sexta-feira, 16 de junho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (22)]


Mais duas referências de Camilo, relacionadas com o Aurora, em duas carta para José Barbosa e Silva (JBS), antes da que será apresentada no próximo “post”. Longa carta, essa, e importante para a tese que defendo. Transcrevê-la-ei, por isso, integralmente. Por ora, vejamos a tais duas referências. Eis a

     7.ª)
O Cruz Coutinho manda para a imprensa, ou escriptorio da Aurora, alguns exemplares do romance, de que ele é editor, “onde está a felicid[ad]e?» Lê-o, e se o achares melhor q[ue] todos os outros, como penso que é[*], recomenda-o. A remessa do dinheiro liquidado deve ser feita a ele Coutinho. Quaesquer despezas que se façam diz elle que sejam deduzidas da importância dos livros, posto q[ue] elle ca pagou a conducção. Faz que seja annunciado algumas vezes p[o]r q[ue] me convem m[ui]to que se venda este p[ar]a o ter certo a compra dos ulteriores romances, indo eu p[ar]a ahi. {Excerto de carta datável de 14/08/1856[**]}
{BARBOSA, [1919]: 12-13. Respeitada grafia da edição consultada.
Também em CABRAL, 1984 (I): 109-110}
[*] Aqui, Xavier Barbosa coloca chamada para nota, a fim de citar e comentar referência de Alexandre Herculano, a propósito deste romance camiliano, no prefácio da 2.ª edição de Lendas e Narrativas. {Cf. BARBOSA, [1919]: 13, nota de rodapé 14. Cf. HERCULANO, 18582: VII}
[**] Alexandre Cabral data esta carta «por volta de 6/VIII/1856». E porquê? O grande camilianista responde já a seguir:

«Os exemplares de Onde Está a Felicidade? foram de facto recebidos e anunciados n’A Aurora do Lima. No n.º 96, de 9/VIII/1856 (na 1.ª p.): “Chegaram ao escritório desta redacção alguns exemplares do belo romance do nosso distinto amigo, o Sr. Camilo Castelo Branco, Onde Está a Felicidade? de que é editor Cruz Coutinho.” Etc. Os encómios, aliás merecedíssimos, preenchem mais três parágrafos. / No n.º 97, de 12/VIII/1856, saiu na 4.ª p. um anúncio informando que o romance se encontra à venda na redacção d’A Aurora do Lima, ao preço de 480 réis; anúncio que será repetido, conforme à solicitação de Camilo.» [CABRAL, 1984 (I): 110-111]

Assim sendo, datar esta carta de 14 de agosto, como fez Xavier Barbosa, não se coaduna com a cronologia destas novas no Aurora, nem destas cartas.

Repare-se naquele indo eu para aí, isto é, vindo Camilo para Viana. As “negociações”, entre o Escritor e JBS, sobre a futura redação do Aurora, devem, entretanto, ter prosseguido e desenvolvido. Os dois amigos, ter-se-ão encontrado na Foz, onde Camilo se encontrava (ainda) a banhos e aí ter-se-á encontrado com Barbosa e Silva. [(Re)ver “post” publicado em 06/06/2017, 3.ª referência]
O Escritor agradece os referidos «encómios» ao Onde Está a Felicidade?, na carta seguinte. Que, por ser breve, ainda “cabe” neste “post”. É, portanto, a referência
                
8.ª)
Agradeço as lisongeiras linhas ao romance. Talvez se venda toda a edição, p[o]r q[ue] está livellado p[ar]a todas as capacid[ad]es.
[…   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …   …]
Vi, ha pouco, um art[ig]o “Duas palavras” bem escripto. Tinha visto o do Timbre[*] e estive quase a saltar da cama para receber com uma girandola de epigrammas o asno! Dá-lhe p’ra baixo [Excerto de carta datada de 16/08/1856.]
{BARBOSA, [1919]: 14. Respeitada grafia da edição consultada.
Também em CABRAL, 1984 (I): 111}
[*] Aqui, Xavier Barbosa coloca chamada para nota de rodapé, que transcrevo, já:

«O Timbre, jornal catholico de Vianna do Castello. Redactor e proprietario o Bacharel em Direito Francisco L. de Castro da Cunha Rego. – Typ. de André Joaquim Pereira. Rua da Picota, n.º 3 – Publicava-se ás Terças e Sextas de tarde. O primeiro n.º do Timbre sahiu em 3.ª-feira 1 de Julho de 1856. Teve, porem, o aludido jornal uma existência ephemera, pois só d’elle chegaram a publicar-se uns 30 numeros.» {BARBOSA, [1919]: 14, nota de rodapé 16. Também VIANA & BARROSO, 2009: 506-507]

Alexandre Cabral observa, por sua vez, que «entre o Aurora e o Timbre, as relações «nunca foram cordiais». Mas, neste fragmento, além, dos agradecimentos pelas «lisonjeiras linhas» sobre o romance Onde Está a Felicidade?, Camilo refere-se também, por um lado, a artigo publicado no Timbre e, por outro, à resposta que lhe deu o Aurora. Informa Cabral que, em Duas palavras a uma provocação, publicado neste jornal (n.º 98, de 14 /VIII/1856), «atacava-se o Visconde de S. Paio [d’Arcos de Val-de-Vaz], o detestado governador civil de Viana.» [CABRAL, 1984 (I): 113.]
Encontrámos já este Visconde, no “post” da referência 4.ª, publicado no dia 11/06/2017. E vai aparecer, de novo, em mais algumas referências epistolares futuras.

Até lá, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo.

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
CASTELLO-BRANCO, Camillo, 1856: Onde Está a Felicidade?. Porto: Casa Cruz Coutinho, Editor.
HERCULANO, A., 18582: Lendas e Narrativas (Tomo I). Lisboa: Viuva Bertrand e Filhos.
VIANA, Rui A. Faria & BARROSO, António José, 2009: Publicações Periódicas Vianenses. Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo.

Sem comentários:

Enviar um comentário