domingo, 16 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (32)]


De carta, também de 10 de outubro de 1856 (como a anterior), dia que, no respetivo autógrafo, Alexandre Cabral viu «bem legível no carimbo dos correios do Porto», mas que Xavier Barbosa data de 12, transcrevo a referência

15.ª)
A resp[ei]to de Luiz de Lemos, p[ar]a te fallar franca verdade, dir-te-hei que não está habil seq[ue]r p[ar]a traduzir do francez. Foi meu collega nominal. Tudo estava aos meus ombros, e elle m[es]mo reconhece q[ue] não póde desenvolver uma idea. Entretanto se o queres educar, é outro caso.[*]
Mas eu não sei p[ar]a que tu queres mais redactores! O auxílio de ca, e o teu trabalho em horas de m[ui]ta disposição p[ar]a elle, não basta? Salvo, se te queres retirar de Vianna; mas n’esse caso tamb[é]m não podes substabelecer os teus serviços em L. de Lemos. Se queres augmentar o jornal, eu farei todo o esforço por augmentar o trabalho com q[ue] te auxilio; não ponhas, porem, o jornal n’um pé de orçamento que te entre m[ui]to dentro na bolsa, p[o]r que não concebo como na provincia se possa manter[**] uma folha com 600 assinaturas.
Logo que termine os folhetins da Peregrinação[***] na Aurora, começo as grutescas Scenas da Foz, as quaes, se o jornal estivesse habilitado para tiral-as em livro, seria cousa de dar dinheiro á Empresa, e a mim alguma insignificancia pela propried[ad]e. É cedo talvez p[ar]a proposta destas; mas no principio é que está tentar a fortuna[****]. […] Manhã receberás artigo.
 […]
                                                       [Volta
Olha que fui eu o que pedi ao A[rnaldo] G[ama] que vociferasse contra o pulha, e portanto diz de lá “muito obrigado”. Farei que o zurzam no C[lamor] Público -] [*****]
{BARBOSA. [1919]: 20-21. Também em CABRAL, 1984 (I): 123-124.
Respeitada grafia das edições consultadas. Na transcrição do excerto
de Barbosa (e só neste), desenvolvi formas abreviadas.}

[*] «Realmente, Luís de Lemos foi “colega nominal” de Camilo em O Porto e a Carta» - comenta Cabral [1984 (I): 124] – remetendo, logo de seguida, para o seu «Comentário à Carta n.º 40», onde se lê:
«Quanto a Luís de Lemos, supomos tratar-se da pessoa que foi redactor, com Camilo, d’O Porto e a Carta, em 1854. A expressão [citada da carta] “temos brevemente no Porto um leão atropelando as ovelhas” significava que o tal Luís de Lemos era um terrível femeeiro. Na época, o termo “leão” tinha esse significado: depradador [sic] da caça frágil, mas não só em Portugal.» [CABRAL, 1984 (I): 93]
O que, na carta n.º 40, era uma suposição, Alexandre Cabral dá-o agora como realmente certo. Descuidos que acontecem. Só destes impertinentes pingos se livra quem a estas chuvas não anda!
A propósito de José Barbosa e Silva (JBS) procurar um novo (ou mais um) redator para o seu jornal, comenta Alexandre Cabral:
«Ressalta do texto que Camilo não se quer desligar por completo do compromisso de vir a assumir o encargo da redacção d’A Aurora do Lima. E faz contra-vapor às propostas que eventualmente lhe fechem essa perspectiva.» [Id.: 125]
Convirá recordar, por outro lado, que, na célebre carta de 11 de setembro, o Escritor, para remediar a inesperada recusa da sua vinda, então, para Viana e para o Aurora, se propunha ser redator do jornal do amigo, a partir do Porto, mandaria 3 ou mais artigos, contentando-se com o pagamento que se daria a qualquer redator que para cá viesse. [(Re)ver “post”] Este «qualquer redactor» deve ser lido como um redator qualquer. Estatuto que, evidentemente, Camilo recusava.

 [**] Alexandre Cabral transcreve «montar», considerando «lapso de maior vulto» esta «cópia de L. Xavier Barbosa». [CABRAL, 1984 (I): 124]

 [***] Em rodapé (n.º 21), Barbosa informa:
«A narrativa do passeio a Braga com tão bom humor descripto nas Duas horas de leitura, cuja 1.ª edição, hoje rarissima, é de 1857, sahiu primeiro em folhetins sob o titulo de Peregrinação sobre a face do globo, começando essa publicação no jornal “A Verdade”, e vindo a concluir-se no “Clamor Público”. D’esses jornaes portuenses a transcreveu a “Aurora do Lima” nos seus n.os 81, 82, 84, 85, 87, 121, 122, 123 e 124 respectivam[en]te de 5, 8, 12, 15, 19 e 22 de Julho e 7, 9, 11 e 14 de Outubro de 1856.» [BARBOSA, [1919]: 21]
Sobre colaboração de Camilo com o jornal portuense O Clamor Público, (re)ver “post”.

[****] «As Cenas da Foz começaram a publicar-se no n.º 132 (de 4/XI/1856) d’A Aurora do Lima, com o pseudónimo de João Júnior». [CABRAL, 1984 (I): 125].
À publicação destas Cenas, pelo jornal (em folhetins) e pela empresa A Aurora do Lima (em livro), dedicarei, oportunamente, “posts” e/ou artigos.

[*****] Este último parágrafo não se encontra nas Cem Cartas, porque, «solto numa lauda. No entanto, no manuscrito está bem visível a chamada: “volta”. L. Xavier Barbosa “não reparou” na advertência.» [CABRAL, 1984 (I): 124]
O mesmo ilustre camilianista termina o seu comentário a esta carta, com as seguintes notas:
«No final, Camilo fala de Arnaldo Gama. Este escritor secundava n’O Porto e a Carta os ataques sem quartel vibrados pelos redactores d’A Aurora do Lima contra o famigerado Visconde de S. Paio.
Ao transcrever esse artigo, que aparecera n’O Porto e a Carta (n.º 229, de 4/X/1856), a Aurora antecede-o de uma nota, onde mais uma vez a zargunchada ao Governador Civil está em relevo:
“ O Sr. Visconde de S. Paio, se pudesse entrar a sangue frio na rigorosa análise dos seus actos, ou tivesse a seu lado um amigo verdadeiro do seu nome e da sua honra, havia por força de horrorizar-se do negro aspecto que apresenta a sua situação social e política. Etc. (in A Aurora do Lima, n.º 121, de 7/X/1856).» [CABRAL, 1984 (I): 124 e 125]
Sobre quem foi este Visconde de S. Paio, cujo nome era Gaspar de Azevedo de Araújo e Gama, (re)ver “post”.

Até ao próximo!
E continue a (re)ler Camilo!

Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.

Sem comentários:

Enviar um comentário