terça-feira, 25 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (35)]


Camilo deve ter estado alguns dias sem escrever a José Barbosa e Silva (JBS). Este, por sua vez, deve-lhe ter feito reparo. Tudo parece ter ficado depressa resolvido, entre os dois grandes amigos. O Escritor envia a JBS, no dia 6 de novembro de 1856, carta onde colhi e de que transcrevo a referência

18.ª)
Remetto o art[ig]o bombástico p[ar]a sabbado – Irá p[ar]a o dia 15 o funebre. Irei remettendo folhetins p[ar]a todos os n[umer]os[.] Não posso, porem, escrever sem ver o q[ue] escrevi já publicado. Não me lembra o q[ue] disse. Com o S[ebasti]am fallamos e concordamos a resp[ei]to do frontispicio. Podes contar com a m[inh]a assiduidade, posto que estou cançado de escrever, vendo de m[ai]s a m[ai]s adeante de mim uma velhice pêca de meios e de imaginação. Prevejo um triste futuro, se não morrer a tempo de bater á porta do coração e achal-o convertido inteiramente a cabeça. Com cabeça som[en]te não se escreve.
{BARBOSA. [1919]: 24. Também em CABRAL, 1984 (I): 128.
Respeitada grafia da edição consultada.
Na transcrição, desenvolvi formas abreviadas.}

Que artigo bombástico e que artigo fúnebre?
Foram ambos publicados, sem assinatura, pelo Aurora do Lima, nos dias/n.os, respetivamente, 08/134 e 15/137, em novembro de 1856. O bombástico é um apelo à participação dos votantes nas eleições legislativas, que se realizavam no dia seguinte, domingo, 9 de novembro de 1856. Pelo meio, é visado o governador civil do distrito, principal alvo dos ataques políticos do Aurora do Lima, porta-voz de JBS, que lutava por o ver substituído. [Sobre este visconde, (re)ver “post”]
Apenas um parágrafo:

Onde vinha o sr. visconde de S. Payo dos Arcos angariar suffragios para os nomes indicados pelo governo? A um districto que o deseja longe dos seus negocios. A um povo que considera S. Ex.ª um estorvo inabalavel ao seu progresso. A um districto, finalmente, que a authoridade superior conseguiu revoltar contra todas as suas maleficas medidas.
[Cf. COSTA, 1928 (IV): 384. Respeitada grafia da edição consultada.]

O artigo fúnebre celebrava, convocando às lágrimas, o terceiro aniversário do falecimento de D. Maria II (1819-1853), «primeira rainha constitucional», «de saudosíssima memória». [Cf. COSTA, 1928 (IV): 385]
Recorde-se que foi D. Maria II quem, há oito anos, em 20 de janeiro de 1848, elevara a então Vila de Viana da Foz do Lima à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Viana do Castelo.

 O Sebastiam é Sebastião [Maria de Andrade e] Sousa, redator e colaborador do Aurora. [(Re)ver “post”]. E o frontispício é o que Camilo tinha enviado para a edição, em livro, de Cenas da Foz, pela empresa do mesmo jornal. [(Re)ver “post”]
A primeira destas Cenas saiu em folhetim – recorde-se – no n.º 132 do ainda incipiente periódico vianês, a 4 de novembro de 1856. Dois dias antes, portanto, da data da carta de que acima transcrevi excerto (18.ª referência).

Camilo promete ser mais assíduo na sua colaboração, embora se diga desanimado da escrita. JBS é capaz de ter chamado a atenção do Escritor para o irregular envio de textos, a que se teria comprometido.

Até 7 de abril de 1857, dia em que chegou a Viana para, aqui residindo, redigir o A Aurora do Lima, Camilo escreveu, ainda, mais de uma vintena de cartas. Sobre elas, por isso, hei de fazer outros tantos ”posts”. Pelo menos!

Assim, até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo! Por exemplo: Coisas Espantosas (1862). Recordo ao paciente leitor deste blogue que os primeiros capítulos deste romance foram publicados, em folhetins, no Aurora do Lima, em 1859, com o título de A Natureza das Coisas.

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
COSTA, Júlio Dias da, 1928: Dispersos de Camilo, Vol. IV – Artigos (1846-1889). Coimbra: Imprensa da Universidade

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