012. Camilo & Frei Bartolomeu dos Mártires
em Doze Casamentos Felizes (1861) [II]
A
segunda referência explícita de Camilo, em Doze
Casamentos Felizes, a Frei Bartolomeu dos Mártires, encontra-se logo no
início do sexto casamento, em dois momentos. O primeiro, mas longo, no
princípio do cap. I. O segundo, mais breve, no princípio do cap. II.
Trata-se
de trechos onde o Escritor mais elogiosamente se refere ao arcebispo, nomeadamente
quanto aos sacrifícios que praticava e a que voluntariamente se sujeitava, ora
como frade beneditino (que nunca quis deixar de ser nem sequer o hábito trocar
pelo de arcebispo) ora como prelado primaz, nas inúmeras visitas pastorais que
fez, mesmo a aldeias topográfica e humanamente mais difíceis, quase inacessíveis.
Como o Barroso, que Camilo também custosamente subiu e desceu, e cuja descrição
a seguir se lê.
[Branco, 1861:
115-117]
[Branco, 1861: 122]
NB1
- Torquemada
(Tomás de) [1420-1498] foi frade dominicano. Foi nomeado inquisidor-geral dos
reinos de Castela e Aragão e confessor da rainha Isabel, a Católica. Chamaram-lhe, por isso, O Grande Inquisidor. Consta que os autos-de-fé que mandou executar
rondam os 2 200. [Cf. Aqui]
NB2 – Frei Luís e
Sousa descreve as visitas de D. Frei Bartolomeu dos Mártires às terras de
Barroso, no Livro III, caps. V e VI. [Cf. Sousa, 1984: 334-339 e 340-344]
E agora, perguntar-me-á, naturalmente, o curioso
leitor: e do feliz casamento que conta?...
Claro
que só Camilo o sabe contar, melhor que ninguém. Dir-lhes-ei, todavia, que,
neste “conto”, dois jovens encontram-se fortuitamente, se enamoram e acabam por
casar. Ele, Bernardo Pires, era um jovem e rico fidalgo liberal do Alto Douro,
que, em 1832, andava a monte, fugido ao corregedor de Vila Real, por razões
políticas. Ferido e doente, chega a Viela e quer atravessar o Tâmega. Teresa,
irmã de António da Mó, barqueiro e dono de uma azenha, meteu-se no barquito,
atravessou o rio e foi buscá-lo. Acolheu-o, na choupana de dois quartos onde
vivia com o irmão. Cedeu-lhe o seu próprio quarto, cuidou dele e tão vigilante
e carinhosamente tratou dele que…
Isso
mesmo: o riquíssimo fidalgo Bernardo casou com a pobre, rude e corajosa Teresa
(que da Mó passou a Pires). Entretanto os ventos políticos
mudaram de rumo. E os dois foram felizes para sempre. É só ler o “conto” (que
não sendo, ainda parece de fadas), para confirmar.
Leituras
BRANCO, C. C., 1861: Doze Casamentos Felizes. Porto:
Tipografia da Revista.
CABRAL, A., 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa:
Caminho.
SOUSA, Frei Luís de, 1984: A Vida de
D. Frei Bertolameu dos Mártires (...). Lisboa: IN-CM.
NB3 – À exceção da
capa de Doze Casamentos Felizes, as restantes fotografias foram recolhidas na internete,
via google/imagens.
NB4 – Este post
continua o anterior,
cuja leitura se recomenda, em virtude de nele se apresentar uma brevíssima
sínteses da vida e obra do Beato D. Frei Bartolomeu dos Mártires, cujo V
centenário de nascimento se celebra neste ano.
David Rodrigues faz muito mais do que seguir o lema de Eduardo Lourenço.Lê, comenta e dá vontade de ler CAMILO. Inesgotáveis,autor e comentador...
ResponderEliminarMuito obrigado, Profª Luísa. Que Camilo é «inesgotável», isso é um facto. Agora o comentador... apenas um leitor incansável da obra do Escritor. Afetuoso abraço.
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