CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (35)]
Camilo deve ter estado alguns dias sem
escrever a José Barbosa e Silva (JBS). Este, por sua vez, deve-lhe ter feito
reparo. Tudo parece ter ficado depressa resolvido, entre os dois grandes amigos.
O Escritor envia a JBS, no dia 6 de novembro de 1856, carta onde colhi e de que
transcrevo a referência
18.ª)
Remetto
o art[ig]o bombástico p[ar]a sabbado
– Irá p[ar]a o dia 15 o funebre. Irei
remettendo folhetins p[ar]a todos os n[umer]os[.] Não posso, porem, escrever
sem ver o q[ue] escrevi já publicado. Não me lembra o q[ue] disse. Com o
S[ebasti]am fallamos e concordamos a resp[ei]to do frontispicio. Podes contar
com a m[inh]a assiduidade, posto que estou cançado de escrever, vendo de m[ai]s
a m[ai]s adeante de mim uma velhice pêca de meios e de imaginação. Prevejo um
triste futuro, se não morrer a tempo de bater á porta do coração e achal-o
convertido inteiramente a cabeça. Com cabeça som[en]te não se escreve.
{BARBOSA.
[1919]: 24. Também em CABRAL, 1984 (I): 128.
Respeitada grafia
da edição consultada.
Na transcrição,
desenvolvi formas abreviadas.}
Que
artigo bombástico e que artigo fúnebre?
Foram
ambos publicados, sem assinatura, pelo Aurora
do Lima, nos dias/n.os, respetivamente, 08/134 e 15/137, em
novembro de 1856. O bombástico é um
apelo à participação dos votantes nas eleições legislativas, que se realizavam
no dia seguinte, domingo, 9 de novembro de 1856. Pelo meio, é visado o
governador civil do distrito, principal alvo dos ataques políticos do Aurora do Lima, porta-voz de JBS, que
lutava por o ver substituído. [Sobre este visconde, (re)ver “post”]
Apenas
um parágrafo:
Onde vinha
o sr. visconde de S. Payo dos Arcos angariar suffragios para os nomes indicados
pelo governo? A um districto que o deseja longe dos seus negocios. A um povo
que considera S. Ex.ª um estorvo inabalavel ao seu progresso. A um districto,
finalmente, que a authoridade superior conseguiu revoltar contra todas as suas
maleficas medidas.
[Cf. COSTA, 1928 (IV): 384. Respeitada grafia da edição consultada.]
O artigo fúnebre celebrava, convocando às lágrimas, o terceiro aniversário do falecimento de D. Maria II (1819-1853),
«primeira rainha constitucional», «de saudosíssima memória». [Cf. COSTA, 1928 (IV): 385]
Recorde-se que foi D. Maria II quem, há
oito anos, em 20 de janeiro de 1848, elevara a então Vila de Viana da Foz do
Lima à categoria de cidade, dando-lhe o nome de Viana do Castelo.
O
Sebastiam é Sebastião
[Maria de Andrade e] Sousa, redator e colaborador do Aurora. [(Re)ver
“post”]. E o frontispício é o que
Camilo tinha enviado para a edição, em livro, de Cenas da Foz, pela empresa
do mesmo jornal. [(Re)ver
“post”]
A primeira destas Cenas
saiu em folhetim – recorde-se – no n.º 132 do ainda incipiente periódico
vianês, a 4 de
novembro de 1856. Dois dias antes, portanto, da data da carta de que acima
transcrevi excerto (18.ª referência).
Camilo promete ser mais assíduo na sua colaboração, embora se diga desanimado da escrita. JBS
é capaz de ter chamado a atenção do Escritor para o irregular envio de textos,
a que se teria comprometido.
Até
7 de abril de 1857, dia em que chegou a Viana para, aqui residindo, redigir o A Aurora do Lima, Camilo escreveu, ainda,
mais de uma vintena de cartas. Sobre elas, por isso, hei de fazer outros tantos
”posts”. Pelo menos!
Assim,
até ao próximo!
E
continue a (re)ler Camilo! Por exemplo: Coisas
Espantosas (1862). Recordo ao paciente leitor deste blogue que os primeiros
capítulos deste romance foram publicados, em folhetins, no Aurora do Lima, em 1859, com o título de A Natureza das Coisas.
Referências:
BARBOSA, Luís Xavier, [1919]: Cem Cartas de
Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil
Limitada, Sociedade Editora.
CABRAL, Alexandre Cabral, 1984: Correspondência
de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva – I. (Escolha,
prefácio e comentários de). Lisboa: Horizonte.
COSTA, Júlio Dias da, 1928: Dispersos de Camilo, Vol. IV – Artigos (1846-1889). Coimbra:
Imprensa da Universidade.