CAMILO &M
VIANA
[1857: “velha” como “nova” (20)]
E, das 39
referências ao A Aurora do Lima e
conexos, feitas por Camilo, em cartas remetidas a José Barbosa e Silva (JBS),
cá vai a
5.ª)
Olha
que os folhetins tem vindo m[ui]to errados; e algumas asneiras, sahidas na 1.ª
edicção, bem puderas tu emendal-as. Tem m[ai]s cuidado, ou manda ter com os
futuros.
Estou
escrevendo na «Verd[ad]e» uns art[ig]os intitulados Economia politica. Se o teu
jornal os comportasse (o q[ue] duvido) bom é que se fosse dessiminando o gosto
por estas leituras, visto que o nosso forte na Aurora devem ser questões d’esta
ordem q[ue] prendem sempre com especialid[ad]es locaes – Caso os
transcrevesses, não se me dá que os declares meus, posto que p[ar]a cá se
persuadam que anda ahi uma notabilid[ad]e
economica. Parvos! Eu sou capaz de
lhes escrever até sobre folhamentos e
irrigações, sobre reguengos e fateuzins
!
[… …
… … …
… … …
… … …
… … …
… … … …]
[P. S.
[P. S.
Como vamos de casa?] [*] [Em carta datável de 19/07/1856]
{BARBOSA, [1919]: 9-10.
Respeitada grafia da edição consultada.
Também em CABRAL, 1984 (I): 105-106}
[*] Este P. S.
encontra-se apenas em CABRAL; 1984 (I): 106.
Os folhetins que, no Aurora do Lima, saíram muito
errados e com algumas asneiras, são os
primeiros da «Peregrinação sobre a Face do Globo», transcritos do jornal
portuense A Verdade. Camilo,
profissional cioso que era dos seus trabalhos, não gostou. Censura, por isso, o
destinatário, com certa pragmática diretividade. Aliás, ele já tinha advertido
JBS, em carta anterior, para que a
transcrição fosse feita com cuidado. Conhecedor das incorreções encontradas
na 1.ª edição dos folhetins, no
jornal portuense, esperaria que o amigo de Viana, por um lado, as emendasse e, por outro, acompanhasse de
perto a sua reprodução no Aurora.
[(Re)ver três últimos “posts”] Parece que não foi o que aconteceu.
Compararei as versões dos folhetins, saídas no Aurora, e as publicadas em Duas Horas de Leitura (18582:
85-174), quando analisar os textos que o Escritor publicou neste jornal.
Ver-se-ão, então, as diferenças.
Não obstante, dada a reprimenda pelo descuido, Camilo está
disposto a conceder ao Aurora a
transcrição dos artigos que, sobre economia
política, começara a publicar no Verdade.
Mesmo sem assinatura, mas certamente pagos. Na verdade, sob o título «Economia
Politica» e o subtítulo «Systema Protector, e Commercio Livre», os tais artigos
foram publicados no Verdade. Num
total de oito, estão apenas numerados e encimados pelo vocativo «Meu Amigo», como se de correspondência se tratasse. E, de facto, abaixo do subtítulo, encontra-se «(Correspondencia)», indicativo do género. E rubricados tão só – informa Xavier Barbosa – por três
asteriscos [ * * * ]. E o sobrinho de JBS precisa os n.os e as datas em
que vieram a lume, no jornal do Porto: «247, 249, 251, 253, 256, 258, 260 e 262
respectivamente de 15, 17, 19, 22, 25, 28 e 30 de Julho e 1 d'Agosto de 1856.» {BARBOSA,
[1919]: 10]}. Acontece, porém, que os ditos artigos não chegaram a ser
transcritos no Aurora, apesar do articulista
desejar ver disseminado, também por
Viana, o gosto por estas leituras, dado
o seu interesse formativo. Saber-se-á, porquê, no próximo “post”. Júlio
Dias da Costa, por seu lado, identificou e recolheu, em Dispersos de Camillo IV, esses folhetins. [Cf.
COSTA, 1928: 319-371]
Agora, a casa
do P. S., fragmento que Xavier Barbosa ignorou. Alexandre Cabral comenta, a
propósito (a despropósito, direi eu), não
perceber, à primeira vista, o corte. «A menos que» - acrescenta,
suspeitando da censura do compilador das Cem
Cartas - «a casa… tivesse outra
utilização e implicação.» [CABRAL, 1984 (I): 106]
Alexandre Cabral é um dos camilianistas que defendem que a vinda
de Camilo para Viana, em 7 de abril de 57, era para estar junto de Ana Plácido.
A jovem esposa do velho Manuel Pinheiro Alves viria, naquela altura, para esta
cidade, acompanhando Maria José, sua irmã mais nova, a fim de, com
os ares de Viana, a menina curar-se da tuberculose pulmonar que, pouco depois, a vitimaria.
Veremos, como já vamos vendo, que essa não foi a razão. Nem da vinda, nem do regresso. Lá chegaremos.
Repare-se, para terminar, como Camilo, ainda no Porto,
melhor, na Foz a banhos, e antes de tomar
posse, procura já dirigir e redigir editorialmente o jornal. Não é pura
cortesia quando diz que «o nosso forte na Aurora devem ser questões desta ordem, que prendem sempre com especialidades locais». E depois, aquela vontade, com uma vaidadezinha pessoal à mistura, de querer persuadir
os parvos lá da invicta urbe, mesmo anonimamente, de que, cá por Viana, também havia uma notabilidade económica que escreve
artigos tanto sobre temas sérios e complexos, como mais simples e triviais.
Entretanto, vamos lendo e entendendo.
Assim, até ao
próximo, sim?!
E continue a
(re)ler Camilo. Onde Está a Felicidade?,
por exemplo.
Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa:
Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo
Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários
de). Lisboa: Horizonte.
COSTA, Júlio Dias da, 1928: Dispersos de Camillo (Vol. IV). Coimbra: Imprensa da Universidade.
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