Cláudio
Basto e Camilo
[Continuação]
03. Três
cartas de Camilo
Continua-se a apresentação – anotada –
de artigos que Cláudio Basto, médico, professor e investigador vianês1,
dedicou a Camilo.
03.2. Carta II
A
segunda carta é recomendação. Ajunta
à simplicidade grata da forma – digna delicadeza. Ei-la{2}:
Transcreve-se,
de seguida, esta carta, com ortografia e pontuação atualizadas, abreviaturas
desenvolvidas, e chamadas para notas consideradas pertinentes, entre chavetas, por
não constarem do autógrafo nem da sua transcrição feita de Cláudio Basto. Por
não corresponder, assim, completamente à leitura que o investigador vianês
reproduz em Três Cartas de Camilo, utiliza-se o tipo «palatino linotype», em itálico:
Meu
amigo!
Este
nome que te dou já vem de 1849. Dezanove anos, meu Branco! O que lá nos fica!
Mocidade, alegria, ilusões, forças, crenças, tudo!
De anos a anos te
vejo de relance, e apenas tenho tido tempo de ver em ti um dos raros rapazes
que restam da plêiade da nossa alegre juventude.{3} Eu passo a maior parte do ano rusticando entre uns pinhais do Minho; a
outra parte flanando ociosamente nas praças de Lisboa. Para lá vou no fim deste
mês, onde me tens como criado e amigo.{4}
Um meu primo, Pedro
Pinto Castelo Branco, empregado na tua secção, ou como se chama, carece da tua
benevolência para que lhe não tirem esse pequeno provento de que depende.
Rogo-te que sejas amigo dele, e lances à minha conta os obséquios que
lhe fizeres. Não duvidei instar a tua benquerença a favor dele, confiado em que
tu serás para ele o que eu seria, dadas iguais circunstâncias, para um teu
afilhado.{5}
{6}
Sê feliz, se podes,
e manda
o teu velho amigo,
Vila
Nova de Famalicão, 05 de dezembro de 1868.
Camilo Castelo Branco.
Cláudio Basto termina esta parte do seu
«folheto», tecendo um brevíssimo comentário sobre o estado psicológico de Camilo:
A desesperança, que se trai no começo desta carta e na eloquente frase do
seu final «sê feliz, se podes»,
vinca-se fortemente nestoutra, breve e intensa, de consolação a Henrique Guilherme Tomás Branco, pelo falecimento de
uma filha (1) […].
_____________________
(1) Na gravura não foi
reproduzida a tarja negra do papel.
À
reprodução desta carta de Camilo, segu(i)ndo a reprodução e leitura de Cláudio
Basto, em Três Cartas de Camilo, será
dedicado o próximo apontamento.
1 Resumo biobibliográfico e outras
referências a Cláudio Basto, em «0. Introdução» AQUI.
Sob o título genérico de «Cláudio Basto e Camilo», foram já publicados, neste
blogue, além do referido, os seguintes apontamentos:
- «01.
– “Notas Camilianas – I”», AQUI.
- «02.
– “Notas Camilianas – II”», AQUI.
- «03.
- «Três cartas de Camilo» e «03.1. –
“Três cartas de Camilo”: “notícia
informativa”», AQUI.
-
«03. «Três cartas de Camilo» e 03.2. – «Carta I», AQUI.
{2} O artigo de Cláudio
Basto é copiado, neste apontamento, na sua versão integral, se bem que
fragmentado em trechos, a que se dará a necessária conexão. Utiliza-se, na sua
transcrição, para ser visivelmente melhor reconhecido, o tipo «arial». A carta
encontra-se reproduzida em BASTO, 1917a: 09-10 (fac-símile zincogravado do
autógrafo) e 11 (transcrição do mesmo). Cláudio Basto volta a escrever, como na
transcrição da carta I, o «q sem til»
– advertiu – «por não haver na tipografia q tilado».
(Re)ler BASTO,
1917a: 06 e/ou AQUI.
A carta II, ocupa páginas
distintas. Apresenta-se, todavia, como no apontamento anterior, em paralelo (zincogravura
vs. transcrição), a fim de se facilitar
a sua eventual leitura comparativa.
{3} Sobre as relações de
Camilo com o destinatário desta carta, seu amigo e contemporâneo, desde a
juventude, (re)ler AQUI, nomeadamente a
nota 2.
{4} No seu excelente Dicionário, sobre a vida e a obra (ativa
e passiva) de Camilo, Alexandre Cabral regista, entre os dados referentes ao
ano de 1868: «[…] Deslocações a Lisboa, Porto, Coimbra e Braga, provavelmente
por causa da sua atividade de bibliófilo/antiquário», para cuja entrada/verbete
remete.
(Re)ler CABRAL,
20032: «CRONOLOGIA», 279.
{5} O «primo», para quem
Camilo pede a manutenção do emprego, a Tomás Branco, na «secção» de que era «diretor de obras
públicas» ‒ a exercer o cargo, então, em Vila Real, desde 1865 ‒ não se chamava
«Pedro», mas sim Isidoro. Cláudio Basto não leu corretamente o nome. Analisado,
com atenção, o grafema camiliano, verifica-se que o «P» maiúsculo, inicial do
nome próprio «Pedro», não é igual ao «P», inicial do apelido Pinto.
Os estudos sobre os
familiares de Camilo, em 1917, por outro lado, ainda não tinham alcançado o
desenvolvimento e a divulgação que vieram a verificar-se depois, sobretudo com
a aproximação do primeiro centenário de nascimento do escritor (1925). O
investigador desconheceria, certamente, que Camilo tinha um primo chamado Isidoro.
Isidoro Pinto
Castelo Branco era filho de Rita Emília da Veiga Castelo Branco (1776-1874) e da
sua relação marital com João Pinto da Cunha (1795?-1850), que viria a ser o seu
segundo marido. Casaram-se em 22/03/1846, dia em que Isidoro e o seu irmão,
primogénito, Manuel Maria, nascido em 1826, foram «reconhecidos e legitimados»,
até então «registados como filhos de pais incógnitos».
(Re)ler CABRAL,
20032: «CASTELO BRANCO, Rita Emília da Veiga», 193-194; e id.: «CUNHA, João Pinto da», 282-283.
Recorde-se que em
1836, depois de ter ficado órfão também de pai em 22/12/1835 ‒ de mãe já o era
desde 06/02/1827 ‒, Camilo e a sua irmã Carolina Rita, mais velha do que ele quatro
anos, foram remetidos para Vila Real, sendo entregues aos cuidados desta tia, então
ainda amante de João Cunha, como seus tutores e administradores dos bens (propriedades
e dinheiro) herdados de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco.
(Re)ler, além das
entradas/verbetes acima referidas/os, entre outras/os aí referenciadas/os, em id.: «BIOGRAFIA», 95; «CASTELO BRANCO,
Carolina Rita Botelho», 183-185; «CASTELO BRANCO, Manuel Joaquim Botelho»,
189-190; «CRONOLOGIA» [anos de 1825 a 1840], 274; «BOTELHO, Domingos José
Correia», 105-106; «MÃE DE CAMILO», 468-469; «VILA REAL», 819-821.
E, além das várias biografias
de Camilo, entretanto publicadas, é de (re)ler, também, CLÁUDIO, 2006. Nesta
obra, Mário Cláudio romanceia a
infância e os antepassados de Camilo, alcunhados de «Brocas», em Vila Real.
{6} Na sua transcrição, Cláudio
Basto não respeitou este espaço.
Bibliografia [grafia
atualizada]
BASTO, Cláudio, 1917: «Notas Camilianas
– I», em Lusa [Ano I, n.º 2, de 01/04, Vol. I]. Viana do
Castelo, p. 13.
------------, 1917a: Três Cartas
de Camilo. Viana do Castelo: Lusa.
------------, 1918: «Notas Camilianas –
II», em Lusa [Ano II, n.º 41 e 42, de 15/11 e 01/12), Vol. II.
Viana do Castelo, pp. 137-138.
CABRAL, Alexandre, 20032: Dicionário
de Camilo Castelo Branco (2.ª ed. «revista e aumentada»). Lisboa:
Caminho. [1.ª ed., 1989]
CLÁUDIO, Mário, 2006: Camilo Borca (romance). Lisboa: Dom
Quixote.
Sem comentários:
Enviar um comentário