CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (32)]
De carta, também de 10 de outubro de
1856 (como a anterior), dia que, no respetivo autógrafo, Alexandre Cabral viu
«bem legível no carimbo dos correios do Porto», mas que Xavier Barbosa data de
12, transcrevo a referência
15.ª)
A resp[ei]to de
Luiz de Lemos, p[ar]a te fallar franca verdade, dir-te-hei que não está habil
seq[ue]r p[ar]a traduzir do francez. Foi meu collega nominal. Tudo estava aos meus ombros, e elle m[es]mo reconhece q[ue]
não póde desenvolver uma idea. Entretanto se o queres educar, é outro caso.[*]
Mas eu não sei p[ar]a
que tu queres mais redactores! O auxílio de ca, e o teu trabalho em horas de m[ui]ta
disposição p[ar]a elle, não basta? Salvo, se te queres retirar de Vianna; mas n’esse
caso tamb[é]m não podes substabelecer os teus serviços em L. de Lemos. Se
queres augmentar o jornal, eu farei todo o esforço por augmentar o trabalho com
q[ue] te auxilio; não ponhas, porem, o jornal n’um pé de orçamento que te entre
m[ui]to dentro na bolsa, p[o]r que não concebo como na provincia se possa manter[**]
uma folha com 600 assinaturas.
Logo que termine os
folhetins da Peregrinação[***]
na Aurora, começo as grutescas Scenas da Foz, as quaes, se o jornal
estivesse habilitado para tiral-as em livro, seria cousa de dar dinheiro á Empresa,
e a mim alguma insignificancia pela propried[ad]e. É cedo talvez p[ar]a
proposta destas; mas no principio é que está tentar a fortuna[****].
[…] Manhã receberás artigo.
[…]
[Volta
Olha que fui eu o que pedi ao A[rnaldo]
G[ama] que vociferasse contra o pulha, e portanto diz de lá “muito obrigado”.
Farei que o zurzam no C[lamor] Público -] [*****]
{BARBOSA.
[1919]: 20-21. Também em CABRAL, 1984 (I): 123-124.
Respeitada
grafia das edições consultadas. Na transcrição do excerto
de Barbosa (e só
neste), desenvolvi formas abreviadas.}
[*]
«Realmente, Luís de Lemos foi “colega nominal”
de Camilo em O Porto e a Carta» -
comenta Cabral [1984 (I): 124] – remetendo, logo de seguida, para o seu
«Comentário à Carta n.º 40», onde se lê:
«Quanto
a Luís de Lemos, supomos tratar-se da pessoa que foi redactor, com Camilo, d’O Porto e a Carta, em 1854. A expressão
[citada da carta] “temos brevemente no Porto um leão atropelando as ovelhas” significava
que o tal Luís de Lemos era um terrível femeeiro. Na época, o termo “leão”
tinha esse significado: depradador [sic]
da caça frágil, mas não só em Portugal.» [CABRAL, 1984 (I): 93]
O
que, na carta n.º 40, era uma suposição,
Alexandre Cabral dá-o agora como realmente
certo. Descuidos que acontecem. Só destes impertinentes pingos se livra quem a
estas chuvas não anda!
A
propósito de José Barbosa e Silva (JBS) procurar um novo (ou mais um) redator
para o seu jornal, comenta Alexandre
Cabral:
«Ressalta
do texto que Camilo não se quer desligar por completo do compromisso de vir a
assumir o encargo da redacção d’A Aurora
do Lima. E faz contra-vapor às propostas que eventualmente lhe fechem essa
perspectiva.» [Id.: 125]
Convirá
recordar, por outro lado, que, na célebre carta de 11 de setembro, o Escritor,
para remediar a inesperada recusa da sua
vinda, então, para Viana e para o Aurora,
se propunha ser redator do jornal do
amigo, a partir do Porto, mandaria 3
ou mais artigos, contentando-se com o pagamento que se daria a qualquer redator
que para cá viesse. [(Re)ver “post”] Este «qualquer redactor» deve
ser lido como um redator qualquer.
Estatuto que, evidentemente, Camilo recusava.
[**] Alexandre Cabral transcreve
«montar», considerando «lapso de maior vulto» esta «cópia de L. Xavier
Barbosa». [CABRAL, 1984 (I): 124]
[***] Em rodapé (n.º 21), Barbosa
informa:
«A narrativa do passeio a Braga com tão bom humor descripto nas Duas horas de leitura, cuja 1.ª edição,
hoje rarissima, é de 1857, sahiu primeiro em folhetins sob o titulo de Peregrinação sobre a face do globo,
começando essa publicação no jornal “A Verdade”, e vindo a concluir-se no
“Clamor Público”. D’esses jornaes portuenses a transcreveu a “Aurora do Lima”
nos seus n.os 81, 82, 84, 85, 87, 121, 122, 123 e 124
respectivam[en]te de 5, 8, 12, 15, 19 e 22 de Julho e 7, 9, 11 e 14 de Outubro
de 1856.» [BARBOSA, [1919]: 21]
[****]
«As Cenas da Foz começaram a
publicar-se no n.º 132 (de 4/XI/1856) d’A
Aurora do Lima, com o pseudónimo de João Júnior». [CABRAL, 1984 (I): 125].
À
publicação destas Cenas, pelo jornal
(em folhetins) e pela empresa A
Aurora do Lima (em livro), dedicarei, oportunamente, “posts” e/ou artigos.
[*****] Este
último parágrafo não se encontra nas Cem
Cartas, porque, «solto numa lauda. No entanto, no manuscrito está bem
visível a chamada: “volta”. L. Xavier Barbosa “não reparou” na advertência.» [CABRAL,
1984 (I): 124]
O
mesmo ilustre camilianista termina o seu comentário
a esta carta, com as seguintes notas:
«No
final, Camilo fala de Arnaldo Gama. Este escritor secundava n’O Porto e a Carta os ataques sem quartel
vibrados pelos redactores d’A Aurora do
Lima contra o famigerado Visconde de S. Paio.
Ao
transcrever esse artigo, que aparecera n’O
Porto e a Carta (n.º 229, de 4/X/1856), a Aurora antecede-o de uma nota, onde mais uma vez a zargunchada ao
Governador Civil está em relevo:
“
O Sr. Visconde de S. Paio, se pudesse entrar a sangue frio na rigorosa análise
dos seus actos, ou tivesse a seu lado um amigo verdadeiro do seu nome e da sua
honra, havia por força de horrorizar-se do negro aspecto que apresenta a sua
situação social e política. Etc. (in A
Aurora do Lima, n.º 121, de 7/X/1856).» [CABRAL, 1984 (I): 124 e 125]
Sobre
quem foi este Visconde de S. Paio, cujo nome era Gaspar
de Azevedo de Araújo e Gama, (re)ver “post”.
Até
ao próximo!
E
continue a (re)ler Camilo!
Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem
Cartas de Camillo. Lisboa:
Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL,
Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os
Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa:
Horizonte.
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