CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (33)]
Em carta, datada de 16 de outubro de
1856 (segundo Xavier Barbosa leu e Alexandre Cabral viu no carimbo dos correios, estampado no autógrafo), Camilo negoceia, com José Barbosa e Silva (JBS),
cofundador e coproprietário da empresa
A Aurora do Lima, a venda da
propriedade da edição em livro de Cenas
da Foz.
Eis, desta carta, o excerto que, sobre
esta proposta, diz respeito às relações do Escritor com o jornal vianês e seus conexos.
É a referência
16.ª)
Parece-me que não
entendeste bem a minha lembrança da tiragem do romance á parte. Eu não queria
tiral-o p[ar]a ficar a meu cargo a venda. E’ coisa em q[ue] me não metto, e
hoje não publico uma linha sem editor. O que eu queria era vender a empreza da
Aurora a propried[ad]e – assim como cá vendo a dos romances que sahem em
folhetim primeiro. O livro terá 250 a 300 paginas – e convinha-me receber 12
moedas pela propriedade, visto que na retribuição mensal q[ue] me dessem ficava
encontrado o que vae de 12 a 25 moedas, o menos preço por q[ue] pode vender um
author que tem o pessimo costume de comer como qualquer imbecil. Penso que a
empreza não perderá, p[o]r q[ue] bem sabes q[ue] tem a composição gratuita – p[ar]a
ganhar basta-lhe vender 200 exemplares – e eu tenho sempre vendido, ou os
editores, de 400 p[ar]a cima. Convindo isto, meu Barbosa, era esta a m[inh]a
intenção; não convindo, publica os folhetins somente. Responde, por que eu
hei-de no caso de tirar-se em livro, fazer um traçado mais amplo.
{BARBOSA.
[1919]: 22. Também em CABRAL, 1984 (I): 125-126.
Respeitada
grafia da edição consultada. Na transcrição, desenvolvi formas abreviadas.}
A tiragem à parte, referida por Camilo, no início deste trecho
epistolar, diz respeito ao romance Cenas da Foz. Trata-se,
como referi no “post”
anterior, de duas narrativas - «A Sorte em Preto» e «Dinheiro» - reunidas em
livro, depois de publicadas, em folhetins, no Aurora do Lima. Recordo que o Cenas
começou a ser publicado no n.º 132 (4 de novembro de 1856) deste jornal. O
último folhetim saiu, acrescento ora, no seu n.º 221 (10 de junho de 57).
Não
se encontrarão, a meu ler, neste excerto, outras questões que peçam comentários.
Direi, contudo, que Camilo receberia, pela venda da propriedade da edição, em livro, 12 moedas, isto é, 12 000 réis (segundo creio). Como, pela
colaboração mensal, receberia 13 moedas,
isto é, 13 000 réis, o montante total a receber pelo seu trabalho literário seria de 25 moedas, 25 000 réis.
Recordo,
a propósito, que, em carta datável de 11 de janeiro de 1856, Camilo se propunha
vender 4 correspondências (colaborações) ao Aurora, por 14 400 réis. [(Re)ver “post”] É provável que o contrato,
depois celebrado entre os proprietários do jornal, por intermédio de JBS, e o
Escritor, se tenha ficado pelos 13 000 réis.
[NB - Sobre a grafia e o valor de réis (plural da moeda monárquica real), ver AQUI.]
Será
que o negócio da edição do Cenas, em livro, foi fechado como a
Escritor propôs?
A
seu tempo se lerá.
Então,
até ao próximo!
E
continue a (re)ler Camilo!
Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem
Cartas de Camillo. Lisboa:
Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral,
1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e
Silva – I. (Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
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