CAMILO &M
VIANA
[1857: “velha” como “nova” (26)]
Este
“post” é continuação do anterior. Além das observações nele anotadas, talvez
seja conveniente fazer mais algumas.
Antes
de mais, a reafirmação de Camilo em vir para Viana, apesar das dúvidas (pressu)postas
por José Barbosa e Silva (JBS), em carta(s) ou conversa(s) anterior(es) que se
desconhecem. «Sou menos versátil do que me conceituas» - como que replica o
Escritor. O seu crescente enojamento
(social, certamente; afetivo, provavelmente) por certa gente do Porto é argumento para manter o seu interesse no Aurora e por casa em Viana. Veja-se, não
obstante, como deposita toda a confiança no amigo, quanto à localização da casa,
circunstâncias físicas e condições para a saúde: a tua resolução será a minha, remata.
Depois,
lembrar que entre as coisas pequenas e
indispensáveis, de que deseja incumbir
JBS, em princípios de setembro de 56, estaria a estante para os livros, referida na carta transcrita no “post” de 16/06.
A
filha do epistológrafo, já o paciente
leitor sabe quem é: Bernardina Amélia. E D.
Isabel é a freira do Convento de S. Bento da Avé Maria, no Porto, amante do
Escritor e madrinha (educadora) da
menina. [(Re)ver “posts” de 10/05 e de 24/05] Camilo, perante a proximidade
da sua projetada e desejada vinda para Viana, deve ter dito algo que levou
Isabel Cândida Vaz Mourão a profetizar
que iria, em breve, ser abandonada. Perante o (pres)sentido sofrimento da
amante, Camilo está disposto a não
transigir, isto é, que seja a amante a transigir.
Só que… logo veremos.
O Timbre era jornal que surgiu em Viana para rivalizar com o Aurora do Lima. Àquele periódico já me
referi nos “posts” de 15/06 e no anterior. A esta rivalidade não deve ser
estranha a orientação ideológica de um outro periódico. João Maria Batista de
Oliveira, «major de artilharia na guarnição de Viana, foi um dos fundadores e
redactor» do Aurora. Abandonou esta função
«precisamente um mês depois», em janeiro de 1856. De sua autoria é o editorial
do n.º 1 (15/12/1855) deste jornal.
Este
major é quem assina, juntamente com E. Furtado Coelho, o editorial do n.º 1 de O Timbre, saído em 02/07/1856. E, «na
primeira e segunda páginas deste primeiro número», publica ainda um artigo,
intitulado «Parte Religiosa».
Esta
efémera folha (terminou a sua publicação
em 21/10/1856) timbrava por se
assumir «jornal religioso, político e comercial». A ordem dos qualificativos
não é, certamente, arbitrária. Ressalta da leitura destes textos uma clara
oposição à orientação editorial do Aurora.
[Cf. VIANA & BARROSO, 2009: 78-79
e 506-507. Ver também CABRAL, 1984 (I): 113, a propósito desta rivalidade
jornalística.]
Note-se,
de novo, como Camilo defende um jornalismo sério, feito por escritores graves, a ponto de, quando
necessário, responder às vilanagens de
outros. Concorda, também por isso,
com o aumento de páginas do Aurora,
desde que, sendo barato e bem cheio,
sirva para acabar com a farrapagem
provinciana.
Camilo revela ao amigo de Viana que se prepara uma revolta militar, a favor da
Regeneração, mas pede que o Aurora
dela não faça anúncio. O general (depois marechal) Ferreira é José
Gerardo Ferreira Passos (1801-1870) [Biografia]. O Saldanha é, o marechal João Carlos Gregório Domingos Vicente Francisco de Saldanha Oliveira e
Daun, também conhecido como duque de Saldanha. [Biografia]. Trata-se de duas importantes figuras da história do Liberalismo, em
particular do conturbado período da Regeneração (1853-1868). Tempos
estes que o Escritor retrata em muita da sua obra romanesca, histórica e
jornalística.
E que
mais?
Haverá,
ainda, muitos “posts” sobre as relações de Camilo com o Aurora. No próximo, retranscreverei uma carta interessantíssima a
este respeito. E aparentemente negadora da tese que defendo. Se fosse a última
e a última palavra do Escritor sobre o assunto…
Até
ao próximo, então!
E
continue a (re)ler Camilo. Por exemplo: A
Bruxa do Monte Córdova (1867) ou Maria
da Fonte (1885).
Referências:
Além das indicadas no ”post” anterior:
VIANA, Rui A. Faria & BARROSO, António José, 2009: Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara
Municipal de Viana do Castelo.
Sem comentários:
Enviar um comentário