevas da mythologia», se cansasse e aborrecesse dela. Balbina, torturada pelas mil agulhas do remorso, não parava de chorar a mãe que abandonara e entretanto falecera. O morgado, enfastiado, partiu em requesto de outras, «ora no Porto, ora na Foz, amando em toda a parte, com applauso de sua vaidade, inveja dos rapazes e beneplacito de illustres damas, menos mal comportadas, na impeccavel opinião publica.» De vez em quando, regressava, para vender propriedades. Mas logo tornava à Foz, «onde perdêra, jogando, o dinheiro de outras, que tinha vendido.»
Um dia, porém, ao regressar, não encontrou Balbina. A moça sentiu-se abandonada, traída e, acima de tudo, desamada. Os criados informaram o patrão que ela tinha abandonado o solar, sem deixar rasto nem destino. Em Pinhatel, pensava-se que tinha regressado a Esposende. Em Esposende, desconhecia-se-lhe o paradeiro. Desparecida, rezaram-lhe pela alma: ter-se-ia atirado ao Cávado.
Mas não. A nova proprietária da casa da falecida Serafina informou o brasileiro desconhecido que um moço lá da terra, soldado no regimento de Valença, a tinha topado na serra do Laboreiro, pastora de cabras. João decide procurar o sodado, na esperança de que ele o ajude a encontrar Balbina.


É, neste momento da história, começada em Esposende, que entra em cena, pela primeira vez, Viana, conforme o trecho acima transcrito. João Moreira chega aqui, certamente de barco, e de barco segue até Ponte de Lima. Vai, depois, para Valença, sob as tais abóbodas de verdura, certamente por velha estrada e caminhos velhos, com pedras e vestígios ainda da antiga via romana Braga – Tui.
Terá o brasileiro encontrado o tal soldado e, com ou sem ele, chegado à sobrinha?...
Ver-se-á no próximo capítulo, perdão, post. A não ser que queiram (re)ler, entretanto, o conto contado por Camilo. Porém, se o fizerem, avisem-me, por favor. Sempre me livrarão da próxima tramoia. Porque, se o não fizerem, lá terão de me aturar noutra postagem.
 [Continuará]

* Este post é uma versão reduzida (e adaptada ao presente formato e tipo de edição), de parte de artigo publicado no tomo 47 (2013) Cadernos Vianenses. [Cf. Rodrigues, 2013a)
** A fim de não sobrecarregar o post, com páginas de citações, informo que a narrativa ocupa, na edição consultada [19083], as pp. 71 a 112, e que, de ora em diante, as citações efetuadas neste texto se encontram entre as pp. 71 e 83, passim. Mais informo que citações não ipsis verbis vão em itálico.

Leituras
BRANCO, Camillo Castello, 19083 (1.ª ed. 1863): «Tramoias d’Esta Vida». Em Noites de Lamego. Lisboa: Parceria Antonio Maria Pereira; pp. 71-112.
CABRAL, 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho. (2.ª ed., 2003)
RODRIGUES, David F., 2013: «Viana & Camilo – Presenças e situações». A Falar de Viana (Vol. II, Série 2). Viana do Castelo: Vianafestas, pp. 205-213.
----------, 2013a: «Viana em Camilo: [“Tramoias d’esta Vida”]. Cadernos Vianenses, Tomo 47. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo; pp. 113-127.
---------, 2014: 002. VIANA EM CAMILO [01] / [A Bruxa de Monte Córdova (1867)]. AQUI.

domingo, 16 de março de 2014


006. Camilo faz hoje 189 anos.

A 16 de março de 1825, nascia, em Lisboa, em prédio situado na Rua da Rosa (Bairro Alto), um indivíduo do sexo masculino que, segundo o respetivo assento de batismo (14 de abril), celebrado na Igreja dos Mártires (Chiado), era «filho natural» de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, solteiro, e de «mãe incógnita». Este Manuel Joaquim, irmão do célebre Simão Botelho do Amor de Perdição, era de assumida ascendência nobre, da então conhecida família «Brocas» de Vila Real.


Faz, hoje, por isso, 189 anos que esse menino, pela sua extraordinária vida-e-obra ou obra-e-vida se tornou e para sempre ficará como uma das figuras mais importantes e controversas da literatura em português criada. A tal ponto e de tal modo que, desde meados do séc. XIX, é conhecido pelo primeiro nome – CAMILO. E

Três sílabas. Tanto basta para nomear o mais popular e mais português dos nossos criadores modernos. [Lourenço, 1994: 219]

Camilo ficou totalmente órfão em 1835, com a morte do pai, em 22-XII. A ignorada sua mãe havia falecido já em 1827. O conselho de família, então constituído em Lisboa, decidiu entregar o menino e sua irmã Carolina, mais velha quatro anos, aos cuidados de uma tia paterna, Rita Emília, residente em Vila Real. Acompanha as duas crianças a última regente da casa e incógnita madrasta dos filhos de Manuel Joaquim.
Na sequência desta decisão, cujos pormenores não caberá agora referir, o menino Camilo (tinha perto de onze anos) atravessou, pela primeira vez, o Alto Minho, em 1836. A viagem de Lisboa fez-se por mar. O destino era o Porto. Uma tempestade, porém, levou ao desembarque dos passageiros em Vigo. Daqui, seguiram, por terra, para Vila Real. O Escritor recordará, mais tarde, as impressões indeléveis que estes acontecimentos lhe deixaram no espírito.
Camilo refere-se, em vários títulos da sua vastíssima obra, a este marcante acontecimento da sua vida. Marcante não só pela tormentosa viagem, mas também por ter ocorrido poucos meses após a morte do pai, a cuja agonia assistira e cujas últimas palavras recordará:

"Que será de ti, meu filho, sem ninguém que te ame!..." [Branco, 1864: 15][i]


É precisamente No Bom Jesus do Monte que o Escritor, no capítulo «1835-II»[ii], descreve a referida viagem, depois de ter relatado, em I, a morte do pai [id.: 13-15]. Dedicado ao arqueólogo vimaranense Francisco Martins Sarmento, outro dos seus grandes amigos, No Bom Jesus do Monte, recorde-se, é um conjunto de narrativas, centradas nos anos em que Camilo mais íntima e profundamente se sentiu atado à estância bracarense. No frontispício da coletânea, autocitando-se, transcreve do «Discurso Preliminar» de Memórias do Cárcere, a passagem seguinte, significativa ao nível dos afetos que, desde muito cedo, prendiam o Escritor ao Bom Jesus:


Áquellas florestas sinto eu atado ainda o coração por mui tragadoras lembranças. Em diversas estações da minha vida lá fui a conversar com o passado que ahi me florira, ou a inflorar esperanças que reverdeceram no pó d’outras que se desfizeram. [Branco, 1864: frostispício][iii]


Eis, agora, o trecho em que, No Bom Jesus do Monte, Camilo recorda a parte final da viagem marítima e, por terra, de Vigo a Braga, a caminho de Vila Real:

[Branco, 1864: 16-18]

No templo do Bom Jesus, acompanhando a irmã e a ama, sentiu o menino Camilo, órfão de onze anos, sentimentos estranhos. Mas essa confissão ficará para outro post. Como para outros posts ficarão outras passagens de outras obras em que o Escritor se refere à mesma viagem e/ou aos sentimentos que o ataram ao éden de Braga.

O Romancista nomeia Valença e Ponte de Lima, mas não recorda nem regista qualquer peripécia que tivesse ocorrido, durante a célebre viagem, no distrito de Viana. Nem descreve caminhos e paisagens do Alto Minho por onde terá passado. Mas José Rosa de Araújo, calcorreador e perscrutador dos velhos caminhos da região, imagina, em artigo publicado nos Cadernos Vianenses, como terá sido essa «primeira viagem de Camilo». Remeto o interessado para o sítio, na edição do tomo respetivo, também já disponível online, em Araújo, 1984. O meu estimado leitor não há de querer que lhe faça a papinha toda, pois não?!...

Leituras
ARAÚJO, José Rosa de, 1984: «A primeira viagem de Camilo». Em Cadernos Vianenses (Tomo VIII). Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo; pp. 49-56. Também AQUI.
BRANCO, Camilo Castelo, 1864: No Bom Jesus do Monte. Porto: Viúva Moré, Editora.
-----------, 18642: Memórias do Cárcere (tomo I). Porto: Viúva Moré, Editora.
CLÁUDIO, Mário, 20072: Camilo Broca. Lisboa: Dom Quixote.
LOURENÇO, Eduardo, 1994: «Situação de Camilo». Em O Canto do Signo. Existência e Literatura (1957-1993). Lisboa: Presença; pp. 219-226.


[i] Para um relato romanceado da infância de Camilo, seja-me permitido recomendar a leitura de Camilo Broca, de Mário Cláudio [2006, 20072]. Existe também edição em e-book.
[ii] Cabe observar que, não obstante o título do capítulo e afirmação de Camilo, no final do excerto, a viagem se realizou em 1836 e não em 1835. Sabe-se como Camilo confundia datas e outras «bagatelas».
[iii] Curiosamente, a parte final desta citação não é totalmente coincidente com que encontra na segunda edição de Memórias do Cárcere. Aqui está: «… esperanças que reverdejavam do pó d’outras desfeitas». [Cf. Branco 18642 (I): XLVIII]

sexta-feira, 7 de março de 2014


005. VIANA EM CAMILO [03b]
          [A Bruxa de Monte Córdova (1867)]


Este post é continuação do anterior (cf. AQUI). Apresento o relato ficcionado que Camilo faz, em A Bruxa de Monte Córdova, do assassínio violento do sanguinário miguelista João Pita Bezerra, natural de Darque, por uma furiosa chusma de portuenses. É o que se (re)lerá a seguir, depois de prévia e breve contextualização.
Com a morte em combate do liberal Tomás de Aquino, companheiro de Angélica Florinda, de quem tinha um filho, o octagenário fr. Jacinto de Deus transforma-se numa espécie de pai adotivo da criança (a quem tinham dado o nome de Jacinto de Deus, em homenagem ao frade amigo) e em protetor da mãe solteira. O monge oferece a Angélica abrigo em suas propriedades. Ela, porém, preferindo recolher-se a um convento, a criação do menino é entregue a uma ama – a senhora Maria, mulher de Bento Gomes, camarada de armas de Tomás de Aquino – a quem o frade paga uma mesada. Para a mãe poder visitar o filho, fr. Jacinto aluga um sótão próximo do convento. Um dia, ao revisitar a ama e o afilhado, a senhora Maria (cujo léxico pessoal o Escritor reproduz, por vezes), depois de acusar a berzabum da beata Angélica de deixar de visitar o filho, diz ao velho frade:

– Olhe lá, senhor frei Jacintro! – disse a ama – não sabe que prenderam o Pitta Bezerra? Aquelle grande carrasco?
– Prenderam?
– Mas o povo está na cordoaria á espera que elle saia do tribunal da Rua da Fabreca para o matar. Eu, se não tivesse esta criança, também lá ia cortar-lhe uma orelha.
– Que mal fez o Pitta Bezerra á senhora Maria? – perguntou o frade.
– Diabos o arrastem, que nunca o vi; mas matou ahi gente nesse Porto que não lhe sei dizer. Eu disse a duas visinhas que lá foram: ó mulheres, se me trazeis a ponta do nariz desse ladrão pago-vos duas canadas de vinho maduro, e mais ele está pelas portas da morte.
– Essa sede de sangue é impropria duma mulher, senhora Maria...
– Podéra não! tomára eu vêr todos os caipiras picados como çabolla de estrugido.
O frade ia dizendo entre si: «O sexo fraco, do qual dizem que a brandura da alma é o seu particular condão!...»
Encaminhou-se frei Jacintho de Deus á rua da Fabrica. Quando chegou á rua de Santo Antonio, viu grande chusma de povo a desbordar da viella do Correio, urrando «morras» e floreando no ar espadas e chuças. Ao convisinhar da revoluteante mó de mulheres, maltrapidos e garotos ouviu que os gritos diziam: «Morra o Pitta Bezerra.» Perguntou onde estava ele e disseram-lhe que estava a ser julgado e que o esperavam para o matar.
– Não seria melhor que o deixasseis ser castigado pelas leis?
– Quais leis nem qual diabo! – bradou um soldado dos batalhões fixos, sacudindo uma espada curta. – A lei é o povo! Será você algum burro da panela d’elle?
– Não sou, camarada – respondeu serenamente o frade – eu sou um dos que ele meteu na cadeia.
– E então está aí a dar aos taleigos a favor do malvado que tirou um pedaço de nadega a meu irmão, salvo tal lugar, aqui! Ora meu velhote, não se vá fazer fino com palavriado lá para o meio do povo, que lhe vão à pavana! Tome o meu conselho...
Frei Jacintho muito cosido com a parede, pedindo licenças com a maior humildade, chegou até à porta do tribunal, a tempo que Pitta Bezerra descia as escadas entre soldados.
Ao verem-no, centuplicaram-se os gritos. Os silvos das mulheres, como os da cobra cascavel, sobrelevavam os rugidos dos tigres, que nada menos se figuravam aquelles homens recurvando as garras para o sevo da carniça.
Pitta Bezerra, já condenado á morte, chegou ao limiar do pateo com o sangue já represado no coração. Encostado ao alisar da porta estava o frade. O sentenciado, que ali chegara com parecenças de cadaver, encarou no homem da batina.
– Sou aquelle pobre frade, senhor Pitta Bezerra... – disse frei Jacintho de Deus; e, assomando no umbral da porta, disse voltado para o povo:
– Não queiraes manchar vossas mãos puras com o sangue do criminoso. Povo valente, povo magnanimo! vós déstes á justiça a victoria; quebrastes as algemas aos legisladores; deixae agora á justiça a missão de vos vingar.
– Que diz o asno? – bradou uma regateira.
– Fóra burro!... – conglobaram-se muitos gritos.
– Quem vos falla – tornou o frade imperturbavel – é um dos homens inoffensivos que este cruel lançou em ferros. Mas não permitta Deus, nem a liberdade, que vossos braços conquistaram, que eu vos incite a matar este criminoso sem que todas as suas victimas o possam ver no patibulo. Sabeis que se mata um homem num momento? Que é pequeno castigo para este matador tirar-lhe num instante a vida, quando ele tantas arrancou vagarosamente com demorados tormentos? Não querereis antes vêl-o caminhar do oratorio á forca? Cidadãos! deixae-o entrar com vida na cadeia; e não lhe deis o praser de o matar n’um curto momento; porque elle decerto antes quer a morte repentina com que o ameaçaeees do que a lenta agonia do oratorio e o espectaculo da infamante morte. Quantos parentes vossos cairam nos baluartes d’esta cidade acutilados ou varados de pelouros? Morreram, e contudo eram honrados defensores d’uma causa justa! E quereis vós, imprudentes, que este homem acabe como acabaram os valentes que choraes? Quereis que elle não tenha paroxismos mais duradouros? Quereis que elle d’aqui a cinco minutos esteja insensível aos castigos que devem prolongar-se até que o peso do carrasco lhe aperte a garganta? Cidadãos, vêde o que fazeis! A vida d’este homem deve ser cortada fio a fio. Se o mataes d’um golpe, podereis dizer que não vingastes as victimas de Pitta Bezerra.
– Apoiado! – conclamaram muitas vozes. – Apoiado!, deixal-o ir! Não se mate! Diz bem o padre: hade morrer aos pedaços! ... Ferros com elle! Deixem passar, mulheres!
A escolta abriu passagem. Pitta Bezerra ao perpassar pelo padre baixou-lhe um olhar de implorativa gratidão. Frei Jacintho não o encarou.
Vinte passos andados, a turba que sobreveio do lado dos Clerigos, e não tinha ouvido a allocução triumphante do frade, rompeu de chofre e ferro apontado contra a escolta, arrancou do preso, acutilou-o, espedaçou-lhe o rosto, estrangulou-o com um grosso sparto, arrastou-o esphacellado pelas ruas, e levou-lhe o arcaboiço meio escamado á beira do Douro, onde o arrojou, urrando uma prolongada dissonância de gritos exultantes, vociferados pelos mesmos que tinham cuspido affrontas às cabeças cravadas nos espeques da Praça Nova em 1829.
Era o mesmo povo. [Branco, 1867: 142-145]

E que mais se sabe deste desgraçado, além do que nos conta Camilo e do que se disse no final do post anterior?
Pouco mais. O jornalista Germano Silva [2007], em resposta a carta de leitor do Jornal de Notícias, interessado também na releitura de A Bruxa, escreve, baseado em «crónica da época», que Pita Bezerra foi «“o mais audaz de quantos caceteiros miguelistas enxamearam a esse tempo a velha cidade”». E acrescenta, citando:
«Consta da citada crónica que “todas as noites descia ao Largo de S. Domingos acompanhado de uma malta ignóbil e daí para cima o sanguinolento quadrilheiro espancava ou mandava espancar quantas pessoas encontrava e que, por não serem suas conhecidas, ele de imediato tomava como sendo hostis à causa de D. Miguel”.
Conta mais o cronista “… Desgraçado que não fosse das suas relações ou não gritasse ao avistar a malta do Pita Bezerra, viva o senhor D. Miguel e morram os constitucionais, podia contar com a cabeça aberta e as costelas amolgadas porque o caceteiro, sem dar tempo a justificação alguma, cuspia nas mãos, levantava o cacete e gritava para os seus apaniguados, vamos a este rapazes! E era pancadaria de criar bicho…”
Caso para dizer que Pita Bezerra fez a cama onde depois o deitaram…»

E quanto ao tal solar de Darque, junto do rio Lima, propriedade de Pita Bezerra?


Confirma-se a hipótese formulada no post anterior. A casa mais elevada (1), parcialmente reproduzida na aguareal do pintor Salvador Vieira [cf. Oliveira, 2011: 115], pertenceu à família dos Pitas de Darque. Sobre o portão de entrada da quinta, encontra-se a pedra de armas (2), as mesmas que se encontram na respetiva carta de brasão (3), estudada Manuel Artur Norton [1983].

Talvez não seja descabido dizer, antes de terminar as referências de Camilo a Viana, em A Bruxa de Monte Córdova, que este romance é um autêntico drama, uma tragédia, pessoal – ao nível dos afetos – por um lado, e social – a nível religioso e político ou político-religioso, se preferirem – por outro. É uma inexorável denúncia, uma implacável acusação, uma  inclemente condenação de todos os fundamentalismos (para utilizar um termo atual). Como sintetiza Alexandre Cabral, na «Nota introdutória» à edição de 1982, encontra-se, «n’A Bruxa de Monte de Córdova, de forma lapidar, a influência que exerceu na carnificina [guerra civil de 1832-34, sobretudo] a pregação fradesca [convém excluir fr. Jacinto de Deus], a intolerância daqueles que queriam impor a verdade do seu credo pelos infalíveis e repugnantes meios da forca, das perseguições e ódios políticos, chegando-se já nesse tempo, á proclamação do execrando princípio do “quem não é por nós é contra nós”.»
E, dentro do mesmo espírito de análise, observa ainda: «A luta fraticida estende-se de norte a sul do país, empapando a terra portuguesa do generoso sangue de seus filhos. Assiste-se às perseguições, às vinganças e às sevícias das parcialidades sobre os adversários ideológicos. Porque – conclui – é disso efectivamente que se trata neste romance: do confronto entre duas ideologias[CABRAL, 1982]
Por tudo isto e sobretudo pelo muito que este romance encerra e a sua leitura revela, A Bruxa de Monte Córdova é uma das obras de Camilo a ler e/ou a reler. Até pelos incómodos que poderá, ainda hoje, provocar. Uma obra, por isso, também a estudar. Criticamente, como sempre deve ser.

Leituras

ARAÚJO, José Rosa de, 1980: «Camilo e Ponte de Lima». Limiana, n.º 35. Ponte de Lima: jornal Cardeal Saraiva, de 29-02.
BRANCO, 1867: A Bruxa de Monte-Cordova. Lisboa: Livraria de Campos Junior.
-----------, 1982: A Bruxa de Monte Córdova. Lisboa: Círculo de Leitores.
CABRAL, 1982: «Nota introdutória», em BRANCO, 1982.
-----------, 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.
NORTON, Manuel Artur, 1983: «Carta de brasão de armas LV (Os Pitas de Darque)». Cadernos Vianenses, Tomo VII . Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo; pp. 42-56. Também AQUI.
OLIVEIRA, Madalena, 2011: Salvador Vieira – Traços do Homem e do Artista. (Pref. de Maurício de Sousa). S/L: ALERT Life Sciences Computing.
RODRIGUES, David F., 2013: «Viana & Camilo – Presenças e situações». A Falar de Viana. Viana do Castelo: Vianfestas; pp. 207-213.
---------------, 2013: «Viana em Camilo», em http://vianacamilo.blogspot.pt/
SILVA, Germano, 2007: «A Rua de Santo António e o célebre Pita Bezerra». Jornal de Notícias, 29-07.

Nota – Referências e citações entre comas respeitam a grafia das edições consultadas.

terça-feira, 4 de março de 2014


004. VIANA EM CAMILO [03a]
          [A Bruxa de Monte Córdova (1867)]


Regresso, neste post, a A Bruxa de Monte Córdova, de Camilo, depois de o ter feito já AQUI, a apropósito das referências que o Escritor faz, neste romance, a Viana e à Senhora da Agonia.
Desta vez, porém, as referências dizem respeito a Pita Bezerra, personagem secundária no enredo da narrativa, mas sinistra figura do miguelismo. O romancista nada nos diz sobre a sua naturalidade, talvez por simpatia para com esta cidade e sua gente, mas José Rosa de Araújo, referindo-se ao mesmo indivíduo, diz que Camilo «nos dá uma versão realista, pavorosa, do tumulto popular que assassinou barbaramente, nas ruas do Porto o coronel Pita Bezerra, nascido naquele solar de Darque, há muito alianado [sic] sito mesmo à beira do rio [Lima]». [Araújo, 1980: 3]
De facto, assim aconteceu, embora a realidade romanescamente ficcionada não seja o relato da realidade histórica. O bárbaro episódio situa-se num tempo de guerra civil, de permanente instabilidade política e convulsão social. Mas Camilo também nos mostra, antes da referida vindicta popular, exemplos de como o nobre Pita Bezerra despoticamente terá atuado, enquanto oficial do exército miguelista, sobre a população civil que não se declarasse adepta e seguidora das ideias absolutistas (também ditas realistas, ao tempo) e/ou não contribuísse, com tudo o que tivesse, para a defesa do «trono e do altar», simbolizada na figura de D. Miguel. O povo, por isso, logo que pôde, justiça fez pelas próprias mãos. Apesar dos veementes apelos em contrário, arriscadamente feitos por uma das persongens mais simpáticas de A Bruxa, o solitário, clarividente, pacífico e humano velho frade beneditino Jacinto de Deus.

A primeira referência encontra-se na passagem que, depois de brevíssima contextualização, transcrevo a seguir.
Aos 80 anos, despedido do convento de S. João de Alpendorada (Marco de Canaveses), por se recusar a pegar em armas, e, por isso, suspeito de simpatizar com os malhados (assim eram chamados, ao tempo, os adeptos do liberalismo), fr. Jacinto de Deus, vai a caminho da sua aldeia, «vizinha do Arco de Baulhe, em terras de Basto». É interrompido, a dado passo, por tropas liberais, insultado por alguns soldados e agredido por populares, sendo de imediato conduzido a Penafiel e daqui ao Porto. Sumariamente interrogado pelo tenente-general Stubbs – «velho asneirão, que tem nas veias agua chilre quando as não tem a estoirar de vinho do Porto», segundo um sargento –, o oficial inglês não deu a menor importância ao velho frade e mandou-o embora.
Fr. Jacinto regressa à sua aldeia, acompanhado por dois sobrinhos, a cujo pai, entretanto, tinha pedido auxílio, «desviando-se já de um, já de outro bando» dos contendores. Chegado a S. Pedro de Alvite (Cabeceiras de Basto), procura e encontra o irmão mais velho de Tomás de Aquino. Este é aquele ex-frade que, enquanto conventual se chamou Tomás de S. Plácido, de quem já falei AQUI. Ex-frade que, entretanto, acabara de morrer, em 5 de setembro de 1833, na guerra de Lisboa, lutando pela causa de D. Maria II. É durante a conversa que trava com o irmão mais velho deste liberal ex-frade que fr. Jacinto de Deus encontra, pela primeira vez, na narrativa, Pita Bezerra.

Desceu o morgado ao terreiro da casa, reconheceu o amigo de seu irmão e disse-lhe sacudidamente.
– O doido lá o atravessaram as balas em Lisboa. Foi a deshonra da nossa casa. O pae morreu na defeza do altar, e o filho acabou na fileira dos atheus.
– Seu pae defendia o altar? – perguntou frei Jacintho.
– Pois não sabe que os liberaes de Fafe o mataram no Ladario? Vossa paternidade está-se a fazer parvo!
– Constou-me que o mataram; mas disseram-me que o senhor Simeão d’Aquino andava agarrando homisiados para os entregar áquelle grande ministro chamado João Branco, o qual decerto não era ministro do altar.
– Podéra não! – tornou o irmão de Thomaz com certo jubilo de ver já notoria a dedicação de seu pae. – E vossa paternidade, se podesse, não os agarrava tambem?
– Agarrava para escondel-os do pae de vossa senhoria.
– Que tal está o patife do frade! – exclamou um official de grandes barbas, arrastando a espada, e coriscando dos olhos ascuas de cólera.
Frei Jacintho de Deus encarou serenamente no temeroso homem, deante do qual todos se affastavam e descobriam, e disse:
– É vossa senhoria o senhor Pitta Bezerra, se me não engano.
– Sou.
– Conheci-o muito novo e docil menino em casa de seu tio o senhor capitão mór de Cabeceiras Serafim Pacheco dos Anjos.
– E d’hai? – bradou o celebrado carnifece. – Cuida que não o mando despir e chibatar, seu indigno frade, que ousa dizer que escondia os malhados do justo castigo que os espera?
– Apoiado! – exclamou o irmão de Thomaz de Aquino.
– Eu lhe direi, senhor – redarguiu o monge –, esconderia da ira inconsiderada do seu inimigo todo homem em afflição; esconderia no meu habito o senhor Pitta Bezerra, se amanhã os seus inimigos viessem bradando que era justa vingança matal-o. A todos esconderia, a mim é que me não escondo dos homens; esconder-me-ia só de Deus, se podesse. Póde pois vossa senhoria mandar-me chibatar, se n’isso lhe vae satisfação.
– Não m’o peça segunda vez! – bradou o capitão de infantaria 13. – Cadeia com elle e com estes que o acompanham!
– Estes são innocentes, que ainda não proferiram palavra, senhor Pitta Bezerra! – disse o monge. – Parece-me justo que os não prendam.
– Não me pregue lerias! Ferros com eles, antes que os mande passar pelas armas!...
Alguns milicianos de Guimarães rodearam o frade e os sobrinhos com ar de constrangidos. Pitta Bezerra, como os visse froixos na diligência, bradou:
– Querem ir todos a pontapés?
Os presos entraram ao anoitecer na cadeia das Pereiras. Os mancebos choravam e o tio frade dizia-lhes:
– Então, rapazes! Chorar!? que pusillanimes sois!... Não vos envergonham os meus oitenta anos! Eu tambem nunca pernoitei entre estes ferros; mas, se me não engano, o somno das consciências quietas não estrema o carcere nu, de uma boa alcova cortinada. Se Deus vos deparar uma cama, muitas graças lhe daremos. [Branco, 1867: 129-131]

E quem foi, então – perguntar-se-á – esse celebrado carnífice Pita Bezerra?
A Enciclopédio Portuguesa e Brasileira de Cultura (vol. XXII, pp. 16-17), traz o seguinte registo biográfico de João Pita Bezerra:

Oficial do Exército, n[asceu] em Viana do Castelo em 10-XII-1792, m[orreu] tràgicamente no Porto, em 20-III-1835, quando tinha ainda a patente de capitão. Descendente de família nobre de Darque, era partidário acérrimo do miguelismo. No decurso das lutas civis, nos anos de 1828 a 1832, salientou-se, principalmente no Porto, em perseguições, tortura e vexames em plena rua, quer nos assaltos a domicílios, quer no comando da cadeia, que por vezes assumia. Quando o seu partido foi vencido, fugiu para Melgaço, andou a monte e, por fim, refugiou-se na sua residência em Darque, onde foi preso em Agosto de 1834. Durante a marcha para Viana do Castelo foi defendido com muito custo pela escolta, constituída por vinte soldados de infantaria, contra a multidão que o apupava. Os mesmos riscos teve de suportar quando o levaram pela estrada, de Viana para o castelo da Foz do Douro. Não foi abrangido pela amnistia de 17-V-1834 e em Jan[eiro] de 1835 foi condenado a prisão. Pouco depois era denunciado, por uma carta que remetera para Melgaço, como implicado numa conjura miguelista. Novamente processado, quando saía, escoltado, da viela do Correio, de regresso do tribunal, onde fora interrogado por um juiz, para a cadeia, uma multidão enfurecida subjugou os soldados e matou o preso, cujo cadáver foi depois arrastado pelas ruas e lançado ao Douro.

Segundo se leu acima, Rosa de Araújo diz que este Pita Bezerra nasceu num solar de Darque, situado junto do rio Lima. Que memórias haverá, ainda em Darque, desse oficial miguelista e da existência e estado do referido solar? O primeiro resultado é esta imagem:

(Fotografia de Gualberto Boa-Morte, em Oliveira, 2011: 115)
Agradeço ao Salvador Vieira a autorização da reprodução da fotografia.

Este bloco de casas, situado junto do rio Lima, terá pertencido aos Pita Bezzera. Sobre esta família nobre, ver Norton, 1983. A casa mais alta, à esquerda, parcialmente reproduzida na aguarela, terá sido propriedade, habitação e refúgio do caudilho miguelista. Vou colher, todavia, mais informações, de que darei conta no próximo post. Porque falta apresentar, ainda, o episódio onde Camilo, n’A Bruxa de Monte Córdova, narra o fim trágico deste Pita Bezerra.

Leituras
ARAÚJO, José Rosa de, 1980: «Camilo e Ponte de Lima». Limiana, n.º 35. Ponte de Lima: jornal Cardeal Saraiva, de 29-02.
BRANCO, 1867: A Bruxa de Monte-Cordova. Lisboa: Livraria de Campos Junior.
NORTON, Manuel Artur, 1983: «Carta de brasão de armas LV (Os Pitas de Darque)». Cadernos Vianenses, Tomo VII . Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo; pp. 42-56. Também AQUI.
OLIVEIRA, Madalena, 2011: Salvador Vieira – Traços do Homem e do Artista. (Pref. de Maurício de Sousa). S/L: ALERT Life Sciences Computing.
RODRIGUES, David F., 2013: «Viana & Camilo – Presenças e situações». A Falar de Viana. Viana do Castelo: Vianfestas; pp. 207-213.
---------------, 2013: «Viana em Camilo [01]», em http://vianacamilo.blogspot.pt/2014/02/002.html

Nota – Referências e citações entre comas respeitam a grafia das edições consultadas.