CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (14)]
Depois
de, no “post” anterior [(re)ver],
ter abordado a nova da sua partida
para o Porto, volto à velha notícia da
vinda de Camilo para Viana, publicada, no jornal A Aurora do Lima, a 8 de abril de 1857. [(Re)ver]
O
mais importante desta velha que deve
ser renovada, encontra-se no primeiro
parágrafo que, de novo, reproduzo:
Chegou hontem de tarde a esta
cidade, vindo do Porto, o nosso particular amigo e collega, o Snr. Camillo
Castello Branco, que conta, por motivos de saude residir temporariamente nas amenas
e risonhas margens do Lima. Este cavalheiro distinguirá com a sua collaboração
as columnas d’este jornal.
[Cf. Barbosa, [1919]: 78-79. Respeitada grafia da versão
consultada.
Também em Anselmo, 1989:
16 e 1993: 119.]
Já
nesta notícia, tal como na da partida
de Camilo para o Porto, o Aurora não
fora, prepositadamente, claro na
informação. Prepositadamente, porque,
num caso como noutro, a sua redação sabia das principais razões ou motivos que
levaram o Escritor a agir como agiu.
Com
efeito, como disse no “post” publicado em 21/04 [(re)ver],
a vinda (apresentada mais como visita) não se devia, apenas ou
principalmente, a motivos de saúde.
Certo é que o filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco padecia de
moléstias físicas e psíquicas. Rara é a carta para José Barbosa e Silva (JBS) em
que não se diga estar ou sentir doente. O cavalheiro
devia ser hipocondríaco.
Mas vamos ao
que ora mais interessa.
Como se verá/lerá,
pelas cartas para JBS, Camilo não só não contava
apenas residir temporariamente em
Viana, como, não era, de facto, somente a partir do dia 8 de abril de 1857, que
ele colaboraria no jornal. As razões
por que, a meu ver, Camilo trocara o Porto por Viana e, dous meses incompletos depois, Viana pelo Porto, eram de natureza
profissional e económica (monetária). E sempre por causa das estreitas relações
que mantinha com os irmãos Barbosa e Silva e, através deles, com A Aurora do Lima e seus amigos.
É de lembrar
que Camilo, até princípio de 1857, era mais conhecido, sobretudo no Porto, como
polémico jornalista e folhetinista literário, com colaboração diversa e
dispersa por vários periódicos, de alguns dos quais foi fundador e de outros principal
redator. É verdade que, aos 32 anos, feitos a 16 de março desse ano, o Escritor
contava já, na sua bibliografia ativa, um significativo número de títulos,
publicados, em folheto e/ou livro: poemas, com destaque para os volumes Inspirações (1851), Um Livro - dedicado ao seu dileto amigo JBS [(re)ver)]
e Folhas Caídas Apanhadas na Lama
(ambos em 1854); peças de teatro, narrativas curtas (contos e novelas); e os romances
Anátema (1851), Mistérios de Lisboa, em 3 volumes, e A Filha do Arcediago (ambos em 1854), Livro Negro de Padre Dinis (1855), A Neta do Arcediago, Onde
Esta a Felicidade e Um Homem de Brios
(todos 1856). E que continuava, além disso, a publicar, em folhetim, narrativas,
que depois reuniria na coletânea Duas
Horas de Leitura (1857) e romances que, nesse mesmo ano, saíram ainda em
livro – Lágrimas Abençoadas e Cenas da Foz.
É de referir
que, por ser jornalista (atividade que nunca abandonou), Camilo manifestou sempre
a JBS, por um lado, o seu apoio à criação de um jornal em Viana e, por outro, a
disponibilidade para nessa folha
colaborar. Como se pode ver no recorte epistolar seguinte, datado de 22 de
abril de 1852:
Eu cuidei q[ue] o Ecco do Lima não era cousa tua. Se, contra os teus receios, o fizeres sahir do
prelo, terei m[ui]ta honra em ser uma vez p[o]r outra la admitido.
{BARBOSA, [1919]: 105. Respeitada grafia da edição consultada,
com inclusão, porém, dos grafemas omissos. Também em CABRAL, 1984 (I): 57
que, por vez, data a carta de 25/IV]}
O
título Eco do Lima não chegou a ver a
aurora do dia em Viana. Mas o dia d’A
Aurora do Lima haveria de chegar: aconteceu, como se sabe, três anos
depois, a 15 de dezembro de 1855. Jornal este de que JBS, recorde-se, foi um
dos seus principais cofundadores, coproprietários e redatores.
Apresentarei,
nos “posts” seguintes, as relações que, com base nas cartas enviadas ao amigo
de Viana, o seu amigo Porto manteve com o mais antigo jornal português ainda em
publicação.
Até
ao próximo!
E
continue a (re)ler Camilo!
ANSELMO, A., 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A
Aurora do Lima, n.º 19, de 03/03, p. 1. O autor fez publicar,
neste jornal, numa série consecutiva de 7 rodapés, num total de 28 pp., o texto
referido abaixo, em Anselmo, 1993. A notícia da chegada de Camilo a Viana
encontra-se reproduzida na p. 16 do quarto rodapé.
-----------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo
Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio
promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15
de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de
Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, L. X., [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo
Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários
de). Lisboa: Horizonte.