Cláudio
Basto e Camilo
[Continuação]
02. «Notas Camilianas - II»
Em
«Notas Camilianas – I», como se leu no apontamento anterior1,
Cláudio Basto2 transcreveu e comentou, criticamente, a publicação de
uma carta que Camilo havia escrito e enviado a Silva Pinto. Este polígrafo
escritor, porém, ao transcrevê-la num dos seus livros, não reproduziu o
documento autógrafo integralmente.
No
artigo que, sob o título acima referido e que abaixo se transcreve, por inteiro,
o estudioso vianês reproduz ‒ «fielmente», garante ‒ uma outra carta autógrafa
de Camilo também na sua revista Lusa, em finais de 19183. Esta
é uma carta que o romancista dirigiu à sua companheira Ana Augusta Plácido. O autógrafo,
entretanto, havia sido transcrito, primeiro, no jornal O Leme4,
em março de 1913, e, depois, no mesmo ano de 1918, em Cartas de Camilo Castelo (vol. I), coligidas, prefaciadas e
anotadas por M. Cardoso Marta5.
Conhecedor
do manuscrito original, pertencente embora ao farmacêutico vianês Tomás Simões
Viana6, Cláudio
Basto, perante as duas edições da carta, começa por explicar e justificar, ao “milímetro”,
a ausência de «epígrafe» do destinatário (tratamento fático, mais evocativo que
vocativo, em contextos epistolográficos), facto que O Leme, em «Nota da Redação», regista no «fim da transcrição».
Cláudio
Basto termina as segundas notas camilianas, comentando e corrigindo
o «engano» cometido por Cardoso Marta, seu «amigo e ilustre colaborador da Lusa» - assim se lhe refere - ao afirmar,
em rodapé, não poder «adscrever» uma «época» à carta, porque no «jornal de Seide
[…] não consta a data». Por outro lado, comenta a informação que Marta retira d’O Leme, segundo a qual «a carta começa
bruscamente, sem epígrafe, fazendo crer que não esteja completa.»
O
diretor da Lusa censura este «engano
de cópia», uma vez que, n’O Leme, está
«não só a data, como a hora – 2 horas da
noute ‒, o que dá singular expressão carregada à carta, escrita num momento
doloroso.» E conclui afirmando que «a carta está completa», nela não havendo
«mais de o que foi publicado» por si, ainda que, cotejando-se «a transcrição
fiel da carta», reproduzida na revista vianesa, «com as outras reproduções» (no
jornal e por Marta), «vê-se que nestas houve algumas alterações de grafia e
pontuação.»
Sabe-se,
conforme se leu em «Notas Camilianas – I», como Cláudio Basto defendia que, ao
reproduzir-se estas cartas e outras de idêntico valor documental, «ao menos pela primeira vez, convém fazê-lo
escrupulosamente, copiando com toda a fidelidade.»1 Tese esta que, todavia, não o impede de condenar os que
têm «revolvido, de uma forma particularmente bruta», a «vida íntima» de
Camilo, como se lerá em próximo apontamento.
Duas
outras edições desta carta foram recentemente publicadas. Uma delas encontra-se
em Camiliana 3 – Cartas Escolhidas de
Camilo Castelo Branco, obra saída em 2016, organizada por José Viale Moutinho.
A outra foi reproduzida, em fac-símile e transcrita, por Porfírio Pereira da
Silva, em duas publicações, nos finais de 2016 e princípios de 2017, depois de
ter sido apresentada, em 2015, numa comunicação científica, por si proferida,
na Universidade de Coimbra, conforme se lerá abaixo.
A
“fonte” citada por Viale Moutinho, reconhecido camilista, é também o n.º 17 d’O Leme. Este compilador, porém, não terá
lido, com atenção, a transcrição do documento neste jornal. Ter-se-á servido,
apenas, da cópia publicada por Marta, embora não lhe faça referência, se bem
que a obra deste camilista lhe tenha sido «fonte» de outras cartas de Camilo
antologiadas no volume. Por outro lado, também Moutinho, depois de transcrever
a carta sem data, comenta não haver «certeza de se encontrar completa»7.
Mas,
de facto, estava. Como Cláudio Basto, cuidadosamente mostra e demonstra, de
seguida8, em
«NOTAS CAMILIANAS – II
O
Leme, em seu n.º 17, de 6 de Março de
1913 (1.º ano, 2.a série), publica na segunda página uma carta de
Camilo, ‒ na secção Perolas escondidas
e com o sub-título: “Carta de C. Castelo Branco a sua esposa D. Anna A. Placido”{9}.
Ao fim da transcrição,
põe o Leme a seguinte nota:
No autographo não ha epigraphe nem na assignatura
escreveu o romancista os apelidos de que usava (Castello Branco).
(Nota da Redacção).
Pude
ver o autógrafo por amabilidade do sr. Tomás Simões Viana, desta cidade, a quem
êle hoje pertence. Reproduzirei fielmente a carta, conservando-lhe a disposição
e o número de linhas:
Creio que cheguei ao termo da vida. Resigna-
te, ma querida e ate [sic] á morte adorada
Anna Augusta. Agarra-te á vida q
é a taboa salvadora deste filho que
está ao pe [sic] de mim com a morte estam
pada no rosto. Segue a tua via
de amargura com a coragem q
tens sempre revelado. Fica neste
mundo por alguns anos como
quem se sacrifica ao pai na pessoa
dos filhos. Lembra-lhes mtas
vezes o teu Camillo.
2 horas da noute,
23 de abril de 1879.{10}
É
azul o papel da carta, do tamanho aproximadamente do “de ofício” (ignorando eu
se tal qualidade de papel tem nome especial). Está escrito só de uma face,
linha sim linha não, com margem à direita e à esquerda.
Camilo
começou a carta bastante em cima, encontrando-se o papel cortado na parte
superior. O corte foi praticado, ao que parece, após o coleccionamento da
carta, pois que, na margem inferior, se nota – se me não engano – o vestígio do
número 40, a tinta vermelha, causado
pela dobragem transversal do papel, pelo meio, quando aquela numeração ainda
estava húmida.
¿Haveria,
nessa parte cortada, algumas palavras?
Acima
da primeira linha escrita, há uma em branco, ‒ depois, aproximadamente metade
da margem. Da margem, sem dúvida
nenhuma, ‒ porque o intervalo das linhas é de oito milímetros e para cima da
primeira linha que no papel se vê há onze milímetros. Não tendo Camilo
aproveitado a primeira linha do papel, ¿poderá alguém supor que êle iniciou a
carta na margem? É claro que não; e ainda que isso fosse presumível, tinha de
pôr-se de parte por outra razão: comparando o papel com outro de igual “formato”
(como se costuma dizer), vê-se que lhe foram cortados uns doze milímetros, o que é confirmado pela dobragem do papel,
transversalmente, aproveitando a dobra primitiva que ele tem. A margem superior
foi, portanto, cortada sensivelmente pelo meio. Quem nêle escrevesse teria de o
fazer dêsse meio para cima, e o bastante para que na parte da margem que ficou
se não visse qualquer sinal de letra. Ora tudo isto é absurdo.
Os
argumentos que exponho contrariam também a existência de vocativo, mas só por
si não a rejeitam em absoluto, porquanto era possível, se bem que não provável,
que essa palavra, ou frase simples, fosse escrita no alto, junto ao bôrdo do
papel. O Leme, porém, afirma que não
havia epígrafe na carta, e a afirmativa merece todo o crédito. Em primeiro
lugar, o autógrafo, havendo sido dado, em Fevereiro de 1912, pela neta de
Camilo, D. Raquel Castelo Branco{11}, ao actual possuidor,
conservava-se na família, que, portanto, o conhecia perfeitamente; em segundo
lugar, não se vislumbra motivo para que lhe amputasse, ao autógrafo, o vocativo
que nada podia ter de ocultável.
Juntos,
a estas razões, os argumentos acima expostos, ‒ póde-se concluir que não havia
na carta mais de o que foi publicado.
O
corte da tirazinha na cabeça do papel foi, naturalmente, para impedir que no
autógrafo, oferecido, fosse a marcação (ou coisa que o valha) a que me referi,
‒ deixando nêle assim apenas o que era da mão do Romancista.
*
A
carta, de que venho tratando, foi incluída pelo meu amigo, e muito ilustre
colaborador da LUSA, M. Cardoso Marta no I volume das Cartas de Camilo Castelo Branco (Rio-de-Janeiro, Lisboa – 1918),
página 58-59.
Aí
se lhe pôs a nota:
“¿A
que época poderemos adscrever esta carta? De O Leme, jornal de Seide, 2.a série, n.o 17 (6
de Março de 1913), não consta a data, e assim nas seguintes. Também ali a carta
começa bruscamente, sem epígrafe, fazendo crer que não esteja completa.[”]
Houve
engano de cópia. A data vem n-o Leme
– não só a data, como a hora – 2 horas da
noute ‒, o que dá singular expressão carregada à carta, escrita num momento
doloroso.{12} A carta está completa, ‒ como,
parece-me, deixei demonstrado. Cotejando a transcrição fiel da carta, que a LUSA publica
hoje, com as outras reproduções, ‒ vê-se que nestas houve algumas alterações de
grafia e pontuação.{13}
CLÁUDIO
BASTO.»
Estes
artigos de Cláudio Basto revelam como o seu desconhecimento tem levado a que se
continue a dizer/escrever, por vezes, incorreções e/ou imprecisões sobre algumas
cartas de Camilo, entretanto (re)editadas. Daí se considerar necessária a
republicação, anotada e comentada, destes e de outros estudos que o
investigador vianês dedicou à correspondência epistolar camiliana, em particular à que teve
acesso direto.
O
autor deste apontamento, não teve possibilidade (ainda) de consultar a transcrição
desta carta de Camilo n’O Leme. Mas a
carta original foi, entretanto, publicada, em fac-símile, pelo seu atual
proprietário: Porfírio Pereira da Silva. Este estudioso vianês revelou o
documento na comunicação que, sob o título “Camilo Castelo Branco (1825-1890)
entre o génio-nevropata e a loucura de seu filho Jorge», nas «VI Jornadas Internacionais de História da
Psiquiatria e Saúde Mental», que decorreram em Coimbra, nos dias 11 e 12/05/201514.
Confessando-se «inveterado camilianista» e «camiliano, às vezes», publicou, nos
dois anos seguintes, a referida comunicação-ensaio, no tomo 50 da revista Cadernos Vianenses15, e no seu
blogue «Mukange Books»16.
Apresenta-se,
de seguida, cópia do fac-símile da carta autógrafa de Camilo, tal como se
encontra em «Mukange Books», blogue de onde foi colhida. E, em paralelo, a sua leitura-transcrição,
em grafia atualizada, desenvolvendo-se abreviaturas e atualizando-se pontuação
e formato, por se considerar que a grafologia camiliana, enquanto reflexo do
ser-homem no ser-escritor (e/ou vice-versa), não interessará aos seus leitores, nos dias de hoje.
De facto, como acima referiu Cláudio Basto, esta carta é a «singular expressão» de «momento doloroso», intensamente vivido por Camilo17.
Em próximo apontamento, dar-se-á início à transcrição, integral e fiel, de Três cartas de Camilo, «folheto» que
Cláudio Basto editou e publicou em 1917.
Obs. – À exceção da
cópia de «Notas Camilianas – II», o autor deste apontamento atualiza grafia, em
citações e referências bibliográficas. Informa ainda que, embora a história da etimologia
do topónimo seja Ceide, passa, desde
ora, a escrever Seide, por esta ser a
grafia reconhecida e utilizada por conceituados camilistas e autoridades
locais. A propósito, quando se argumenta(va) que a forma Seide é (era) “respeitar a grafia” camiliana, por que razão não se
escreve, além de outras palavras, o nome completo do escritor, tal como se
encontra nos seus autógrafos - Camillo
Castello Branco?
Notas
e referências
1 (Re)ler BASTO, 1917 e/ou AQUI.
2 Para um
resumo biobibliográfico de Cláudio Basto, (re)ler «0.
Apresentação», onde são indicadas outras referências sobre este
tópico.
3 (Re)ler Lusa [Ano II, n.º 41-42, de
15/11 e 1/12/1918 (Vol. II), p. 137]. Sobre o
fundador, editor, diretor(es) e colaboradores desta revista, (re)ler VIANA
& BARROSO, 2009: 348-349.
4 Com o subtítulo
de «Semanário Humorístico e Noticioso», O
Leme foi um jornal que começou a ser publicado, no dia 18/08/1895, em Seide,
Vila Nova de Famalicão. Foi seu «redator principal» Nuno Plácido Castelo Branco
(Seide, 15/9/1864 – 23/1/1896), segundo filho da
ligação de Camilo com Ana Plácido. A primeira série termina ao n.º 13,
em 17/11/1895, um mês depois da morte da viscondessa Ana Augusta Plácido (Porto, 27/9/1831 – Seide, 20/9/1895).
O periódico
reaparece, como quinzenário, em 23/01/1913, com o n.º 14, dando origem à 2.ª
série. O seu novo diretor e editor é Nuno Plácido Castelo Branco (Seide,
04/03/1889 - Famalicão, 15/12/1967), neto do célebre casal oitocentista, mais
romântico e romanceado. É o 4.º filho do viúvo Nuno Plácido e 3.º da sua nova
companheira Ana Rosa Correia (Landim, 03/03/1862 - Seide, 28/12/1956). Nuno
Plácido (pai), enamorou-se desta landinesca filha de lavradores, ainda a sua
esposa – Maria Isabel Macedo (Braga, 01/05/1865 –
Requião, 30/08/1884) ‒ era viva. Da
união marital de Nuno Plácido (pai) com Ana Rosa nasceram 7 filhos.[(Re)ler
ARAÚJO, 1925: 72. - BRANCO, 1925. - CABRAL, 20032: «CASTELO BRANCO,
Nuno Plácido-II», 192; id.: «CORREIA,
Ana Rosa», 250-251; id.: «(O) LEME», 431-432; id.: «NETOS DE CAMILO», 548. - MARTINS, s/d: 301 e passim. - PIMENTEL, 1901. - RIBEIRO,
1961 (III): 163 e passim.]
5 Cartas
de Camilo Castelo Branco, compiladas por M. Cardoso Marta, é obra constituída
por 02 volumes. O 1.º saiu em
1918. Dele constam cartas de Camilo escritas a 25 destinatários, em capítulos
por ordem alfabética. De Ana Augusta Plácido, transcreve 03 telegramas e 10
cartas, pp. [053]055-067. {A p. [053] indica o título do capítulo – nome do
destinatário. A reprodução das cartas começa na p. 055}. A carta transcrita em
«Notas Camilianas – II», dirigida a Ana Plácido, encontra-se, como refere
Cláudio Basto, nas pp. 058-059. No 2.º volume, saído em 1923, o compilador edita
cartas dirigidas a 26 destinatários, em outros tantos capítulos, também
ordenados alfabeticamente.
6 Formado
em Farmácia pela Universidade do Porto, Tomás Simões Viana (Viana do Castelo,
02/03/1888 – 18/09/1946) exerceu a
atividade de farmacêutico, na ainda hoje chamada Farmácia Simões, fundada por
seu pai, Gaspar Simões Viana, também ele farmacêutico, de quem herdou o
estabelecimento, continuando a sua direção técnica. Homem da cultura,
dedicou-se à arqueologia, etnografia e ao jornalismo. Republicano, exerceu
também cargos políticos, a nível local, no exercício dos quais procurou desenvolver
a cultura dos vianeses, nomeadamente na defesa de instalações condignas para o
Museu e Biblioteca municipais. Para uma biobibliografia desenvolvida deste
«ilustre vianense», (re)ler VIANA, 1997.
7 José
Viale Moutinho organiza, em quatro belos e espessos volumes, uma Camiliana. O terceiro tomo é dedicado à correspondência
de Camilo. Trata-se de uma antologia de 509 cartas, de entre os milhares que o
escritor escreveu a mais de uma centena de destinatários - amigos, conhecidos e
familiares. A carta analisada por Cláudio Basto encontra-se em MOUTINHO (org.),
2016: 62.
8 Informa-se que, tal como se procedeu no
apontamento anterior, também aqui se reproduzirá fielmente este artigo de
Cláudio Basto. A penas o «q» [que] não será fielmente transcrito, com til, por
não se dispor desse grafema, com o referido sinal gráfico sobreposto. Esclarece-se
que informações consideradas pertinentes serão assinaladas, ao longo da
transcrição, por índices entre chavetas { }. O corpo do texto de Cláudio Basto,
transcrito da Lusa, vai entre aspas angulares (« »] e no tipo de
letra «times
new roman»,
para melhor se distinguir dos comentários e anotações do autor do apontamento,
incluindo as remissões entre chavetas, nele inseridas.
{9} Recorde-se que, à data da carta (23/04/1879),
Ana Plácido ainda não era, oficialmente, «esposa» de Camilo. O casamento de
ambos (o segundo para cada um dos amantes) realizou-se apenas em 09/03/1888. [(Re)ler
CABRAL, 20032: «CASAMENTO», 177-178.]
{10} Na Lusa,
a carta de Camilo, tal como Cláudio Basto a transcreveu d’O Leme, ocupa o centro da página, enquanto o corpo do texto restante
está impresso em duas colunas.
{11] Raquel Castelo Branco (Seide, 21/02/1890 – 1952), neta de Camilo e Ana Plácido, é a 4.ª filha de Nuno Plácido e 3.ª de Ana Rosa Correia.
Escreveu o livro Trinta Anos em Seide, sentidamente dedicado
aos avós paternos e aos irmãos. Publicado em 1925, a autora reúne e transcreve
correspondências trocadas entre Camilo e Ana Plácido, dos progenitores com os
filhos Jorge e Nuno, bem com outros amigos do casal. Transcreve, também, textos
literários dos parentes, sobretudo da avó. E ao capítulo III dá o título de
«Recordações do meu tio Jorge», onde fala da vida, comportamentos e dotes
artísticos deste seu parente. Aí reproduz «versos e artigos» de Jorge, bem como
cartas que foi escrevendo ao «Papá», cujas redações revelam também as suas
deficiências, incluindo as de grafia. Acerca da saúde mental - «loucura e
epilepsia» - deste seu parente, Raquel reproduz trechos que Camilo deixou, na
sua obra literária e em cartas a amigos. [(Re)ler BRANCO, 1925: 022 e ss., passim; Cap. III: 129-149]. Sobre os
tópicos aqui aflorados, (re)ler nota 3, acima, e CABRAL, 20032:
«CASTELO BRANCO, Raquel», 192-193.]
{12} O «momento doloroso» a que se refere Cláudio
Basto diz respeito aos sofrimentos que Camilo padecia, devido, por um lado, à
evolução dos seus estados de saúde e, por outro, ao reconhecimento da loucura do
filho Jorge, dos comportamentos extravagantes e irresponsáveis do filho Nuno,
das frequentes desavenças com Ana Plácido, também ela uma mulher doente,
sofrida e sofredora.
Os biógrafos camilistas sempre se referem e interpretam, com maior ou menor fundamento e discutível objetividade, a vida de Camilo como «drama», «desgraça», «tragédia», «tortura», «penitência», «calvário», «sacrifício», «martírio». Em particular, quando passou a viver na casa "alheia" de Seide, que não teve, todavia, como "residência fixa". Eduardo Sucena, nos capítulos «17 / As Doenças de Camilo» e «18 / Aquela Casa Triste» de Calvário e Glória de Camilo (obra a ler criticamente, como sempre todo e qualquer livro), refere e cita os biógrafos que mais atenção dedica(ra)m a estas circunstâncias pessoais, familiares e sociais do biografado. (Re)ler nota anterior, com as referências aí indicadas, bem como, entre outros, BRAGA, 1916: 46-62. – CABRAL, 20032: «CASTELO BRANCO, Jorge
Camilo», 186-187; id.: «São Miguel de
Ceide», 723-725. – CABRAL, 1918: 197-207. – COSTA, 1959: 390-391. ‒ FARIA,
1990. –PIMENTEL, 1921: 51-59. – SILVA, 2016 ou 2017. – SUCENA, 2014: 216-235.
{13} A propósito de certos «melindres» e
«pundonores» de Cardoso Marta, a par de outros «estudiosos e possuidores de
espólios epistolográficos camilianos», relativamente à sua «divulgação» ou
«publicidade» integral, tendo-lhes introduzido ou defendendo, como reais «censores»,
cortes e/ou modificações, (re)ler CABRAL, 1984 (I): 18-22. Este reconhecido
camilista, todavia, não inclui, estranhamente, Cláudio Basto, na lista destes «censores»
de cartas de Camilo. Estranhamente, porque, como acima sumariamente se leu e
lerá em próximo apontamento, Cláudio Basto foi radicalmente contra a divulgação
de «infortúnios melindrosos», «deslizes e anormalidades» de «homens insignes»,
como Camilo, sobretudo quando dados a conhecer, através da sua publicação, a «um público na grande maioria
alarve», que não os sabe estudar, compreender e devidamente apreciar.
14 O autor regista, em nota de rodapé: «Comunicação
apresentada nas VI Jornadas
Internacionais de História da Psiquiatria e Saúde Mental, realizadas em
Coimbra, nos dias 11 e 12 de Maio de 2015, numa organização do Centro de
Estudos Interdisciplinares do Século XX da Universidade de Coimbra – CEIS20 /
Grupo de História e Sociologia da Ciência e da Tecnologia – GHSC/ Sociedade de
História Interdisciplinar da Saúde – SHIS.» [SILVA, 2016: 167]
15 (Re)ler SILVA, 2016.
16 (Re)ler SILVA, 2017.
17 (Re)ler BASTO, 1918: 138 e, acima, notas {11}
e {12}.
Obs. – As
fotografias que ilustram este apontamento foram digitalmente colhidas, em obras abaixo referidas, sendo depois adaptadas a esta publicação.
Bibliografia
[Grafia atualizada]
ARAÚJO, Alberto Veloso de, 1925: Camilo em S. Miguel de Seide. Braga:
Livraria Cruz.
BASTO, Cláudio, 1917: «Notas Camilianas – I», em Lusa [Ano I, n.º 2, de 01/04), Vol. I].
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------------, 1918: «Notas Camilianas – II», em Lusa [Ano II, n.º 41 e 42, de 15/11 e
01/12), Vol. II. Viana do Castelo, pp. 137-138.
BRAGA, Teófilo, 1916: Camilo
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BRANCO,
Raquel Castelo, 1925: Trinta Anos em Seide.
Lisboa: Sociedade Editorial ABC, L.da.
CABRAL, Alexandre, 1984: Correspondência
de Camilo Castelo Branco com os Irmãos Barbosa e Silva (vol. I).
Lisboa: Livros Horizonte.
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Dicionário de Camilo Castelo Branco (2.ª ed. «revista e aumentada»). Lisboa:
Caminho. [1.ª ed., 1989]
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Desconhecido. Lisboa: Livraria Ferreira, L.da.
COSTA, Sousa, 1959: Camilo no Drama da Sua Vida. Porto:
Livraria Civilização - Editora.
FARIA, Emília Sampaio Nóvoa (org.),
1990: Camilo em Landim (Cartas inéditas de Camilo e Ana
Plácido para Alberto Sampaio e António Vicente de Carvalho Leal e Sousa). V. N.
de Famalicão: Câmara Municipal de V. N. de Famalicão. (Col. Estudos Camilianos,
n.º 2).
MARTA,
M. Cardoso, 1918: Cartas de Camilo
Castelo Branco (I). Rio de Janeiro / Lisboa: H. Antunes Editor.
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1923: Cartas de Camilo Castelo Branco
(II). Rio de Janeiro: H. Antunes & C.ª - Editores.
MARTINS,
Rocha, s/d: A Paixão de Camilo (Ana
Plácido). Lisboa: ed./A.
MOUTINHO,
José Viale (org.) 2016: Camiliana: Cartas
Escolhidas de Camilo Castelo Branco (vol. 3). S/l: Círculo de Leitores.
PIMENTEL,
Alberto, 1901: Os Netos de Camilo.
Lisboa: Empresa da História de Portugal.
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1921: O Torturado de Seide (Camilo
Castelo Branco). Lisboa: Livraria Manoel dos Santos.
RIBEIRO,
Aquilino, 1961: O Romance de Camilo
(Vols. I, II e III). Lisboa: Bertrand.
SILVA,
Porfírio, 2016: «Camilo
Castelo Branco (1825-1890) entre o génio-nevropata e a loucura de seu filho
Jorge.» Em Cadernos Vianenses (Tomo 50). Viana do Castelo: Câmara Municipal de
Viana do Castelo, pp. 167-177.
------------, 2017: «Camilo Castelo Branco
(1825-1890) entre o génio-nevropata e a loucura de seu filho Jorge». AQUI.
SUCENA,
Eduardo, 2014: Calvário e Glória de
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VIANA,
Rui A. Faria, 1997: Tomás Simões Viana:
um vianense ilustre. Viana do Castelo: Centro de Estudos Regionais.
(Separata da revista Estudos Regionais,
vol. 17, 1996).
VIANA, Rui A. Faria
& BARROSO, António José, 2009: Publicações Periódicas Vianenses.
Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo.
[NB –
O apontamento publicado hoje, 01/06/2020, é a versão, revista porque aumentada,
de uma anterior, “postada” neste blogue, em 09-05-2020.]