segunda-feira, 15 de setembro de 2014


012. Camilo & Frei Bartolomeu dos Mártires

          em Doze Casamentos Felizes (1861) [II]


A segunda referência explícita de Camilo, em Doze Casamentos Felizes, a Frei Bartolomeu dos Mártires, encontra-se logo no início do sexto casamento, em dois momentos. O primeiro, mas longo, no princípio do cap. I. O segundo, mais breve, no princípio do cap. II.

Trata-se de trechos onde o Escritor mais elogiosamente se refere ao arcebispo, nomeadamente quanto aos sacrifícios que praticava e a que voluntariamente se sujeitava, ora como frade beneditino (que nunca quis deixar de ser nem sequer o hábito trocar pelo de arcebispo) ora como prelado primaz, nas inúmeras visitas pastorais que fez, mesmo a aldeias topográfica e humanamente mais difíceis, quase inacessíveis. Como o Barroso, que Camilo também custosamente subiu e desceu, e cuja descrição a seguir se lê.



[Branco, 1861: 115-117]

[Branco, 1861: 122]

NB1 - Torquemada (Tomás de) [1420-1498] foi frade dominicano. Foi nomeado inquisidor-geral dos reinos de Castela e Aragão e confessor da rainha Isabel, a Católica. Chamaram-lhe, por isso, O Grande Inquisidor. Consta que os autos-de-fé que mandou executar rondam os 2 200. [Cf. Aqui]
NB2 – Frei Luís e Sousa descreve as visitas de D. Frei Bartolomeu dos Mártires às terras de Barroso, no Livro III, caps. V e VI. [Cf. Sousa, 1984: 334-339 e 340-344]



       E agora, perguntar-me-á, naturalmente, o curioso leitor: e do feliz casamento que conta?...
       Claro que só Camilo o sabe contar, melhor que ninguém. Dir-lhes-ei, todavia, que, neste “conto”, dois jovens encontram-se fortuitamente, se enamoram e acabam por casar. Ele, Bernardo Pires, era um jovem e rico fidalgo liberal do Alto Douro, que, em 1832, andava a monte, fugido ao corregedor de Vila Real, por razões políticas. Ferido e doente, chega a Viela e quer atravessar o Tâmega. Teresa, irmã de António da Mó, barqueiro e dono de uma azenha, meteu-se no barquito, atravessou o rio e foi buscá-lo. Acolheu-o, na choupana de dois quartos onde vivia com o irmão. Cedeu-lhe o seu próprio quarto, cuidou dele e tão vigilante e carinhosamente tratou dele que…
        Isso mesmo: o riquíssimo fidalgo Bernardo casou com a pobre, rude e corajosa Teresa (que da Mó passou a Pires). Entretanto os ventos políticos mudaram de rumo. E os dois foram felizes para sempre. É só ler o “conto” (que não sendo, ainda parece de fadas), para confirmar.



Leituras
BRANCO, C. C., 1861: Doze Casamentos Felizes. Porto: Tipografia da Revista.
CABRAL, A., 1989: Dicionário de Camilo Castelo Branco. Lisboa: Caminho.
SOUSA, Frei Luís de, 1984: A Vida de D. Frei Bertolameu dos Mártires (...). Lisboa: IN-CM.

NB3 – À exceção da capa de Doze Casamentos Felizes, as restantes fotografias foram recolhidas na internete, via google/imagens.
NB4 Este post continua o anterior, cuja leitura se recomenda, em virtude de nele se apresentar uma brevíssima sínteses da vida e obra do Beato D. Frei Bartolomeu dos Mártires, cujo V centenário de nascimento se celebra neste ano.

2 comentários:

  1. David Rodrigues faz muito mais do que seguir o lema de Eduardo Lourenço.Lê, comenta e dá vontade de ler CAMILO. Inesgotáveis,autor e comentador...

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    1. Muito obrigado, Profª Luísa. Que Camilo é «inesgotável», isso é um facto. Agora o comentador... apenas um leitor incansável da obra do Escritor. Afetuoso abraço.

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