011. Camilo & Frei Bartolomeu dos Mártires
em Doze Casamentos Felizes (1861) [I]
Viana do Castelo está a celebrar o V centenário do
nascimento de uma das figuras mais ilustres, mais queridas e mais veneradas dos
vianeses: Beato Frei Bartolomeu dos Mártires.
Filho de Domingos Fernandes e de
Maria Correia, Bartolomeu nasceu, em Lisboa, na freguesia dos Mártires, a 3 de
Maio de 1514. Ingressou na Ordem de S. Domingos, aos 14 anos, tendo professado,
em 20 de novembro de 1529, com o nome religioso de Fr. Bartolomeu dos Mártires.
Estudante dedicado e aplicado, concluiu os estudos de filosofia, em 1532, e os de
teologia, em 1538. Já docente no Colégio de Lisboa, em Évora e em Lisboa, obteve
o grau de doutor, em Salamanca, com provas públicas, em 17 de maio de 1551. A
par da docência, foi precetor de D. António Prior do Crato.
Eleito arcebispo de Braga, em 3
de setembro de 1559, logo partiu para esta cidade, onde chegou, em 22 do mesmo
mês, tendo sido recebido sem as pompas habituais.
Participa na terceira fase do
Concílio de Trento (1562-1563), onde intervém ativa e polemicamente. Apresentou
268 petições, relacionadas sobretudo com os graves problemas, de vária ordem e
a vários níveis, por que a Igreja Católica então passava, em Portugal e na
Europa, e que eram de urgente correção e reforma. Regressado a Braga, logo
procurou pôr em prática as decisões conciliares tridentinas, divulgando-as, por
escritos, e pregando-as, nas inúmeras visitas pastorais que fez à extensíssima
arquidiocese, que ia do Alto Minho ao Nordeste transmontano. Neste vasto
território existiam, então, 1260 freguesias, cujos fiéis e membros do clero nem
sempre seguiriam os princípios da doutrina cristã e os preceitos do catolicismo.
Foi prelado durante mais de 22
anos. Em 22 de fevereiro de 1582, resigna ao episcopado. Passa a residir no Convento de Santa Cruz (hoje de S. Domingos) de Viana da Foz do Lima, por
ele mandado construir, bem como a igreja que lhe fica anexa, iniciados,
respetivamente, em 1561 e 1562. Faleceu em 16 de julho de 1590. Os seus restos
mortais encontram-se depositados em túmulo situado na capela-mor (lado direito)
da igreja vianesa de S. Domingos.
Tendo levado uma vida de humildade, desprendimento e simplicidade, como arcebispo e como frade, esteve sempre pronto e disponível a, generosamente, socorrer os mais necessitados, desprotegidos e aflitos, ganhando, por isso, ainda em vida, a fama de «santo». O papa Gregório XVI declarou-o Venerável, em 23 de março de 1845. Mais recentemente, a 4 de novembro de 2001, João Paulo II proclamou-o Beato.
Tendo levado uma vida de humildade, desprendimento e simplicidade, como arcebispo e como frade, esteve sempre pronto e disponível a, generosamente, socorrer os mais necessitados, desprotegidos e aflitos, ganhando, por isso, ainda em vida, a fama de «santo». O papa Gregório XVI declarou-o Venerável, em 23 de março de 1845. Mais recentemente, a 4 de novembro de 2001, João Paulo II proclamou-o Beato.
Pelas suas qualidades
religiosas, intelectuais, académicas, morais e sociais, por um lado, e pelo
desenvolvimento que promoveu em Viana, o Beato D. Fr. Bartolomeu dos Mártires é
justamente considerado uma das mais ilustres figuras de Viana do Castelo.
Abordarei, esta questão (patriotismo
ou não patriotismo de Frei Bartolomeu dos Mártires, surgida na segunda metade
do século XIX), em posts posteriores.
[Branco, 1861: 29]
Este primeiro casamento, feliz, como os restantes onze, apesar das contrariedades (diferenças
de idades, de status social, de estado
e até de religião) dá-se entre a viúva D. Cândida de Lima e Luís de Cernache.
Cândida era filha de um «grande fidalgo pobre» e viúva «de um marido velho, que
lhe deixou boa casa, e muitas frescuras de annos, e optima disposição para se
gosar de tudo isto.» Até à morte do pai, recolheu a um convento. Mas dele logo
saiu, indo «residir em uma das suas quintas», vivendo «sozinha com as suas
criadas.» Um dia, porém, bate-lhe ao portão Luís, «homem de trinta annos
feitos». Fora passar uns tempos a casa de uns tios a Trás-os-Montes, na
esperança de uma substancial herança. Ia recomendado a Cândida, por uma carta de
uma tia desta, que vivia no Porto. [Branco, 1861: 13,14 e 15]
O par
encontrou-se e ficaram logo apaixonados. Mais ela por ele que ele por ela. A
tal ponto que estava disposta a acompanhá-lo para Lisboa, decisão que ele recusou.
Está mesmo a ver-se, quem conhece a obra de Camilo, no que isto deu. E se não
se vê, façam o favor de ler este «Primeiro Casamento»: ficarão a saber que Luís,
regressado da capital, procurou Cândida, indo encontra-la num convento, tal
como se refere o fragmento acima apresentado, casa onde ela, desgostosa, se
tinha recolhido, logo quando Luís partira para Lisboa.
Sempre lhes
direi, todavia, que o casal de casados foi visto e discretamente admirado por
um dos narradores (Camilo, certamente, que, porém, ouvira a história deste
casamento feliz, da boca de António Joaquim, amigo do três). O narrador
principal vira e admirara o ainda apaixonado casal («dos dous casados – não
podiam ser outra cousa»), a passear amorosamente «naquelas frescas e saudosas
carvalheiras de Santo António das Taipas.» (O narrador Camilo desculpa-se da
curiosidade e do que viu, uma vez que ele «não podia ser visto, acocorado como
estava entre a ramagem de uns amieiros, pescando [bogas] á cana», no rio Ave.
[Branco, 1861: 10 e 12]
Será
necessário identificar «o historiador de frei Bartholomeu dos Martyres»,
referido no fragmento?!...
Nos dois próximos
posts deste blogue abordarei outras
referências explícitas do Escritor ao arcebispo bracarense. Por isso,
[Continuará]
NB - Em todas as citações, respeitei a grafia das edições consultadas.
Leituras
AA.VV., 2014: D. Frei Bartolomeu dos Mártires (Colectânea de Textos). Viana do Castelo: Câmara Municipal de Viana do Castelo. (Org. de Rui A. Faria Viana).
BRANCO, C. C., 1861: Doze Casamentos Felizes. Porto: Tipografia da Revista.
CABRAL, A., 1981: Polémicas de Camilo Castelo Branco (Vol. V). Lisboa: Horizonte.
----------------, 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.
SOUSA, Frei Luís de, 1984: A Vida de D. Frei Bertolameu dos Mártires (...). Lisboa: IN-CM.
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