sexta-feira, 7 de abril de 2017

CAMILO &M VIANA
[1857: “velha” como “nova” (01)]


Ora façam o favor de ler:

«Chegou hontem de tarde a esta cidade, vindo do Porto, o nosso particular amigo e collega, o Snr. Camillo Castello Branco, que conta, por motivos de saude residir temporariamente nas amenas e risonhas margens do Lima. Este cavalheiro distinguirá com a sua collaboração as columnas d’este jornal.
Seria suspeito á amisade expansiva, tributar como era devido, as boas vindas ao abalisado e primoroso escriptor. A Vianna, á sua illustração, e ao seu nome nas lettras portuguezas, damos nós cordialissimos emboras, pela distinção de tão honrosa visita.
O Snr. Camillo Castello Branco era esperado no caminho por muitos dos seus amigos. Conjuntamente com elle, vinha também o nosso estimavel amigo o Snr. Sant’Anna e Silva, abbade de S. Martinho da Barca, vocação muito esperançosa da eloquencia sagrada, e um dos primeiros ornamentos do pulpito portuense.»
[Cf. Barbosa, [1919]: 78-79. Respeitada grafia da versão consultada que, julgo, será igual à usada no Aurora de 1857.
O mesmo texto, com grafia atualizada (anterior ao AO90), encontra-se também em Anselmo, 1989: 16 e 1993: 119.]

Com esta “nova”, publicada a 08 de abril de 1857, informava o jornal A Aurora do Lima (n.º 195) que Camilo Castelo Branco se encontrava, desde a tarde do dia anterior – 07 de abril de 1857 – em Viana do Castelo, onde tencionava «residir temporariamente».

Faz hoje 160 anos, portanto, que o Escritor começou a viver nas «margens do Lima», oportunidade sendo para, apesar dos pessoais «motivos de saúde», segundo conta a “nova”, «o abalizado e primoroso escritor» distinguir as colunas do ainda jovem periódico (o seu 1.º n.º saiu em 15-12-1855), «com a sua colaboração».


É este um documento relativamente importante sobre as relações estreitas que, a vários níveis e de vária ordem, existiam entre Camilo Castelo Branco e A Aurora do Lima, que o mesmo é dizer (ou melhor dizer), entre o Escritor e os seus grandes amigos vianeses, os irmãos Barbosa e Silva, nomeadamente com o José, o benjamim da família.

Merece, por isso, esta “local”, pelo que revela e – diga-se ,  já então também encobria, leituras que, por um lado, melhor a contextualizem e, por outro, esclareçam alguns aspetos nela referidos, explícita e/ou implicitamente. É o que procurarei fazer, dentro das minhas capacidades e possibilidades, em “posts” futuros.

Referências:
ANSELMO, A., 1989: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Rodapé em A Aurora do Lima, n.º 19, de 03/03, p. 1. O autor fez publicar, neste jornal, numa série consecutiva de 7 rodapés, num total de 28 pp., o texto referido abaixo, em Anselmo, 1993. A notícia da chegada de Camilo a Viana encontra-se reproduzida na p. 16 do quarto rodapé.
-----------------, 1993: «Camilo e “A Aurora do Lima”». Camilo Castelo Branco- Jornalismo e Literatura no Séc. XIX (Colóquio promovido pelo Centro de Estudos Camilianos em V. N. de Famalicão, de 13 a 15 de Outubro de 1988). Estudos Camilianos – 3. V. N. de Famalicão: Centro de Estudos Camilianos; pp. 115-123.
BARBOSA, L. X., [1919]: Cem Cartas de Camillo. Lisboa: Portugal-Brasil Limitada, Sociedade Editora. [À entrada do livro, ao centro de página ímpar (não numerada), encontra-se a seguinte informação, que pode ser entendida como dedicatória: «A propriedade d'este livro pertence ao CULTO CAMILIANO, por generosa dadiva do autor.»]

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