domingo, 2 de julho de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (30)]


Depois do incidente da recusa em vir para Viana, a fim de dirigir e redigir, editorialmente, o jornal A Aurora do Lima, Camilo prossegue a troca de correspondência com José Barbosa e Silva (JBS), embora mais breve. Por enquanto. O excerto seguinte é da carta datada de 03 de outubro de 1856, a que foram suprimi, apenas, os habituais segmentos de saudação/cumprimento inicial abertura e de despedida.

13.ª)
Remeterei só artigos enquanto tiveres a Peregrinação para transcrever, se quiseres conclui-la, como entendo que farás.[*]
Vejo que vais publicando os teus bem escritos artigos sobre a política militante. É indispensável que enchas esse vácuo.[**] O que dizes do meu auxílio? Talvez seja inferior ao que esperavas; mas o jornal é pequeno e não dá largas para muito mais [.][***]
{CABRAL, 1984 (I): 122. Respeitada grafia da edição consultada.
Não transcrita em BARBOSA. [1919]}.

[*] Camilo informa que, enquanto durar a transcrição dos folhetins «Peregrinação sobre a Face do Globo» (caso continue a ser essa a vontade de JBS), apenas enviará artigos para o Aurora. Quer dizer, colaboração com outro género de textos (correspondência e poemas) ficaria para depois. Sobre a história, enquanto narrativa e edição, desta «Peregrinação», (re)ver “post” de 09/06/2017.
Cabe referir que Alexandre Cabral não é preciso quando comenta que a Peregrinação sobre a face do globo foi publicada, no Aurora, «em transcrição d’O Clamor Público». [CABRAL, 1984 (I): 122. Repete a mesma imprecisão em CABRAL, 1989: 243 e 20032: 300] Os folhetins da «Peregrinação» começaram, na verdade, a ser publicados n’A Verdade e, deste jornal portuense, transcritos, depois, pelo jornal de Viana, onde o primeiro saiu no dia 05/07/56 (n.º 81). Camilo deixa, pouco depois, de colaborar no Verdade, como se disse no “post” acima “lincado”. A «Peregrinação» ruma, em setembro, para O Clamor Público, onde são publicados os últimos folhetins e, deste periódico, os mesmos são transcritos no Aurora. O último folhetim (o 10.º capítulo) saiu, no jornal de JBS, a 14/10/56 (n.º 124). [Cf. ANSELMO, 1989: 2 e 1993: 115]

[**] Camilo elogia os «artigos sobre a política militante» de JBS. Recorde-se que JBS, coproprietário e corredator do Aurora, era militante do Partido Histórico (1852-1876), mais tarde chamado Progressista, quando, em 7 de Setembro de 1876, se fundiu com o Partido Reformista. [Para uma brevíssima descrição política deste(s) partido(s), cf. AQUI.]

[***] O auxílio que o Escritor deu e sobre o qual pede opinião diz respeito – presumo – à sua colaboração no Aurora. A pergunta, contudo, não deixar ser um pouco estranha. Na carta anterior, confessava ele ao amigo vianês: «Animou-me o teu aplauso, e continuarei a ser muito regular, não faltando com 2 correspondências, dois artigos, e alguma poesia própria de folhetim.» Será que também estas duas cartas estão cronologicamente trocadas, na edição de Alexandre Cabral? Curiosamente, este conceituado e apreciado camilianista comenta que, tendo visto os respetivos autógrafos, JBS respondeu a estas duas cartas apenas no dia 6 de outubro, quando a primeira é datada de 23/09 e a segunda de 03/10.
Mas também se sabe que o Escritor trocava e/ou esquecia, não raras vezes, nomes, datas, informações… E a correspondência com os amigos não era, em geral, a sua principal preocupação, embora escrevesse muitas cartas, por um lado, a muitos amigos e, por outro, publicasse textos epistolares em jornais. Correspondência, lhes chamava(m). Encontraremos, a seu tempo, no Aurora, vários textos deste género, assinados por João Júnior, principal pseudónimo com que o Escritor assina as suas colaborações neste jornal.

As cartas de Camilo, em torno do Aurora e conexos, para o seu amigo de Viana, vão prosseguir. Até - recorde-se - que se perceba por que razão Camilo chegou a esta cidade, no dia 7 de abril de 1857, para ser o redator principal deste jornal e…

Até ao próximo, então!
E continue a (re)ler Camilo! Por exemplo, as ironicamente divertidas e socialmente críticas Cenas da Foz, assinadas por João Júnior. Que não é um romance único – relembro – mas um volume constituído por duas novelas («livros», lhes chama) autónomas (só o espaço das narrativas é o mesmo): «A Sorte em Preto» e «Dinheiro». Depois de publicados, primeiro, em folhetins, no Aurora (entre 04/11/56 e 10/06/57), saíram, depois, em livro, pela «Empresa» deste jornal, em 1857. A estas Cenas voltarei, em breve. Por isso e…

Referências:
ANSELMO, Artur, 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 9, de 22/02, p. 2. 
---------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I.(Escolha, prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
---------------, 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.
---------------, 20032: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.

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